Fechamento da antiga Coperbo marca fim da primeira fase da industrialização moderna de Pernambuco

O fechamento da Coperbo tem um significado especial para Pernambuco que inovou no modelo de capitalização para sua implantação com Cid Sampaio.

Publicado em 07/08/2024 às 15:50 | Atualizado em 07/08/2024 às 15:51

O encerramento da unidade no Cabo de Santo Agostinho da Arlanxeo, joint venture entre a alemã Lanxess e a saudita Saudi Aramco marca o fim da primeira fase da industrialização de Pernambuco ancorada num salto tecnológico que transformaria o álcool em um novo produto químico com maior valor agregado e que poderia ser o embrião de um novo pólo de produtos químicos no Nordeste.

O modelo conceitual desenhado pelo então governador e industrial sucro-alcooleiro Cid Sampaio fazia sentido. Usar o álcool produzido na Zona da Mata de Pernambuco num produto seria a base para a produção de borracha sintética cuja aplicação se espalha por uma grande cadeia industrial.

Matérias primas

Mas a Coperbo não virou uma central de matérias primas. Ela até recebeu a produção de uma empresa estatal que deu origem a um novo pólo urbano ao sul de Pernambuco no município do Cabo de Santo Agostinho, a Destilaria Central Presidente Vargas, pertencente ao Instituto do Açúcar e do Álcool e até gerou uma nova empresa no setor a Companhia Alcoolquímica Nacional, mas não conseguiu engrenar uma cadeia de valor.

O setor sucro-alcooleiro continuou produzindo o que já produzia e concentrando suas vendas em produtos derivados de cana-de-açúcar como o etanol, o melaço e o açúcar demerara com suas cotações cíclicas. E a Coperbo virou apenas mais um cliente das usinas.

A Coperbo também foi o caso de capitalização popular a partir da venda de bônus no varejo, mas ainda assim não conseguiu fazer essa capitalização a base de investimentos para novas plantas do ciclo de produtos derivados de borracha.

Talvez pela falta de visão dos governadores que sucederam a Cid Sampaio que não entenderam a proposta da companhia.

Camaçari e Triunfo

A chegada dos novos pólos petroquímicos da Bahia (Camaçari) e do Rio Grande do Sul (Triunfo), essencialmente, por força de sua articulação política de ambos, se encarregou de abortar a ideia de um pólo químico industrial em Pernambuco a partir do etanol.

O sucesso de Camaçari que na década de 70 praticamente sugou todos os recursos do sistema do antigo Finor para a construção de uma central de matérias primas a partir do petróleo transformou a Coperbo em coadjuvante e empresa satélite. Ele foi federalizado e passou a usar o butadieno para fazer a mesma borrava sentença agora derivada de petróleo. E ganhou um duto de produtos derivados de petróleo a partir do porto de Suape. Virou a Petroflex.

Curiosamente, o mercado de produção de derivados de borracha sempre lhe proporcionou um bom volume de vendas de seu produto até que foi adquirida pela gigante alemã Lanxess, que em 2016 se juntaria com a saudita Saudi Aramco para formar a Arlanxeo, em Haia, Holanda.

Negócio novo

A Arlanxeo herdou um negócio que tinha duas plantas no Brasil, um mercado cuja indústria de pneus justifica seu negócio embora hoje seja um dos principais fornecedores mundiais de elastômeros sintéticos.
Ela opera vinte unidades de produção em nove países, fornece aos clientes em todos os continentes produtos de alta qualidade Sendo especializada no desenvolvimento, fabricação e distribuição de borracha de alto desempenho usada nas indústrias automotiva e de pneus, na indústria elétrica, na construção e na indústria de petróleo e gás.

Isso não quer dizer que o negócio da antiga Coperbo (aliás, esse ainda é nome pelo qual a empresa é conhecida no Nordeste) tenha se inviabilizado. Mas é que com os investimentos em novas tecnologias ela não tem mais como ser competitiva com a sua coligada gaúcha. Mesmo que protegida pelo sistema de incentivos fiscais.

Segificado emotivo

O fechamento da Coperbo porém tem um significado especial para Pernambuco que quando de sua construção inovou até mesmo no modelo de capitalização para sua implantação pelo visionário Cid Sampaio. Porque ela sempre foi vista como a empresa mãe de todas as empresas químicas que se instalaram no Nordeste, inclusive na Bahia com a Sudene.

Ela formou e exportou profissional e deu referência de trabalho para professores das universidades na área de química industrial. Mas estava sozinha. Ou seja, não integrava uma central de matérias primas. Talvez porque o empresário de Pernambuco tenha decidido entrar no negócio.

Curiosamente, isso aconteceu depois das experiências de implantação da atual Indorama na área de polímeros para PET e da PetroquimicaSuape que acabou sendo vendidas para o grupo mexicano Alpek e que descontinuou a sua planta anexa de fios e da implantação da Refinaria Abreu e Lima cujo nível de corrupção agregou mais um problema a idéia de Pernambuco em ser um pólo químico.

Outros caminhos

No fundo, o fechamento da Arlanxeo é mais um exemplo da falta de capacidade da economia de Pernambuco de se reinventar na área industrial em cima de bases de empresas de capital intensivo. Talvez porque sua cadeia industrial sendo uma das mais diversificadas do Nordeste (embora sem ser com base em mega investimentos acabe despertando interesses noutros negócios, inclusive na área industrial.

Afinal do cimento ao vidro, da cerâmica à indústria de alimentos, sem falar nos setores de serviços com o varejo e os pólos de TI e médico, o estado está sempre se reinventando. Prova disso é que na região é a única que conseguiu fechar a cadeia de proteína com plantas de produção de derivados de carnes de frango, boi, bovino, peixe e ovos mesmo sem ter indústria pesqueira, produção de grãos e grandes áreas de pastagens.

 

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