Não tenho dúvidas de que estamos diante de um psicopata ao volante. Uma pessoa que não poderia nem deveria ter permissão para conduzir um veículo. Tem um histórico de infrações graves, como avanço de semáforo e excesso de velocidade, que demonstram o desprezo à legislação de trânsito. Além das infrações em nome do veículo, o condutor tem 28 pontos na CNH e uma autuação de alcoolemia em seu nome. No momento da colisão, estava tão fora de si que sequer percebeu que havia um semáforo” Antônio Carlos Cavendish, corregedor do Detran-PEE o impressionante histórico não para por aí. A relação de infrações associadas ao veículo dirigido por João Victor Ribeiro totalizam 22 páginas desde 2010. Ainda é cedo para afirmar que todas foram cometidas pelo universitário, já que o veículo está em nome de uma mulher. Somente a investigação da Polícia Civil junto ao Detran-PE e a outros órgãos de trânsito – inclusive dos Estados de Sergipe e da Paraíba, onde também recebeu notificações – poderá confirmar quem conduzia o veículo. “Mas não tenho dúvidas de que estamos diante de um psicopata ao volante. Uma pessoa que não poderia nem deveria ter permissão para conduzir um veículo. Tem um histórico de infrações graves, como avanço de semáforo e excesso de velocidade, que demonstram o desprezo à legislação de trânsito. Além das infrações em nome do veículo, o condutor tem 28 pontos acumulados na CNH (que prescreveram, mas estão lá) e uma autuação de alcoolemia em seu nome. No momento da colisão, estava tão fora de si que sequer percebeu que havia um semáforo”, critica Antônio Carlos Cavendish. LEIA MAIS A dor na hora da despedida de mães e filhos Sedado, pai ainda não sabe da morte da esposa e do filho após acidente Mãe e filho vítimas de acidente são sepultados sob comoção em Paulista Justiça decreta prisão preventiva de motorista que matou duas mulheres em acidente na Tamarineira A matança no trânsito brasileiro continua Habilitado desde 2011, João Victor Ribeiro renovou pela primeira vez a CNH este ano e, desde o começo, já dava sinais de que poderia ser um mau motorista. “Na retirada da primeira habilitação ele foi considerado inapto no exame psicológico, uma das etapas do processo de habilitação. Precisou recorrer e, somente diante de uma junta médica, foi avaliado como apto”, explica o corregedor. O hábito de dirigir alcoolizado também está sendo associado ao jovem, a partir do histórico pessoal e do veículo. Segundo o coordenador da Operação Lei Seca em Pernambuco, tenente-coronel Fábio Bagetti, em 2014 João Victor foi autuado numa blitz por se recusar a fazer o teste de alcoolemia. Foi parado outras 16 vezes, entretanto, sendo liberado sem problemas. Violência do acidente, no cruzamento da Rua Cônego Barata com Avenida Rosa e Silva, na Tamarineira, Zona Oeste do Recife, chocou a todos Mas além das evidências, o universitário afirmou aos policiais militares que o prenderam, ao delegado que fez a autuação em flagrante e durante a audiência de custódia que tinha dependência de álcool e drogas. Disse, ainda, ter ingerido o medicamento Rivotril e misturado com bebida alcoólica no dia da colisão. Teria passado o dia bebendo no Autobar, um estabelecimento localizado no bairro de Santana, na Zona Norte do Recife, e que tem decoração com temas de automobilismo. Amigos também afirmaram, em reserva, que o jovem, morador de Casa Caiada, em Olinda, bebia com frequência e tinha problemas com drogas. Embora fosse uma pessoa calma, sofria alterações de personalidade quando ingeria álcool. VÍDEO MOSTRA O MOMENTO EXATO DO ACIDENTE
SE PUNIÇÃO PARA QUEM DIRIGE ACOOLIZADO FUNCIONASSE, UNIVERSITÁRIO PODERIA ESTAR SEM CNH
A matança ao volante promovida pelo universitário João Victor Ribeiro de Oliveira talvez pudesse ter sido evitada se a punição para quem ainda insiste em dirigir depois de beber fosse mais eficaz em Pernambuco. Embora a Operação Lei Seca tenha resultados impressionantes com um alto número de motoristas autuados durante as blitzes – são quase 40 mil multas aplicadas desde 2011 –, a eficiência se dá na fiscalização, não na punição. O motorista flagrado sob efeito de álcool é multado, mas demora tempo demais para sentir a punição na prática. Ou seja, perder a CNH e ser proibido de dirigir. Atualmente, por falta de estrutura de pessoal dos órgãos de trânsito, a suspensão da permissão para dirigir dos condutores alcoolizados está levando de três a quatro anos. Este ano, até agora, o Detran-PE só conseguiu suspender 290 CNHs, embora mais de 4 mil condutores tenham sido notificados. João Victor Ribeiro é um exemplo dessa ineficiência. Se, em 2014, quando foi autuado por se recusar a fazer o teste de alcoolemia numa das blitzes da Operação Lei Seca no Grande Recife, o processo de suspensão da permissão de dirigir tivesse sido mais ágil, talvez não estivesse conduzindo veículos atualmente. Ao contrário, já acumulou uma segunda autuação por recusa do teste de alcoolemia, dessa vez em João Pessoa, na Paraíba, no último mês de abril. “Mas é importante ressaltar que casos como o desse condutor são exceção e os números da Operação Lei Seca estão aí para comprovar. No início, há seis anos, 9% dos motoristas abordados nas blitzes eram autuados. Hoje, esse percentual é de 1,3%”, argumenta o coordenador da operação, tenente-coronel Fábio Bagetti. INVESTIGAÇÃO A colisão já está sendo investigada pela Delegacia de Delitos de Trânsito, tendo à frente do inquérito o delegado Paulo Jean, adjunto da unidade. Como o acusado está preso, o prazo para conclusão é de dez dias. “O inquérito já está bastante robusto por todas as provas e evidências recolhidas, mas estamos refazendo o trajeto do motorista para reforçar ainda mais a culpabilidade dele”, explicou. O delegado pretende, inclusive, transformar a acusação de lesões gravíssimas (contra o pai e a filha de 5 anos que permanecem internados) em tentativas de homicídio. O fato de uma das vítimas estar grávida também poderá ser um agravante. Além dos homicídios, o universitário também deverá responder por três infrações e crime de trânsito: dirigir sob efeito de álcool, excesso de velocidade e avanço de semáforo.