O Teatro Marrocos, foi durante muitos anos uma marca do centro do Recife, nos seus dois endereços. Foi criado por Barreto Júnior, um humorista que saiu do Cabo de Santo Agostinho para o Rio de Janeiro. Começou fazendo pequenos papeis até ser contratado por grandes companhias de revista da então capital do Brasil. Decidiu então voltar ao Recife.
Depois de ter um teatro na Festa da Mocidade e o Teatro Almare, no prédio com aquele nome na Avenida Guararapes, o primeiro da cidade a permitir a entrada em trajes esportivos e que durou pouco tempo.. Com o apoio da Prefeitura do Recife, construiu o Teatro Marrocos, na Avenida Dantas Barreto. Era um barracão de madeira, com 400 lugares. Ele trouxe para apresentações humoristas famosos, como Oscarito, Zé Trindade, Zezé Macedo. Teve a apresentação de Iliana, que ficou 70 dias sem comer, dentro de uma caixa de vidro, junto com cobras. Tinha filas para vê-la, mesmo com o boato que ela se alimentava na madrugada.
O forte da casa, porém eram as revistas musicais, que se anunciavam como tendo “muita pimenta, pouca roupa e muito humor”. Chegou a ter, nos fins de semana, três sessões por dia. Os espetáculos, com piadas, quentíssimas, eram proibidos para menores de 18 anos, mas a fiscalização era frágil e muitos jovens entravam, de olho especialmente nas vedetes. Funcionou até 1958, quando teve que ser derrubado para ampliação da Dantas Barreto, com a promessa que ele teria novo espaço.
Convidado por Assis Chateaubriand, Barreto Júnior se apresentou em Fernando de Noronha, para pracinhas brasileiros que estavam na ilha, por causa da II Guerra Mundial. Acabou ganhando uma medalha de honra ao mérito de Pernambuco, entregue pelo governador Agamenon Magalhães, que o denominou de “Rondon do Teatro Brasileiro”.
Com o apoio da Prefeitura do Recife e de empresários amigos conseguiu montar um novo Teatro Marrocos. Ficava na Praça da República, junto do Liceu de Artes e Ofícios, vizinho do Teatro de Santa Isabel, Palácio da Justiça e Palácio do Campo das Princesas. Entusiasmado Barreto Júnior contratou novo elenco e produziu muitas e muitas revistas. Foi o primeiro local público do Recife a apresentar números de strip-tease. Shows eram anunciados em tabuletas com estrelinhas do céu em fundo escuro. As piadas eram de duplo; triplo sentido. Os ingressos tinham preços divididos por filas. Os mais caros eram os das primeiras filas, chamadas de gargarejo, com visão privilegiada das vedetes. O teatro foi demolido em 1970.
Barreto Júnior, que chegou em abrir outro teatro, em Boa Viagem, mas não conseguiu realizar o sonho. Continuou a carreira de ator em outros estados. Em 1978, ganhou o Troféu Mambembe, do Serviço Nacional de Teatro, junto com Paschoal Carlos Magno e afastou-se definitivamente do palco. Assisti várias peças no Marrocos, com os convites que ganhava de Adeth Leite, mais famoso crítico teatral da cidade e que ia sempre ao Marrocos, onde era tratado como rei. Em 1992, o terreno foi vendido à Caixa Econômica Federal, que construiu uma agência, que batizou como Agência Teatro Marrocos, uma justa homenagem. E ele ganhou homenagem da Prefeitura do Recife, que deu seu nome a um teatro que existe até hoje no Pina.
João Alberto, colunista social do Jornal do Commercio