Três linhas de ônibus estão operando com uma segunda catraca na porta traseira dos veículos. Fotos: Roberta Soares Elas podem ser polêmicas, mas as catracas instaladas na parte traseira de alguns ônibus da Região Metropolitana do Recife estão inibindo a invasão de pessoas nos coletivos sem pagar a tarifa. O ganho na quantidade de passageiros tem sido, em média, de 5%. Pelo menos três linhas do sistema, todas de baixa demanda, rodaram com um segundo bloqueio numa fase experimental de 60 dias. Ou seja, no momento do desembarque, os passageiros passam pela segunda catraca. É mais uma tentativa de reduzir a evasão de receita nos ônibus, que chega a 10% no sistema convencional e a 12,5% no BRT (Bus Rapid Transit).
Em uma das linhas que está em teste, do Consórcio Conorte, o número de passageiros pulou de 8.663 para 9.392 comparando a primeira quinzena de setembro com o mesmo período de outubro", André Melibeu, diretor de Operações do GRCT
O segundo bloqueio está em funcionamento nas linhas TI Camaragibe/TI Macaxeira, TI Cabo/TI Cajueiro Seco e Loteamento Bonfim/TI Abreu e Lima. Embora sejam linhas com poucos passageiros, têm um alto índice de evasão de receita por sofrer com as invasões. Segundo o Grande Recife Consórcio de Transporte (GRCT), gestor do sistema de transporte da Região Metropolitana, devido aos resultados, o novo modelo deverá ser ampliado no sistema. LEIA TAMBÉM BRT pernambucano sofre com a evasão de receita A triste sina das constantes invasões do BRT Leste-Oeste Campanha pede mais educação e respeito no transporte público “Em uma das linhas que está em teste, do Consórcio Conorte, o número de passageiros pulou de 8.663 para 9.392 comparando a primeira quinzena de setembro com o mesmo período de outubro. Enviamos relatórios às empresas para que elas respondam alguns questionamentos, como se houve reclamação dos usuários, se aconteceu variação no número de passageiros transportados e se houve interferência no tempo de desembarque. Mas os primeiros números mostram que é uma boa opção”, argumenta André Melibeu, diretor de Operações do GRCT.
Melibeu pondera, entretanto, que a ampliação do modelo tem critérios. “Não podemos implantar em qualquer tipo de linha, por exemplo. As que têm alta demanda não receberão o equipamento porque ele poderá impactar diretamente na operação. Isso precisa estar muito claro”, explica André Melibeu. O diretor diz, ainda, que antes de decidir experimentar a segunda catraca nos coletivos, foi conhecer o sistema de João Pessoa, na Paraíba. “Lá, toda a frota tem o bloqueio na área de desembarque dos coletivos e funciona bem, sem problemas”, diz. Os números do GRCT mostram que, das três linhas, pelo menos por enquanto duas têm apresentado resultados que comprovam a eficiência da segunda catraca. A Loteamento Bonfim/TI Abreu e Lima registrou um aumento de 4,61% na demanda de passageiros catracados (que passam na catraca, ou seja, que pagam a tarifa). Pulou de 16.980 passageiros no mês de setembro para 17.763 em outubro. Já a linha TI Camaragibe/TI Macaxeira, a primeira a receber o segundo bloqueio e que opera com veículos BRT, teve um aumento médio de 700 passageiros. GRCT diz que segundo equipamento está em teste, mas que os resultados positivos devem fazer o modelo ser ampliado Entre os usuários e os operadores, a instalação da segunda catraca tem recebido aprovação. “Ficou bem melhor porque as pessoas invadem menos os ônibus e nós conseguimos trabalhar sem tantos problemas. Antes, quem invadia atrapalhava o desembarque dos usuários”, diz o motorista Luis Eduardo da Silva, que trabalha na linha TI Camaragibe/TI Macaxeira há cinco anos. “Gostei muito e acho que o governo acertou em colocar essas catracas para evitar a invasão nos ônibus. Muita gente tem entrado sem pagar”, afirma a passageira Eduarda Cardoso. CAMPANHA FAÇA O CERTO REDUZ EVASÃO, DIZEM EMPRESÁRIOS Antes das catracas instaladas na traseira dos coletivos, governo do Estado e empresários de ônibus já fizeram uso de outras ferramentas para tentar inibir a evasão de receita. A mais recente foi a campanha Faça o Certo, lançada em agosto e que pede para as pessoas agirem da forma correta no transporte público. Traduzindo: que não pulem a catraca, que não entrem nas estações de BRT e nos coletivos sem pagar a passagem e que não usufruam da gratuidade sem ter direito. Equipamento instalado na Estação Benfica do BRT., no Recife, era agressivo e teve que ser alterado após muitas reclamações dos usuários. Foi a primeira ação para inibir as invasões Três meses depois, a campanha – que terá uma interrupção no próximo mês, sendo retomada ano que vem – acumula saldos positivos, segundo o Sindicato das Empresas de Transporte de Passageiros de Pernambuco (Urbana-PE). A queda de demanda sofreu uma atenuação de aproximadamente 3% e 2.800 interações foram feitas no período entre passageiros e os coordenadores da campanha via o número de Whatsapp (81.99236.9002) disponibilizado para receber denúncias e reclamações sobre fraudes. “Não podemos dizer que a perda de passageiros foi atenuada apenas pela campanha, mas com certeza ela pesou”, afirma Bernardo Braga, consultor da Urbana-PE. 12,5%. “Para se ter ideia do prejuízo que essa entrada irregular provoca, é o mesmo que 180 mil pessoas andando nos ônibus, diariamente, sem pagar a passagem. Ou, o equivalente a 270 ônibus circulando pelas ruas de graça o dia inteiro. Com essa receita perdida, poderíamos estar colocando 26 novos ônibus todos os meses para atender à população”, alerta Bernardo Braga. Urbana lançou este ano a campanha Faça o Certo, que também ajudou na conscientização dos invasores, apesar da polêmica A campanha é focada em dois motes principais. O primeiro fala do custo do sistema porque, devido à evasão de receita, todos os anos o percentual de reajuste da passagem se torna maior. O segundo aborda a qualidade do serviço oferecido, especificamente a lotação dos ônibus. “Por isso essa sensação de que há menos ônibus nas ruas e que eles estão andando mais lotados”, diz o consultor. A campanha Faça o Certo, realizada pela agência Marta Lima, pegou carona no momento de exigência da honestidade vivido pelo País, com a intolerância da população em relação à corrupção e a cobrança pelo jeito certo de agir em sociedade. A campanha está espalhada nos ônibus, outdoors, rádios, TVs, jornais e web.