Nem BRT, nem Faixa Azul. A Avenida Agamenon Magalhães é, de fato, uma via onde só o carro reina

Publicado em 25/06/2017 às 12:00 | Atualizado em 13/07/2018 às 12:00
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A primeira perimetral do Recife e importante eixo do transporte da RMR é o reinado dos automóveis. Ônibus ficam em segundo plano. Até quando? Fotos: JC Imagem   É inadmissível que, em pleno século 21, a Avenida Agamenon Magalhães, talvez a mais famosa do Recife, mas com certeza o pulmão viário da cidade, seja uma via onde só o automóvel reine. Pleno e absoluto. Uma avenida com 12 faixas de rolamento nas quais o transporte individual motorizado é quem tem vez e voz a qualquer hora do dia ou da noite. E sobre qualquer outro modal. Uma via onde o ônibus – o único representante do transporte público que passa por ela – briga diariamente por espaço e não dispõe de, ao menos, uma Faixa Azul, cujo quilômetro custa R$ 20 mil sem fiscalização e R$ 40 mil com radares. LEIA MAIS BRT pernambucano não é BRT, diz Jaime Lerner, o criador do Bus Rapid Transit Corredor de BRT na Avenida Agamenon Magalhães ainda sem data para começar a ser construído Polêmica dos viadutos da Agamenon Magalhães chega ao fim Ramal de BRT da Agamenon entra em obra em 2015 Com menos de R$ 300 mil seria possível colocar faixas exclusivas nos dois lados da Agamenon Magalhães, ao longo dos seus sete quilômetros. É pedir muito que se dê ao ônibus apenas duas das 12 faixas da via? Parece que para nossos gestores, sim, custa muito. Alguns passos foram ensaiados no passado com o chamado Eixo Agamenon do BRT, mas nada aconteceu no presente e pela postura do poder público – tanto Prefeitura do Recife como governo do Estado –, não existe nada de concreto para o futuro. Enquanto isso, as 99 linhas de ônibus (25% das que operam em todo o sistema de transporte da RMR) e os 350 mil passageiros (29% do total de usuários) que diariamente usam o corredor continuam a penar. COMO SEMPRE FOI E AINDA É A foto acima mostra, sem filtros, o que é a Avenida Agamenon Magalhães. Aliás, o que ela sempre foi. Um mar de automóveis predominando na via, enquanto os ônibus se espremem em busca de espaço, sem ao menos uma faixa exclusiva que poderia aumentar a velocidade comercial em até 100%. Vale lembrar que a Agamenon é a primeira perimetral do sistema viário do Recife, representa um eixo estrutural fundamental para o transporte público não só da capital, mas de toda Região Metropolitana, e é uma importante ligação Norte-Sul do Grande Recife. Não seria o suficiente para o ônibus ter prioridade nela? A esperança para a prioridade ao transporte público na Avenida Agamenon Magalhães surgiu ainda em 2010, quando o então governador Eduardo Campos começou a projetar o sistema de BRT para a RMR: os Corredores Leste-Oeste e Norte-Sul. O Ramal Agamenon do BRT faria parte do Corredor Norte-Sul, que liga Igarassu ao Centro do Recife. A proposta era de que, no Shopping Tacaruna, houvesse uma bifurcação e um eixo seguisse pela Agamenon, até o TI Joana Bezerra. Mas nada saiu do papel até agora e não há qualquer previsão. A Secretaria das Cidades, mentora e gestora desse projeto, diz que está concluindo estudos para retomar o eixo. Mas tudo sem qualquer previsão. CONHEÇA O PROJETO DO RAMAL DE BRT AGAMENON   Na imagem acima, vale ressaltar que o elevado que se vê ao fundo foi descartado, juntamente com os outros três projetados para atravessar a Agamenon Havia um termo de compromisso entre a Secretaria das Cidades e a Caixa Econômica Federal, no valor de R$ 120 milhões, para a realização das obras. Na verdade, o Ramal Agamenon de BRT chegou a ter o canteiro das obras instalado na avenida, numa sinalização de que iria vingar. Mas nada avançou e, depois de sofrer até furtos de tanto abandono, o canteiro foi desmontado. Por causa da intenção de implantar o ramal, a Agamenon ficou de fora das prioridades da Autarquia de Trânsito e Transporte Urbano (CTTU) para receber a Faixa Azul. Há quem entenda que a avenida deve receber o corredor de BRT e, não, uma faixa exclusiva. Mas enquanto um projeto não é viabilizado, não poderíamos garantir a prioridade viária com o outro?     Ainda em 2015 a CTTU alegava estar fazendo uma série de análises técnicas e simulações de engenharia de tráfego que indicassem a viabilidade de uma faixa exclusiva na via. Até hoje, dois anos depois, o discurso é o mesmo. As análises nunca foram concluídas. Isso tudo apesar de todos, gestores, estudiosos e a sociedade, afirmarem que a Agamenon Magalhães é fundamental para o transporte público da RMR devido à grande demanda de usuários encontrada no corredor. Por isso tudo, é importante insistir no questionamento: O que falta para a Avenida Agamenon Magalhães deixar de ser uma via só para o carro e dar prioridade ao transporte público?   