Fotos: Diego Nigro/JCImagem
Temos que ser todos pedestres e brigar pelo direito ao caminhar. Não importa se usamos o automóvel até para chegar à padaria ou defendemos o direito de ir e vir de bicicleta. Em algum momento, todos seremos pedestres. Como passageiro do transporte público, mais uma razão para ser pedestre porque quem utiliza o ônibus ou o metrô sempre caminha. Por isso, nesta terça-feira (8/8), quando se comemora mundialmente o Dia do Pedestre, devemos falar do desprezo que ainda existe no Brasil sobre o direito e a importância do caminhar.
Confira o especial multimídia
#PeloCaminhar, produzido pelo Blog De Olho no Trânsito para discutir a importância da mobilidade a pé para a sociedade.
Não estamos falando apenas da cobrança por calçadas. O caminhar é muito mais do que isso. Vai além. Envolve a travessia segura nas ruas e avenidas – com passagens elevadas e priorização do tempo semafórico nos cruzamentos viários –, a arborização dos caminhos e a iluminação correta, voltada para a calçada e, não, sobre árvores, para iluminar a rua utilizada pelos automóveis. O dia 8 deve ser um momento de reflexão sobre tudo isso. De entendermos que todos precisam do caminhar. A caminhabilidade segura, além de direito previsto na legislação brasileira (Lei da Mobilidade Urbana e Código de Trânsito Brasileiro), é necessária e faz bem. Transforma as cidades em espaços mais humanos e permite às pessoas descobrir esses lugares.
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A falta de prioridade para a mobilidade a pé não reflete apenas a brutalização da mobilidade urbana das cidades, com cidadãos cada dia mais dependentes do automóvel porque não identificam as condições necessárias para o caminhar seguro. Também há reflexos graves na saúde e no custo de mortos e mutilados no País. Somente em 2015, 6.979 pedestres morreram no trânsito brasileiro, o equivalente a 18% do total de mortos no trânsito (38.651). Em Pernambuco, foram 339 das 1.919 mortes no trânsito registradas no Estado.
Calçadas não avançam
Não conseguimos avançar sequer no princípio básico do caminhar, que é a construção e manutenção de calçadas aceitáveis para as pessoas. A mobilidade a pé não é prioridade nos projetos públicos. Funciona melhor nos discursos politicamente corretos dos gestores do que na prática. No País há diversos exemplos em todas as cidades. No Recife também. E não é de hoje. A atual gestão municipal do PSB tenta, desde que assumiu a prefeitura, construir 134 quilômetros de novas calçadas, mas não consegue o ritmo desejado. Já relançou o programa duas vezes e, mesmo assim, não conseguiu executar nem os primeiros 10 quilômetros.
Entidades começam a dar voz à mobilidade a pé
Temos evoluído quando o assunto é o caminhar. Pelo menos nas discussões e cobranças – primeiros passos para sensibilizar e convencer políticos e gestores públicos. Hoje, falamos do caminhar, não apenas do pedestre isoladamente.
No Sudeste do País, houve um surgimento significativo de
entidades de defesa do caminhar nos últimos dois anos.
A cidade de São Paulo, por exemplo, criou o Estatuto do Pedestre, que se arrastava desde 2011 na Câmara de Vereadores. O Estatuto fixa regras para sinalização, multas e, o que é mais importante, define fontes de recursos para obras que melhorem a caminhabilidade.
O dia 8 de agosto foi escolhido como o Dia Mundial do Pedestre porque nesse dia, em 1969, Paul, John, Ringo e George, dos Beatles, posaram para aquela foto famosa na Abbey Road, em Londres, cruzando a faixa de segurança, em frente ao estúdio da EMI. A foto famosa dos Beatles foi feita pelo escocês Iain Macmillan exatamente às 11h30 desse dia. A imagem - conhecida no mundo inteiro - foi adotada pelas organizações, pessoas e órgãos de trânsito para lembrar a prioridade que deve ser dada às pessoas, o elo mais delicado (e precioso) da corrente de mobilidade urbana.