A cidade travada - Obras da BR-101 impactam em todo o Recife

Publicado em 09/03/2018 às 8:00 | Atualizado em 02/06/2020 às 14:33
Foto: Felipe Ribeiro/JC Imagem
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Via Mangue, na Zona Sul do Recife. Foto: Felipe Ribeiro/JC Imagem

 

Quem, entre os leitores desta reportagem, não tem sentido o trânsito da cidade do Recife ainda mais travado do que o normal? A circulação para todos, veículos particulares ou coletivos, está pior de fato. Ainda não há estatística para essa percepção, mas ela é real e se deve, na avaliação de quem vive e analisa o trânsito, a algumas razões que são velhas conhecidas da sociedade, como a dependência do automóvel para todos os deslocamentos, a falta de investimento em infraestrutura tecnológica e viária, e a rejeição histórica ao transporte público pela falta de qualidade. Mas há fatores novos e recentes. O impacto direto das obras de restauração do contorno urbano da BR-101 na Região Metropolitana do Recife, entre Abreu e Lima e Jaboatão dos Guararapes, que estariam sendo feitas sem um planejamento de execução adequado à circulação e, por isso, gerando fuga para corredores não só da capital, mas de todo Grande Recife. E o crescimento – mesmo quase ínfimo – de 1% da economia brasileira.

Ainda não temos contagem, mas já percebemos um volume maior de veículos trafegando na Avenida Norte, inclusive de caminhões. Só para citar um exemplo. Corredores como as Avenidas 17 de Agosto e Apipucos são outras vias que têm sofrido com o aumento da demanda. Estamos atentos, buscando ajustes para aliviar a circulação, mas não há muito o que fazer”, João Braga, secretário de Mobilidade do Recife  

Impactados pelos longos congestionamentos dos 30,7 quilômetros do contorno da BR-101 que estão em obras desde o fim do ano passado, os motoristas têm fugido da rodovia e passado a utilizar avenidas que antes não recebiam a mesma quantidade de tráfego. “Ainda não temos contagem, mas já percebemos um volume maior de veículos trafegando na Avenida Norte, inclusive de caminhões. Só para citar um exemplo. Corredores como as Avenidas 17 de Agosto e Apipucos são outras vias que têm sofrido com o aumento da demanda. Estamos atentos, buscando ajustes para aliviar a circulação, mas não há muito o que fazer”, diz o secretário de Mobilidade do Recife, João Braga.  

Rua Visconde de Albuquerque, na Torre, Zona Oeste do Recife. Foto: Léo Motta/JC Imagem
2L07032018031 - Rua Visconde de Albuquerque, na Torre, Zona Oeste do Recife. Foto: Léo Motta/JC Imagem
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Ônibus precisam, antes de tudo, ter prioridade viária nas ruas. Foto: JC Imagem
AV - Ônibus precisam, antes de tudo, ter prioridade viária nas ruas. Foto: JC Imagem
AVENIDA SUL -

  Stênio Cuentro, presidente da Associação Brasileira de Engenharia Civil (Abenc) e especialista em engenharia de tráfego, vai mais além. Diz que a população está pagando duas vezes pelas falhas da execução da restauração da BR-101. “A obra foi mal planejada e está sendo mal executada pelo DER-PE e pelo Dnit. Estamos falando da 4ª perimetral do Recife, criada na década de 70, exatamente para absorver o tráfego da cidade. E, agora, todos fogem dela, voltando a utilizar as vias da capital. Além dos equívocos da escolha do tipo de pavimento para a rodovia, os gestores da obra não fizeram um plano de circulação. O resultado é que vemos as pistas locais da BR subutilizadas, enquanto carros, caminhões e ônibus se espremem numa única pista, com sentido duplo”, diz.

A obra da BR-101 foi mal planejada e está sendo mal executada pelo DER-PE e pelo Dnit. Estamos falando da 4ª perimetral do Recife, criada na década de 70, exatamente para absorver o tráfego da cidade. E, agora, todos fogem dela, voltando a utilizar as vias da capital. Além dos equívocos da escolha do tipo de pavimento para a rodovia, os gestores da obra não fizeram um plano de circulação. O resultado é que vemos as pistas locais da BR subutilizadas, enquanto carros, caminhões e ônibus se espremem numa única pista, com sentido duplo” Stênio Cuentro, presidente da Abenc  

  Nas ruas, a população reclama cada vez mais. “Antigamente, saíamos cedo de casa e conseguíamos fugir dos congestionamentos. Mas agora não tem mais hora boa. Está tudo muito ruim, em diversos pontos da cidade. Não é só em Boa Viagem. Aqui está um pouco pior. Minha faculdade fica a 15 minutos de onde moro e hoje levo até 45 minutos para chegar”, critica a universitária Marcela Campos. As queixas não são feitas apenas por quem está nos automóveis, mas principalmente pelos passageiros do ônibus. “Temos esperado uma hora pela linha Barro-Macaxeira, por exemplo. Sabemos que as obras da BR influenciam muito, mas por isso mesmo, o governo deveria colocar mais coletivos. Não importa o custo”, diz a promotora de vendas Cláudia Lima.  

