Zona 30 do Bairro do Recife continua parecendo "de mentirinha"

Publicado em 26/04/2017 às 8:30
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  Fotos: Bobby Fabisak/JC Imagem Totens, uma das poucas ações da Zona 30, estão apagados e abandonados. Fotos: Bobby Fabisak/JC Imagem   Já se vão quase três anos desde que a Prefeitura do Recife implantou a chamada Zona 30, área de velocidade controlada criada em 22 ruas do Bairro do Recife, no Centro da capital. No início, o município faturou publicamente com a novidade, inspirada no modelo europeu de adotar políticas e equipamentos que priorizam o pedestre e forçam os veículos motorizados a reduzir a velocidade – o chamado traffic calm. Em junho de 2014, o projeto já era criticado por se resumir a alguns totens ilustrativos e a dois equipamentos de fiscalização eletrônica para flagrar o excesso de velocidade dos carros. O tempo passou e, infelizmente, nada mudou. A Zona 30 do Recife continua parecendo de mentirinha.   LEIA MAIS Só dois equipamentos de fiscalização multam na Zona 30. O resto é consciência e civilidade Recife inicia o compartilhamento de vias a partir de segunda-feira com a primeira Zona 30 Zona 30 do Recife parece de mentirinha   Se não fosse pelas placas indicativas de 30 km/h limitando a velocidade máxima permitida para os veículos em algumas das principais ruas do Bairro do Recife, quem passa pela região sequer percebe que ali funciona o único projeto de Zona 30 da capital. Nem mesmo os totens ilustrativos resistiram ao tempo e à ausência de manutenção. Os que ainda estão em pé, encontram-se apagados, sem que o cidadão consiga identificar com clareza as ruas que compõem o projeto. A Zona 30 foi implantada na área formada pela Avenida Alfredo Lisboa, Cais da Alfândega, Cais do Apolo e Rua do Observatório, totalizando 155.300,00 metros quadrados.   Bairro do Recife continua sendo uma ilha de carros Bairro do Recife continua sendo uma ilha de carros estacionados por todos os lados   Oficialmente, a prefeitura define a Zona 30 como “um conceito inédito em Pernambuco constituindo um espaço diferenciado de convivência do pedestre, da bicicleta e do carro”. Mas quem passa pela área sente dificuldades em perceber esse “clima de harmonia e compartilhamento das vias” a que se refere a gestão pública. Com exceção do cruzamento da Avenida Marquês de Olinda com a Rua Madre de Deus, onde existem os dois únicos controladores de velocidade do bairro, nas outras vias os motoristas desenvolvem a velocidade que bem entendem, sem que sofram punição. “A prefeitura se limitou aos totens e a esses dois equipamentos de fiscalização. Nas outras ruas do projeto não há nada. O Bairro do Recife continua sendo uma ilha de carros, com ruas sem qualquer prioridade ao pedestre e tomadas por veículos estacionados dos dois lados. O local não é pensado para as pessoas, não há estímulo para isso. Quem trabalha no bairro sabe o perigo que é circular após às 19h. A prefeitura desperdiça uma excelente oportunidade de pedestrianizar e arborizar ruas para estimular a vida no bairro”, critica o servidor público Cezar Martins.   Somente dois pontos têm fiscalização eletrônica para reduzir velocidade dos veículos Somente em dois pontos do bairro há equipamentos de fiscalização eletrônica para reduzir velocidade dos veículos   Quem circula pela área constata que o pedestre continua sem vez na região. As passarelas elevadas de travessia são raras na região e é comum encontrar veículos estacionados sobre elas. A única rua que recebeu um tratamento diferenciado para priorizar o pedestre foi a Rua da Moeda, ainda em gestões anteriores, sem que o modelo fosse reproduzido pelo bairro. Ao contrário, no lugar de elevar as travessias, a gestão tem rebaixado as faixas, colocando o pedestre na altura dos veículos. Nem mesmo o vão existente entre a rua e o meio-fio, criado por anos de execução errada do pavimento, foi solucionado pela prefeitura. São armadilhas criadas para quem anda de bicicleta e também para os pedestres.   Vídeo produzido na época da implantação da Zona 30
  BOULEVARD A grande expectativa para o Bairro do Recife está na conclusão das obras da Avenida Rio Branco, uma das mais importantes da região, que vai ser transformada numa alameda – o primeiro boulevard da cidade. As obras começaram no fim de 2016 e a previsão é de que sejam concluídas no segundo semestre. A requalificação prevê a construção de novas calçadas, mantendo a característica original dos desenhos de pedra mineira, embutimento da fiação elétrica e a transformação do passeio público em um espaço destinado à circulação de pedestres e modais não motorizados. O custo é de quase R$ 5 milhões.   Até a sinalização de segurança de pedestres está apagada Até a sinalização de segurança de pedestres está apagada em algumas das ruas mais importantes do bairro   O QUE DIZ A CTTU A Autarquia de Trânsito e Transporte Urbano do Recife (CTTU) discorda da ineficiência da Zona 30 no Bairro do Recife e define o projeto como um conceito inédito em Pernambuco, que constitui um espaço diferenciado de convivência do pedestre, da bicicleta e do carro. O órgão não deu entrevista sobre o tema, mas nas informações enviadas à reportagem diz que implantou 60 totens com a indicação das vias que integram a Zona 30, placas regulamentando a velocidade de 30km/h e pictogramas (sinalização horizontal), que estão espalhados em locais estratégicos das vias contempladas pelo projeto. “Além disso, com o intuito e garantir o respeito a velocidade regulamentada nas vias que possuem o maior volume de tráfego, a CTTU implantou dois equipamentos de fiscalização eletrônica no cruzamento da Avenida Marquês de Olinda com a Rua Madre de Deus. Os equipamentos fiscalizam infrações como excesso de velocidade, parada sobre faixa de pedestre e avanço de semáforo. Esses dois pontos também possuem faixas de pedestres iluminadas, garantindo uma maior visibilidade aos pedestres durante a travessia no período noturno”, destaca o texto.   jc-cid0426_bairrodorecife   Quanto à fiscalização da Zona 30, a CTTU informa que mantém uma equipe fixa de 12 agentes de trânsito atuando no Bairro do Recife, que além de orientar a população, também realiza o trabalho de fiscalização coibindo infrações como estacionamento sobre calçada. O órgão argumenta, ainda, que o projeto tem reeducado os motoristas. Os equipamentos de fiscalização eletrônica registraram, nos seis primeiros meses de validação das notificações, de setembro de 2014 a fevereiro de 2015, uma redução de 91% no número de multas aplicadas, passando de 12.861 no primeiro mês para 1.130 no sexto mês. Também houve uma redução de 76% na média mensal de multas aplicadas entre os anos de 2014 e 2016, como se pode observar nos dados disponibilizados abaixo: Médias mensais das multas aplicadas por ano: 2014- 7.171/média mensal 2015- 2.197/média mensal 2016- 1.694/média mensal

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