Jean Paul Terra Prates, que foi eleito nesta quinta-feira (26) presidente da Petrobras é um desses casos de um executivo bem informado que vê oportunidades onde ninguém vê, constrói um discurso novo e se dá bem investindo numa rede de contatos estratégicos.
Prates já era um técnico com experiência no setor de energia quando chegou no Rio Grande do Norte com a proposta de aproveitar o potencial eólico do estado, dono de um das três melhores 'jazidas de vento' do Brasil.
Em 2000, ele procurou o então governador do RN Garibaldo Alves Filho que o ouviu com extrema atenção, mas não levou a sério suas ideias. Ele se propôs a trabalhar de graça para formular um modelo energético para o estado que então era o segundo produtor de petróleo em terra do Brasil, com uma boa receita de royalties. Mas Alves Filho só queria mesmo era ser importante para a Petrobras.
Eleita governadora, a ex-prefeita de Natal Wilma de Faria resolveu apostar em Prates. Em 2003, a sua proposta de desenvolvimento para o setor energético, com fontes renováveis e a revitalização do setor de petróleo, foi adotada pela nova governadora.
Prates percebeu que o futuro da indústria petrolífera no RN não existiria se a exploração do mar crescesse, pois os campos do RN estavam maduros.
Ele se mudou para o RN, fixou residência em 2005 e transferiu suas empresas para estado. Uma delas, fundada em 2000, tinha um nome pomposo Carcará Petróleo Ltda. E ela se propunha explorar petróleo no mar. Outra, a Bioconsultants Consultoria em Recursos Naturais e Meio Ambiente Ltda. foi o veiculo que ele usou para levar projetos de energia eólica para o RN.
Mas uma coisa todo mundo reconhece: à frente da secretaria de Energia do Rio Grande do Norte, em menos de 3 anos, ele levou o estado à autosuficiência energética, atraindo investimentos em parque eólicos para o RN.
Articulado no meio empresarial do setor de energia, ele conseguiu ainda no primeiro governo Lula a ampliação da Refinaria Potiguar Clara Camarão (em Guamaré), que era um projeto piloto para produção de querosene de aviação, que virou uma planta com capacidade de produzir 10 mil litros de QAV por dia. A refinaria ajudou o Nordeste a importar menores quantidades do combustível. Clara Camarão processa o petróleo retirado em terra no RN e pela Petrobras no mar.
Nos oito anos de Wilma de Faria, Jean Prates ajudou o estado a virar uma espécie de Meca da produção de energia eólica no Nordeste, disputando com o Ceará e Piauí, e a seguir com Bahia e Pernambuco. O sucesso da proposta levou para o estado grandes players do setor.
Pode-se dizer que o novo presidente da Petrobras, de fato, foi o responsável pelo projeto de transformar o RN num estado que saiu do zero e, em poucos anos, atingiu a condição de exportador regional de energia e referência no setor de energia renovável, num momento em que o setor de petróleo e gás, e a própria Petrobras, não se interessavam por isso.
O RN tem hoje, segundo sua Secretaria de Desenvolvimento Econômico , 224 empreendimentos em operação, com capacidade de produzir até 6,8 gigawatts. Além disso, há ainda 63 parques eólicos em construção e 85 já contratados.
Da eólica para solar foi um pulo. Quando em 2019, a Aneel fez o leilão de energia A-6, garantiu 12 novos parques eólicos e duas usinas fotovoltaicas (solares) em cinco municípios do Rio Grande do Norte.
Os empreendimentos serão instalados em até seis anos e entram em operação, ou seja, começam a fornecer energia, em janeiro de 2025, de acordo com os contratos negociados.
A instalação dos parques e usinas deve gerar investimentos de R$ 1,12 bilhão no estado, sendo 73% desse valor pela fonte eólica. Foi o começo de uma onda de investimentos em solar que fez do RN o quarto maior estado em projetos de novos parques solares, com 6,7 gigawatts em construção.
Como presidente do Sindicato das Empresas do Setor Energético do RN (SEERN) e do Centro de Estratégias em Recursos Naturais e Energia (Cerne), Jean Paul Prates se aproximou da política local e do PT do RN, partido que entrou apenas em 2013.
Ele ficou assessorando a então deputada Fátima Bezerra, que o colocou na primeira suplência quando disputou o senado. Eleita governadora, Fátima Bezerra deu quatro anos de mandato a Jean Paul Prates.
Apesar de estar há apenas 10 anos no partido, a ida de Jean Paul Prates está sendo festejada pelo PT porque ele foi se aproximando do partido e, na verdade, foi o técnico que passou a ajudar o partido depois da crise da Petrobras e da Lava Jato, por pensar estratégias.
Tanto que a Federação Única de Petroleiros (FUP) saudou sua ida para o comando da empresa como um agente da retomada do papel da empresa no papel de indutora do desenvolvimento econômico e social do País.
Mas o maior desafio de Prates não será tocar a Petrobras, uma empresa com planos de investimentos anuais de US$ 15,6 bilhões e um endividamento de US$ 54,3 bilhões, segundo os dados mais recentes divulgados.
O seu maior desafio é atender às expectativas de Lula quanto à atuação da empresa de acordo com sua visão. E que acha que a empresa tem que abrasileirar sua política de preços, embora ninguém saiba o que isso quer dizer.
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