Fotos: Ju Brainer
O disco de vinil virou placa de trânsito para exigir respeito e espaço para os ciclistas do Recife. Transformou-se em símbolo de cidadania, de luta por uma malha cicloviária mais ampla, bem cuidada e, principalmente, contínua. Está sendo usado por ciclistas da cidade para sensibilizar motoristas e mostrar que é possível, sim, uma convivência harmoniosa entre quem pedala e quem apenas dirige. No último domingo, um grupo de 40 pessoas tomou as ruas da capital espalhando as placas por alguns dos principais corredores viários. A ideia é forçar a sociedade, especialmente os condutores de veículos automotores, a ver o ciclista e a aprender a compartilhar as ruas com eles, sem disputas, sem brigas, um respeitando o outro.
As placas têm a mesma proposta das usadas na sinalização de trânsito, branca e vermelha, mas os frios símbolos do Código de Trânsito Brasileiro (CTB) foram substituídos por mensagens mais amorosas, nas quais automóveis e ciclistas são unidos por um coração, por exemplo. Frases como “compartilhe a via, compartilhe a rua, conviva” predominam. “Esse movimento já existe em outras cidades, inclusive do mundo. No ano passado chegamos a espalhar algumas placas, mas dessa vez o número de participantes e de placas está maior. Queremos alertar a sociedade de que precisamos conviver em harmonia, que a bicicleta é uma realidade e que ela precisa ter espaço e, quando ele não existir, que ela tenha ao menos respeito”, afirma uma das participantes, a fotógrafa e ciclista Ju Brainer, 29 anos.
O grupo se mobilizou pelas redes sociais e muitos dos integrantes já vem de outros movimentos de ciclistas acostumados a se reunir para pedalar e reivindicar direitos para quem usa e gosta da bike. Na essência, a ideia de fixar placas de trânsito feitas com vinis pretende atingir mais a sociedade do que o poder público. “É claro que queremos sensibilizar a prefeitura para que ela perceba a demanda de ciclistas que têm necessidades na cidade, mas o foco principal é conscientizar o motorista porque muitos não acham legítimo o ciclista estar na rua. Ainda entendem que ele está invadindo o espaço do carro. O papel da bicicleta no trânsito está na legislação, mas na prática ninguém conhece os direitos de quem pedala”, acrescenta outro integrante, o engenheiro eólico Daniel Valença, 29.
Foto: Roberta Soares
As placas de vinil estão espalhadas por avenidas importantes do sistema viário do Recife, verdadeiros redutos de automóveis, como as Avenidas Rui Barbosa, Norte, 17 Agosto (Zona Norte), além de vias do Bairro do Recife, como as Ruas do Bom Jesus, da Moeda e Mamede Simões, e da Rua do Príncipe, na Boa Vista, todas na área central da cidade. No ano passado, quando o movimento fez a primeira ação, foram fixadas placas também na Avenida Rosa e Silva (Zona Norte). O critério de escolha é simples: quanto mais volume de carros, tumulto e trânsito a avenida tiver, melhor. Afinal, o que eles querem é chamar atenção.
https://youtu.be/InhKoN1kKPM
https://youtu.be/XkLTp2GuLHE