PODER PÚBLICO SE POSICIONA POR NOTA Mais uma vez, como tem sido cada vez mais comum na área de mobilidade, os governos municipal e estadual do PSB não têm dado entrevistas. Respondem tudo por notas formais, que pouco informam ou agregam, enviadas pelas respectivas assessorias de imprensa. E, mais uma vez, nós as reproduzimos: Resposta do governo do Estado (Secretaria das Cidades e Grande Recife Consórcio de Transporte) Sobre o Ramal Agamenon de BRT: “A Secretaria das Cidades está aguardando a conclusão de estudos de sistema de tráfego que estão sendo realizados pelo Grande Recife Consórcio de Transporte, Instituto da Cidade Pelópidas Silveira (ICPS) e Prefeitura do Recife. Os estudos vão direcionar como dar continuidade à implantação do corredor de BRT Ramal Agamenon. Estão em curso tratativas para rescisão do contrato antigo com a apuração dos custos envolvidos. Já foi contratada uma nova empresa para a revisão dos projetos e preparação para a contratação de nova construtora para retomada das obras." Sobre a importância do transporte público na Agamenon Magalhães: “A Avenida Agamenon Magalhães é uma das principais vias da malha rodoviária urbana do Recife. No Plano Diretor da Cidade é classificada como um dos corredores Perimetrais, ligando as Zonas Norte e Sul da Região Metropolitana. Para o transporte público, a avenida é de fundamental importância, por conta da grande demanda de usuários encontrada no corredor. A Av. Agamenon Magalhães possui pelo menos quatro grandes cruzamentos, onde há uma alta transferência de passageiros. Na Praça do Derby, por exemplo, essa transferência chegar a ser de 30 a 40 mil passageiros todos os dias. É um corredor com 6,95 km de extensão, que começa na cidade de Olinda, após a Av. Presidente Kennedy e termina no bairro da Ilha do Leite, no Recife. Dos 1,8 milhão de passageiros que utilizam o transporte público no Recife e Região Metropolitana, 350 mil trafegam pela Agamenon diariamente, isso corresponde a dizer 29% do total de usuários. Ali, passam todos os dia 99 linhas de ônibus, o que corresponde dizer 24,5% das linhas do sistema." Foto: Guga Matos/JC Imagem Resposta da Prefeitura do Recife “A Prefeitura do Recife, através da Autarquia de trânsito e Transporte Urbano do Recife (CTTU), tem firmado como uma das principais metas da gestão a melhoria da circulação do transporte público no Recife. Com isso, foi criado o projeto Faixa Azul, que desde 2013 mais do que dobrou os quilômetros de faixas exclusivas para ônibus na cidade, passando de 20,51km para 54km. A ação beneficia importantes corredores viários como as avenidas Recife, Mascarenhas de Moraes, Herculano Bandeira/Engenheiro Domingos Ferreira, Conselheiro Aguiar, além das ruas Real da Torre e Cosme Viana, alcançando um ganho de até 118% na velocidade média dos coletivos e beneficiando mais de 600 mil passageiros, diariamente. Atualmente, a CTTU realiza estudos de prospecção com o intuito de identificar os corredores viários aptos a receber novas faixas exclusivas de ônibus, a partir de análises como o quantitativo de linhas e de passageiros que circulam nas vias estudadas, assim como o número de conversões à direita existentes nas mesmas. A expectativa é ampliar o projeto Faixa Azul ainda no segundo semestre deste ano. Em relação à circulação do transporte público na Avenida Agamenon Magalhães, a Autarquia de Trânsito e Transporte Urbano do Recife (CTTU) realiza um trabalho intenso de monitoramento e operação de tráfego na avenida, alcançando resultados bastante positivos. Esse trabalho é realizado pela Central de Operações de Trânsito, que monitora a via através de 14 câmeras, encontrando qualquer tipo de interferência na circulação do transporte público e enviando com agilidade equipes de agentes e orientadores de trânsito ao local. O corredor conta ainda com a presença de um efetivo de 15 agentes e 30 orientadores de trânsito dispostos em pontos fixos, diariamente. Além disso, é importante destacar as operações com cones, realizadas diariamente em cinco importantes pontos da avenida, em horários estratégicos. O objetivo da ação é disciplinar a circulação, através da canalização do fluxo, gerando um ganho significativo na velocidade média da via, que atualmente é considerada satisfatória: 42 km/h no horário de pico e 51km/h fora do pico."

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