Além do trânsito, Via Mangue sofre com degradação e furtos

Publicado em 23/03/2018 às 8:00 | Atualizado em 02/06/2020 às 14:23
NE10
FOTO: NE10
Leitura:

Mais de 50 gradis foram roubados da Via Mangue nos últimos meses. Câmeras de segurança foram retiradas. Fotos: Filipe Jordão/JC Imagem

 

Além da saturação precoce, a Via Mangue, corredor viário que custou R$ 500 milhões e facilitou a entrada e saída da Zona Sul do Recife, têm sofrido, novamente, com o vandalismo e o abandono. Quem passa nos cinco quilômetros da via expressa já deve ter percebido a ausência dos gradis de proteção e isolamento de travessia, furtados com frequência nos últimos meses. A reportagem contou mais de 50 peças subtraídas em pontos diferentes, mas a Prefeitura do Recife revelou ser um número ainda maior. Nas contas da gestão municipal, o custo atual para repor os equipamentos é superior a R$ 225 mil. Há trechos da Via Mangue em que, num único ponto, são entre dez e 15 gradis subtraídos.

Embora seja uma via concebida para ser expressa, com velocidade máxima de 60 km/h, as lacunas no equipamento de isolamento potencializam os riscos de atropelamento no caso de uma travessia indevida. Leves e montáveis, os gradis instalados no corredor são fáceis de serem retirados da base que lhes dá sustentação. Ou seja, os ladrões levam a grade e deixam a estrutura presa ao concreto, seja na divisória das pistas como nos acostamentos. Quem reside às margens da avenida conta que muitos dos furtos são praticados por pessoas que passam de carro e param para retirar os gradis.

 

LEIA MAIS

A Via Mangue começou a transbordar

Via Mangue: Um corredor viário que funciona, mas ainda polêmico

Via Mangue custou caro e foi pensada apenas para o automóvel. Mas funciona!

 

Além da ausência dos equipamentos, o entorno da Via Mangue sofre com outros problemas que têm ampliado a degradação do corredor. As áreas abandonadas, onde deveriam ter sido construídas praças, quadras esportivas e até moradias sociais, permanecem esquecidas até hoje pela prefeitura. Lugares que viraram depósito de lixo e espaços perigosos devido ao risco de assaltos. Três exemplos são as proximidades da Ilha do Destino e do Paraíso, em Boa Viagem – duas das comunidades que permaneceram às margens do corredor –, e da Areinha, comunidade localizada no Pina e que tem sofrido com a violência por causa da indefinição do uso da área onde funcionava o Aeroclube de Pernambuco – retirado do local para permitir a construção da Via Mangue.  

 

FJ140318007 -
FJ140318017 -
FJ140318022 -

Na Ilha do Destino, por exemplo, os moradores ocuparam uma área às margens do corredor para evitar novas invasões e mais degradação. Improvisaram um espaço para uso comunitário, com direito até a uma piscina de plástico, e plantaram algumas mudas que agora começam a crescer e a dar um pouco de sombra. Mas o lixo permanece. “Um dos moradores tomou a frente porque a prefeitura e a construtora da Via Mangue deixaram tudo abandonado. Inclusive com esgoto a céu aberto.

A promessa era de construção de uma praça e de uma quadra de futebol em cada uma das esquinas da entrada da Rua José Maria de Miranda. Mas nada foi feito”, critica Maria Aparecida, moradora da Ilha do Destino. Uma pequena praça foi construída um pouco antes, no cruzamento com a Rua Professor Eduardo Wanderley Filho, no Paraíso, graças a articulação de líderes comunitários com políticos. E, mesmo assim, é pouco utilizada por ser perigosa, denunciam moradores. No Pina, o abandono do terreno onde funcionava o Aeroclube de Pernambuco é o que incomoda as pessoas que residem na Areinha. O amplo terreno tem uma segurança privada restrita, que não consegue abranger todo o espaço.

O resultado são inúmeras queixas. “Esperamos até hoje a construção do que foi prometido quando retiraram o Aeroclube. Eram habitacionais, praças, posto de saúde e creche. A prefeitura faz reuniões mensais com a comunidade, mas ainda não temos qualquer previsão”, lamenta Cristiane Maria da Silva, diarista e moradora.

 

FJ140318019 -
FJ140318020 -
FJ140318012 -

A Prefeitura do Recife garante estar atenta a tudo o que está acontecendo com a Via Mangue e aguardando a conclusão da obra – ainda não entregue à gestão municipal oficialmente – para dar uma repaginada no equipamento. “Vamos repor os equipamentos furtados de uma só vez, quando todo o corredor estiver finalizado e formos entregá-lo à Caixa Econômica Federal (CEF).

Não adianta repor agora porque haverá novos furtos. A Via Mangue está 98% pronta, mas faltam algumas obras complementares de acesso viário e intervenções urbanísticas no entorno. A licitação para realizá-las já foi feita”, explica o secretário de Infraestrutura e Serviços Urbanos do Recife, Roberto Gusmão. Há três anos, a Via Mangue enfrentou, por um período sequenciado, diversos furtos da fiação elétrica que, por diversas vezes, deixaram o corredor sem iluminação. Depois de muitas críticas, a prefeitura instalou câmeras de segurança para inibir os furtos.

Essas câmeras, que poderiam ajudar a inibir o roubo dos gradis, não existem mais. Segundo os moradores, foram retiradas pelo próprio município. Segundo Roberto Gusmão, os problemas de furto de fiação acabaram porque a gestão trocou o material. No lugar do cobre, passou a utilizar o alumínio, que é mais leve e tem valor de reciclagem muito menor do que o cobre.

 

Foto: Felipe Ribeiro/JC Imagem

 

O QUE FALTA

Segundo a prefeitura, as obras remanescentes da Via Mangue já foram licitadas e vão custar R$ 2,8 milhões. Serão feitos serviços de pavimentação e drenagem de três ruas que, futuramente, estarão ligadas à Avenida República do Líbano, no Pina. Também será realizada a pavimentação da Avenida Saturnino de Brito, construída uma rampa de acesso ao belvedere da alça da Ponte Paulo Guerra, além de serviços de iluminação pública, urbanismo e paisagismo também no Pina. A Empresa de Urbanização do Recife (URB) aguarda apenas a sinalização da CEF sobre a liberação dos recursos para dar início às intervenções. A Via Mangue é um equipamento de quase R$ 500 milhões. A Prefeitura do Recife investiu R$ 412 milhões, sendo R$ 81 milhões de recursos próprios e R$ 331 milhões de financiamento, enquanto o governo federal entrou com R$ 19 milhões – resultando no montante de R$ 431 milhões de investimentos. O orçamento inicial era de R$ 319,8 milhões, com a licitação realizada em 2011.

 

LEIA TAMBÉM

Via Mangue começa a sofrer com favelização

O melhor da conclusão da Via Mangue: A Faixa Azul para os ônibus na Conselheiro Aguiar vai virar realidade!

Via Mangue, agora, será uma via que vai e volta

 

Sobre a reurbanização das áreas às margens do corredor, a prefeitura voltou a afirmar estar estudando, junto com os moradores, o melhor uso para o terreno do antigo Aeroclube. “O objetivo é dar ao terreno um uso público diversificado que contemple tanto a questão da habitação de interesse social – que faz parte da proposta original para a área – , quanto outros equipamentos de serviço para a cidade, devido ao posicionamento estratégico e tamanho do terreno”, diz a gestão, em nota.

Últimas notícias