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Proposta de adição de mais biodiesel no diesel abre guerra entre produtores rurais, transportadores e distribuidores

A característica química desse biodiesel gera problemas como o de criação de borra, com alto teor poluidor.

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Fernando Castilho

Publicado em 16/03/2023 às 14:55 | Atualizado em 16/03/2023 às 15:03
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Liderados pela Confederação Nacional do Transporte (CNT), ao menos nove entidades, entre elas a Brasilcom, Anfavea, Fenabrave e Associação Nacional do Transporte de Cargas (NTC & Logística) estão se posicionando contra a pressão dos produtores de biodiesel para uma elevação do percentual de óleo vegetal adicionado ao óleo diesel que no Brasil está fixado em 10%, um dos maiores volumes adicionados ao combustível no mundo.

O principal argumento da CNT é que atualmente o custo do óleo vegetal produzido a partir de soja e demais biomassas praticado por produtores e importadores, é de R$ 5,12, o litro (primeira semana do mês) enquanto o litro do óleo diesel comum (S-10) custava R$ 4,07, portanto, é 25,7% maior que o combustível entregue pela refinaria.

Isso quer dizer que um aumento no teor do combustível usado pelos ônibus, por exemplo, vai impactar no custo dos serviços prestados pelas empresas operadoras de transporte urbano pressionando os preços das passagens.

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O Brasil, entre outros motivos pela sua extraordinária produção de soja, adiciona 10% na mistura quando nos países europeus, por exemplo, o percentual de mistura autorizado é de 7%. No Japão, Estados Unidos e Argentina, o teor de biodiesel é de 5% e no Canadá, varia de 1% a 5%. O Brasil é o país que mais utiliza biodiesel a partir de óleo de soja que responde por 95% da oferta para a adição.

Entretanto, existem questões importantes, além do preço e seus impactos numa eventual Conselho Nacional de Política Energética (CNPE) para que se eleve o percentual do biodiesel adicionado à mistura no óleo diesel comercializado no Brasil. Elas estão relacionadas à própria qualidade do óleo entregue às distribuidoras que só agora estão sendo tornados públicos.

É que o biodiesel produzido hoje no Brasil é o de base éster. E a característica química desse biodiesel gera problemas como o de criação de borra, com alto teor poluidor. Esse sedimento danifica peças automotivas, bombas de abastecimento, geradores de hospitais, máquinas agrícolas e motores.

Segundo a CNT, com a mesma soja e demais biomassa que se faz o biodiesel de base éster é possível fazer o diesel verde (HVO) sustentável e funcional. Mas quem produz o biodiesel não quer o HVO. E os responsáveis pela produção de biodiesel buscam empurrar essa realidade para debaixo do tapete.

As acusações das entidades que compram e distribuem o diesel com adição de biodiesel vão mais longe,

Segundo elas são os donos de postos de combustíveis, que além dos problemas que enfrentam nas bombas, encaram a ira de motoristas que abastecem com a mistura de biodiesel e voltam para reclamar de pane em seus veículos, como se o combustível estivesse adulterado.

Segundo o documento do setor de transportes, o Brasil deve olhar para a experiência mundial. “Não há mais tempo para ‘achismos’ (qual é a mistura ambientalmente mais viável, afinal?). Nem é momento, diante de tantas dificuldades já enfrentadas, de o país se curvar aos interesses econômicos de um setor que, sob o falso pretexto socioambiental, só quer lucrar mais”.

Os desentendimentos entre os transportadores, distribuidores e motoristas com a qualidade do diesel não são de hoje. Ate porque enquanto o setor debate o biodiesel a empresa ja pesquisa o disel R5 que será o diesel mais limpo do mercado.

A própria Petrobras - que em 28 de fevereiro reduziu o preço médio de venda para as distribuidoras de R$ 4,10 para R$ 4,02 por litro - tem o mesmo comportamento em realção ao diesel que tem com o alcool anidro que é adicionado à gasolina. Usa a mistura por que é obrigada. Mas gostaria mesmo de vender seu diesel puro. Até porque está investindo fortmente na melhoria na qualidade do seu diesel. 

No mês passado, a empresa informou que, considerando a mistura obrigatória de 90% de diesel A e 10% de biodiesel para a composição do diesel comercializado nos postos, a parcela da Petrobras no preço ao consumidor será, em média, R$ 3,62 a cada litro vendido na bomba. A mistura de 10% represneta 85% dos custos do diesel entregue para o mercado.

A produção do S-10 atualmente representa 50% da produção total de diesel da Petrobras e a previsão é que chegue a praticamente 100% até 2025. O Diesel S-10 possibilita aos veículos utilizarem tecnologias mais modernas e assegura a redução de emissões de material particulado em até 80% e de óxidos de nitrogênio em até 98%.

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