Antes, saíamos cedo de casa e conseguíamos fugir dos congestionamentos. Mas agora não. Não há mais hora boa. Está tudo muito ruim, em diversos pontos da cidade. Não é só em Boa Viagem, por exemplo. Aqui está um pouco pior. Minha faculdade fica a 15 minutos de onde moro e hoje levo até 45 minutos para chegar”, Marcela Campos, universitária

Fotos: Bobby Fabisak/JC Imagem  

 

São reclamações de quem viu seu tempo de deslocamento, em muitas situações e corredores, duplicar nos últimos dois meses. Apesar de a frota veicular não ter crescido nos últimos anos. Ao contrário, ter tido uma redução contínua na taxa de crescimento. Números do Detran confirmam a queda. A capital, por exemplo, recebeu 3 mil novos veículos por mês em 2012 e passou a ganhar apenas 500 em 2017. Na RMR, a situação é parecida. Caiu de 92 mil novos veículos em 2012 para 23 mil no ano passado. Diante desse cenário, a cobrança por mais investimentos em infraestrutura é inevitável. Como exemplo, as obras complementares da Via Mangue, no Pina, que deveriam ter sido executadas ainda na época do projeto do corredor e nunca foram feitas.

Para a gente que usa o transporte público o que ajuda são as faixas exclusivas. Em Boa Viagem, por exemplo, se não fosse a Faixa Azul, seria muito complicado. Não levaria entre 25 e 30 minutos do aeroporto até o início da Antônio de Góes. A gente vê que pelos carros ao lado, que não andam. Melhorou muito para o ônibus com ela. Pelo menos temos um pouco de alívio dessa trânsito”, Jefferson Azevedo Reis, faturista  

   

Sobre as obras da BR-101, o Departamento de Estradas de Rodagem (DER) afirmou, por nota, que antes do início da restauração reforçou as ações de conservação da PE-15 para que a via fosse utilizada como rota alternativa e que nos trechos onde os serviços estão sendo executados foram criados desvios, rotas de saída para as comunidades, empresas e acessos à rodovia, tudo devidamente sinalizado. Também por nota, a Autarquia de Trânsito e Transporte Urbano do Recife (CTTU) garantiu realizar diversas ações para dar mais mobilidade e segurança viária às pessoas.

Entre as ações, a implantação da Faixa Azul, que atualmente já beneficia 700 mil passageiros do ônibus por dia com 36 km de faixas exclusivas, e mudanças de circulação em 90 pontos críticos, como Ilha do Retiro, Ilha do Leite e Avenida Norte. A resposta oficial do DER-PE. O Dnit nãos e pronunciou, informando que a responsabilidade pela execução das obras é do governo de Pernambuco: "O Departamento de Estradas de Rodagem (DER), órgão vinculado à Secretaria Estadual de Transportes esclarece que: 1 – Antes do início da obra, em 22 de setembro de 2017, o DER reforçou as ações de conservação da PE-015, para que a via seja utilizada como rota alternativa, buscando assim diminuir o fluxo de veículos no trecho que está sendo restaurado - 30,7 Km -, entre Abreu e Lima e Jaboatão dos Guararapes.  

Fotos: Bobby Fabisak/JC Imagem
AGMENON - Fotos: Bobby Fabisak/JC Imagem
BR-101, trecho da Macaxeira, Zona Norte do Recife
BR101 - BR-101, trecho da Macaxeira, Zona Norte do Recife
Avenida Conselheiro Aguiar, Boa Viagem, Zona Sul do Recife
C - Avenida Conselheiro Aguiar, Boa Viagem, Zona Sul do Recife
Foto: Felipe Ribeiro/JC Imagem
FR080318017 - Foto: Felipe Ribeiro/JC Imagem

  2 – Nos segmentos onde os serviços estão sendo executados foram criados desvios, rotas de saída para as comunidades, empresas e acessos à rodovia BR-101. Todos devidamente sinalizados. A medida serve para orientar e dar segurança aos motoristas, inclusive com placas refletivas. Além disso, esses pontos são monitorados nos dias úteis, das 6h às 18 horas. Nos sábados e domingos, os horários são alternados. O DER também disponibiliza educadores e agentes que auxiliam na fluidez do trânsito em horários considerados de pico - das 7h às 9h e das 17 às 19 horas. Além disso, quando possível, parte do fluxo segue pela via local no trecho onde os serviços estão sendo executados, dentre eles, no segmento entre o Hospital das Clínicas até o entroncamento com a via de acesso ao IFPE/UFPE.  

