Apesar do discurso de sustentabilidade empresas ainda não apostam em fundos ancorados em projetos ambientais

Brasil tem poucos fundos ambientais dos 1.400 ofertados o mercado apenas 90 tem esse perfil e que somam R$16 bilhões numa indústria de R$9 trilhões.

Publicado em 09/10/2024 às 17:10

Tema de uma das rodadas do 25 Congresso do IBGC a questão do papel das finanças na agenda de sustentabilidade ainda revela-se um assunto que é pouco conhecido não apenas pelos investidores, especialmente pela indústria de fundos cujo conhecimento sobre a questão ainda é considerado raso pelos bancos, companhias de investimento e pelas empresas que ainda focam suas aplicações no curto prazo comprando título mais rentáveis.

Para se ter uma ideia do caminho que os investimentos das companhias que se dizem interessadas em ter nas suas carteiras títulos atrelados a projetos ambientais basta dizer que dos 1.400 ofertados o mercado apenas 90 tem esse perfil e que somam apenas R$16 bilhões numa indústria de R$9 trilhões.

O CEO Sulamérica Investimentos, Vida e Previdência, Marcelo Mello uma gestora de R$80 bilhões reconhece que apesar das afirmações esse é um longo caminho dos investidores e dos profissionais de mercado. Nós achamos que essa é uma realidade que está dada, mas observamos que não conseguimos avançar na velocidade que a questão é que a indústria terá que se preparar começando em casa.

Segundo Marcelo Mello, muito breve os bancos terão de contratar engenheiros com experiência florestal, professores e consultores de projetos ambientais para ajudarem os operadores a ter conhecimento sobre o tema que reconhecem ser muito baixo.

E essa tarefa internamente será um desafio para ter pessoas que acreditem nos títulos que ancoram esses projetos e que, naturalmente, precisam se de longo prazo e ter uma remuneração de rentabilidade e prêmio aos analistas menores.

Mas essa realidade terá que vir do executivo de finanças (CFO) o profissional que tem assentos em todas as mesas de decisão das empresas porque falar em apoiar projetos ambientais apesar de ser um realidade já dada vai precisar de dinheiro como avalia a Silvia Vilas Boas, Vice-presidente de Finanças, Estratégia, Governança Executiva e Escritório de Transformação da Natura cuja empresa está há 25 anos na Amazônia e que está conseguindo colocar títulos com essa foto e prevendo menor remuneração aos investidores.

A executiva reconhece que uma empresa com o perfil da Natura tem mais facilidades de captar recursos para projetos que ancoram a atenção na ponta, mas afirma que essa terá que ser um compromisso das empresas. E terá que passar o movimento do compliance para ser uma atitude da companhia.

Vilas Boas e Marcelo Mello falaram para uma plateia que está tendo essa realidade nas salas de reuniões quando cresce a pressão para que as empresas se apresentem como apoiadoras de projetos socioambientais. E eles não tem meias palavras para dizer que no ritmo atual da oferta de capital o Brasil não tem como avançar.

Para o CEO da Sulamérica Investimentos há interesse, mas a questão da rentabilidade de um título hoje disponível ainda está atrelada ao curto prazo. E será preciso que o mercado atue para ampliar o nível de conhecimento sobre essa aplicação. O que hoje está longe do que está sendo pensado.

Para Silvia Vilas Boas existem novas abordagens que desafiam as empresas que até se impressionam por ter na carteira títulos com propostas ambientais. Mas para ela a realidade impõe outras contas além dos indicadores que mostram a saúde financeira e caixa da empresa.

Para ela, será necessário mudar a visão de como uma empresa faz e apresenta esses investimentos a começar internamente e que possa mostrar como esses investimentos provocam impacto regenerativo. E isso exige da empresa entender que apostar em projetos sócio ambientais também podem ser apresentados como inovação e não apenas como uma ação de apoio à questão ambiental.

Ele lembrou que durante a pandemia da covid19 a Natura criou um protocolo de emergência que nos últimos anos já foi acionado 20 vezes o que mostra a gravidade da nossa situação. O mais recente foi do de apoio às visitas das enchentes do Rio Grande do Sul cujo CD de distribuição para a Região ficou debaixo d’água por mais de dois meses, O que impactou a empresa, os distribuidores e as consultoras.

Finalizando, Marcelo Mello também advertiu que dada a situação até mesmo a questão da compensação pela compra de créditos de carbono já não será suficiente pois a questão escalou que será necessário as empresas terem novas posturas.

O executivo reconheceu que não existe falta de capital disponível, mas o desafio é dar mais conhecimento ao investidor e ter mecanismos de cobrança das empresas recebedoras dos recursos que precisam entregar. E que será necessário que a indústria de fundos crie uma nova geração de produtos financeiros o que até agora não existe na prateleira.

Tags

Autor