A Via Mangue começou a transbordar

Publicado em 06/05/2017 às 18:00 | Atualizado em 13/07/2018 às 12:11
Foto: Diego Nigro/JC Imagem
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Retenções já pegam o motorista antes da Ponte Encanta Moça, no Pina. Fotos: Diego Nigro/JC Imagem Retenções já pegam o motorista antes da Ponte Encanta Moça, no Pina. Fotos: Diego Nigro/JC Imagem   A Via Mangue começou a transbordar. Um ano e quatro meses depois de entrar em operação plena, começou a dar sinais de saturação. O corredor viário de cinco quilômetros que corta a Zona Sul da cidade, custou R$ 500 milhões, levou 20 anos sendo pensada, dez para ser concluída e se transformou no maior símbolo e motivo de brigas das últimas gestões municipais, já sofre com congestionamentos nos horários de pico. Principalmente o da manhã, quando os veículos deixam a Zona Sul. E essa constatação merece reflexões.
A Via Mangue é muito importante e nos deu muitos ganhos, inclusive irrigando a Zona Sul. Antes, esses motoristas que hoje estão retidos na Ponte Encanta Moça, no Pina, ficavam no Parque Dona Lindu, no fim de Boa Viagem. Mas ela tem um limite, que a engenharia de tráfego não vai conseguir resolver. Isso é fato”, Taciana Ferreira, presidente da CTTU
  Sem dúvida, a Via Mangue funciona para aliviar a entrada e a saída da Zona Sul (quem não recorda daqueles congestionamentos quilométricos que seguiam pelo Cais José Estelita, à noite, ou pela Avenida Conselheiro Aguiar, de dia?). Isso é indiscutível. Mas a questão é: pelo preço que custou, pelos transtornos sociais e ambientais gerados, e pela demorada execução, será que ela não foi muito cara para já começar a ter gargalos, que em pouco, pouco tempo, se transformarão em congestionamentos diários? Ajustes operacionais podem e devem ser feitos pela CTTU, mas não adianta se prender ao que já foi feito, até porque o corredor está lá e é bom. Mas, olhando para a frente, para o futuro, será que devemos continuar investindo tantos recursos em obras viárias para carros, abrindo vias que rapidamente serão preenchidas? Com a dificuldade econômica atual? Com os cofres públicos comprometidos do jeito que estão? Não, não devemos.   Avenida Antônio de Góes também sofre com as retenções Avenida Antônio de Góes também sofre com as retenções   Quanto mais ruas abrimos, mais e mais carros teremos nelas. As pessoas não vão deixar o conforto de andar de carro pelo transporte coletivo, ainda mais se ele fica preso no trânsito, sem prioridade viária. Enquanto a Via Mangue custou R$ 500 milhões, um quilômetro de Faixa Azul para os ônibus – que aumentam em mais de 50% a velocidade comercial dos coletivos – sai por apenas R$ 20 mil. Reflita sobre isso. No horário da manhã, retenções tomam conta da pista leste da Via Mangue, na saída da Zona Sul. Pegam os motoristas antes da Ponte Encanta Moça. Na Avenida Antônio de Góes, opção para quem não quer sair da região utilizando a Via Mangue (pelas Avenidas Boa Viagem e Conselheiro Aguiar), o trânsito também está bem lento. Fizemos uma grande obra viária sob o aspecto do custo, mas que tem apenas cinco quilômetros e que é totalmente voltada para o transporte individual. Esse tipo de lógica não é mais atual há muito tempo. Agora, iremos correr atrás do prejuízo. Quando os congestionamentos se confirmarem, tornarem-se diários, começará a luta para “consertar” a Via Mangue, que foi projetada incompleta. Na verdade, o Túnel do Pina deveria seguir sob a Avenida Antônio de Góes e, não, apenas sob a Avenida Herculano Bandeira. Além disso, uma alça deveria ter sido construída para permitir o giro livre dos veículos por trás da sede do Dnit e da PRF, com o alargamento da Ponte do Pina. Intervenções físicas que na época encareceriam a já extremamente cara Via Mangue e, por isso, foram deixadas de lado.   2d040517032   Esse transbordamento da Via Mangue tem impactos negativos também para o transporte público. Por causa das retenções da Via Mangue, a CTTU prometeu, prometeu, mas não implantou a Faixa Azul na Avenida Antônio de Góes, uma continuação do equipamento que prioriza o ônibus na Avenida Conselheiro Aguiar. E não há qualquer previsão de implantação.   LEIA MAIS Via Mangue: Um corredor viário que funciona, mas ainda polêmico Via Mangue custou caro e foi pensada apenas para o automóvel. Mas funciona! Via Mangue começa a sofrer com favelização O melhor da conclusão da Via Mangue: A Faixa Azul para os ônibus na Conselheiro Aguiar vai virar realidade! Via Mangue, agora, será uma via que vai e volta   A CTTU tem percebido que as retenções aumentaram e explica que a Via Mangue, como toda obra viária, tem um limite. Como não há qualquer previsão de executar as intervenções necessárias para ampliar a fluidez do corredor, os técnicos de trânsito seguem buscando os ajustes proporcionados pela engenharia de tráfego. A grande dificuldade é encontrar a equação entre o tempo semafórico na saída da Via Mangue (Rua Manoel de Brito e Túnel do Pina, que recebem 23 mil veículos/dia) com o da Avenida Antônio de Góes, com 21 mil veículos/dia vindos das Avenidas Boa Viagem e Conselheiro Aguiar. Em resumo: é muito carro para pouco sistema viário. Por isso, até mesmo Taciana Ferreira, presidente da CTTU, defende que o Brasil não deve mais investir tanto em obras viárias voltadas para o transporte individual. “Os exemplos no País já nos mostraram isso. Que precisamos investir é em transporte de massa. A Via Mangue é muito importante e nos deu muitos ganhos, inclusive irrigando a Zona Sul. Antes, esses motoristas que hoje estão retidos na Ponte Encanta Moça, no Pina, ficavam no Parque Dona Lindu, no início de Boa Viagem. Mas ela tem um limite, que a engenharia de tráfego não vai conseguir resolver. Isso é fato”, afirma.   CONFIRA VÍDEO PRODUZIDO SOBRE A EFICIÊNCIA DO CORREDOR EM JANEIRO DE 2017
  A CTTU confirma que o volume de veículos do corredor não aumentou nos últimos meses. Houve um acréscimo de 140% entre o início da operação da pista oeste, em janeiro de 2014, e a leste dois anos depois. Mas a quantidade de carros se mantem desde então. Até porque a Zona Sul não ganhou novos polos atrativos. "A Via Mangue funciona. O problema é na saída do território Sul. A capacidade viária tem limites e sempre terá. E todo investimento em sistema viário também tem limites”, reforça Taciana Ferreira. Assim, a CTTU segue fazendo os ajustes que a engenharia de tráfego permite. Até quando der.

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