Observe que a frota veicular do Recife e Região Metropolitana tem sofrido redução na taxa de crescimento:

 

3 – Em alguns momentos, o DER destaca que, nos segmentos onde os trabalhos estão em andamento, o fluxo segue lento em virtude de questões inerentes à obra, como veículos que quebram e precisam ser rebocados, dificultando a fluidez do tráfego.

No caso da Zona Sul, o trânsito está ruim mesmo para o carro porque o espaço diminuiu para eles. Mas para o ônibus está bom. Melhorou demais. Eu ganhei mais de 20 minutos com a faixa exclusiva numa viagem de 1h10", Saulo Rafael, motorista da linha Boa Viagem-Joana Bezerra

   

4 – Por fim, o DER está atento para que as obras de restauração da BR-101 prossigam causando o mínimo possível de transtornos à população. É importante ressaltar que uma intervenção deste porte causa eventuais.

Concluída a obra, os usuários contarão com uma rodovia com boas condições de trafegabilidade, com mais segurança e conforto. A requalificação da BR-101 facilitará o ir e vir das pessoas, contribuindo significativamente para melhorar a qualidade de vida de quem precise transitar pela via.O prazo para conclusão das obras da BR-101 é 31 de dezembro de 2018".

A respostas oficial da CTTU: " Autarquia de Trânsito e Transporte Urbano do Recife (CTTU) informa que realiza diversas ações com o intuito de garantir mais mobilidade e segurança viária para as pessoas. Entre as ações, destaca-se uma das prioridades da gestão de trânsito, que é a implantação da Faixa Azul. Atualmente a ação já beneficia diariamente mais de 700 mil passageiros do transporte público com redução de tempo e viagem. ( já são cerca de 36 km de faixas azuis implantados em oito importantes corredores viários da cidade, desde 2013).

Outra ação realizada de forma contínua é a implantação de mudanças de circulação com base em estudos técnicos que têm o objetivo de reduzir os conflitos no trânsito em pontos críticos. Os projetos implantados, que já ultrapassam a marca de 90 desde 2013, são desenhados com o intuito de beneficiar a operação do transporte público, a segurança do pedestre e também de garantir mais fluidez aos veículos, a exemplo das recentes intervenções implantadas na Ilha do Retiro, Ilha do Leite e Avenida Norte (na altura da Praça Castro Alves, implantada no último sábado).

Prefiro sofrer na BR do que mudar de rota. Todo mundo está com o mesmo pensamento, principalmente os carros pequenos, que têm saído da BR para usar corredores como a Avenida Norte, a PE-15, a Avenida Recife, ou indo pelo Centro do Recife. Aí tudo fica congestionado. O bom é que, apesar do sofrimento agora, sabemos que mais para a frente ficará melhor", Adilson Herculano dos Santos, motorista de caminhão  

 

É válido ainda ressaltar as ações de operação de trânsito realizadas diariamente pelas equipes de agentes e dos 250 orientadores contratados pela Prefeitura do Recife. Esses profissionais estão dispostos em locais estratégicos da cidade, orientando os condutores e pedestres, evitando o cometimento de infrações que prejudicam a a mobilidade e também realizando operações com cones em locais e horários específicos, repercutindo diretamente na melhoria da fluidez dos principais corredores viários do Recife.

Todas as equipes estão conectadas em tempo real com a Central de Operação de Trânsito (COT), que com 124 câmeras monitoram todo o sistema vi[ario da capital, atuando em tempo hábil em casos de qualquer evento que possa prejudicar a fluidez, como acidentes, protestos, etc. Por último, a CTTU ressalta que tem atuando com equipes de agentes e orientadores de trânsito de forma rigorosa com em locais com registros de retenções, como é o caso da Zona Norte, onde as obras da BR-101 está repercutindo. O objetivo é minimizar os transtornos no trânsito e evitar o cometimento de infrações pelos motoristas".

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