Ciclofaixas móveis completam cinco anos - cultura ciclável ou puro modismo?

Publicado em 31/03/2018 às 18:00 | Atualizado em 02/06/2020 às 14:18
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Foto: Reprodução Cicloação Recife  

Há cinco anos, o Recife brincava de ser Amsterdã, a avançada – sob todos os aspectos – capital holandesa. A gestão Geraldo Júlio lançava as Ciclofaixas Móveis de Turismo e Lazer, rotas temporárias para as bicicletas somente aos domingos e feriados, que cortam 30 bairros e interligam algumas áreas das Zonas Norte, Sul e Oeste ao Marco Zero da capital. Foram um sucesso e continuam sendo bem aproveitadas pela população, é fato.

E, mais do isso, seguem como uma das principais vitrines políticas da prefeitura. Rendendo, inclusive, bons frutos com a imagem de uma cidade sustentável, redescoberta pelos moradores, feita para as pessoas. Até aí tudo bem, só temos o que comemorar. Mas passados esses cinco anos, os ciclistas diários – aquelas pessoas que usam ou gostariam de fazer uso da bicicleta como meio de transporte e, não, apenas como passeio aos domingos e feriados – começaram a questionar se já não estaria na hora de as ciclofaixas móveis virarem permanentes?

Ao menos em alguns trechos? Para apimentar ainda mais a discussão, surge a informação de que o custo da operacionalização dos equipamentos está sendo bancado pela Prefeitura do Recife. O banco Itaú, que financiou as ciclofaixas móveis desde o começo, suspendeu o patrocínio em outubro de 2016, mas fez uma pequena prorrogação para março de 2017. Desde então, é a gestão municipal quem financia o projeto.

 

E operacionalizar as três rotas das Ciclofaixas Móveis de Turismo e Lazer do Recife não é barato. Custa, em média, R$ 1 milhão por ano. Na verdade, são R$ 20.964,11 por evento, ou seja, para cada domingo ou feriado, segundo informações da Secretaria de Turismo, Esporte e Lazer da capital (Setur). Os recursos, inclusive, saem da pasta.

Os ciclistas, representados pela Associação Metropolitana de Ciclistas (Ameciclo), questionam exatamente a lógica desse custo. “A implantação da estrutura cicloviária, que fará as pessoas usarem, de fato, a bicicleta como transporte, não avança porque a principal desculpa da prefeitura é que não há recursos para investir. Então porque, no lugar de gastar com as ciclofaixas móveis não usamos o recurso para transformar parte em permanente”, questiona Cezar Martins, da Ameciclo.

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Na visão dos ciclistas, a ciclofaixa de lazer é uma primeira etapa para começar uma mudança cultural. Mas depois ela precisa evoluir. “A ciclofaixa de lazer, sozinha, não cria a cultura da bicicleta. Ela é uma moda e toda moda passa com o tempo. Para se criar a cultura da bicicleta como transporte não pode ser apenas aos domingos. Até porque a sociedade já incorporou a cultura do carro porque é colocado para a gente, não só com propagandas, mas pela forma como a cidade é planejada, que o automóvel é algo essencial para se locomover e usar o dia inteiro”, pondera o cicloativista.

 

 

E como o principal motivo para as pessoas não usarem a bicicleta é a falta de infraestrutura e segurança viária, transformar trechos das móveis em permanentes seria um excelente estímulo. “Mesmo que a prefeitura diga que o custo continuará existindo para manter parte das ciclofaixas móveis, já teríamos o ganho de estimular mais pessoas a pedalar em outros dias da semana além dos domingos.

Com segurança, protegidas do tráfego, as pessoas usam mais a bicicleta”, defende. Como exemplo dessa transformação, a Ameciclo cita a Avenida Mário Melo, que é um dos eixos da rota Norte das ciclofaixas móveis e tem a promessa de virar permanente desde setembro do ano passado. Outra possibilidade, também na rota Norte, seria a ligação composta pelas Ruas Amélia, Buenos Ayres, Doutor Leopoldo Lins e dos Palmares, e a Avenida Mário Melo. “Seria uma ligação do bairro das Graças até o Bairro do Recife utilizando a estrutura existente, que faz parte das ciclofaixas móveis”, cita Cezar Martins. Roderick Jordão, também da Ameciclo, lembra que a sinalização da ciclofaixa móvel nesse trecho já é respeitada por muitos motoristas. “Uso muito essa rota e quando estou sobre a sinalização é como se a ciclofaixa estivesse permanente. Muitos condutores já se acostumaram a respeitar”, diz.  

 

A Prefeitura do Recife, entretanto, não tem a mesma opinião sobre a transformação das rotas móveis em permanentes. Ana Paula Vilaça, Secretária de Turismo, Esporte e Lazer do Recife explica: “É preciso deixar muito claro para a sociedade qual o objetivo das ciclofaixas móveis. Elas foram criadas para estimular a ocupação da cidade, fazer as pessoas saírem às ruas para pedalar, contemplar, se exercitar e viver a cidade. Por isso as três rotas chegam até o Bairro do Recife, passando por nossas pontes, museus e monumentos históricos. Já a implantação da malha ciclável permanente é outra coisa. Tão importante quanto as de lazer, mas ligadas a pastas diferentes, com orçamentos diferentes”, argumenta.

A possibilidade de o projeto ser suspenso, garante a secretária, está fora de cogitação. As ciclofaixas móveis são algo que não pertence mais à gestão municipal. Viraram pertencimento da cidade. Mesmo sem um patrocinador privado. Algo como o Programa Bolsa Família, do governo federal, que nenhum político, independentemente do partido, se atreve a extinguir. “Costumamos dizer que as ciclofaixas móveis não são mais um projeto da prefeitura. É da cidade, sem volta. De fato, a saída do patrocinador privado é ruim e exige da prefeitura a cobertura dessa despesa, mas essa decisão foi tomada.

Abri mão e reduzi recursos de outros projetos para garantir as ciclofaixas móveis e é o que continuaremos fazendo. Na Setur ele é prioridade número um. Ele e as Academias Recife, que também não mexemos de forma alguma”, garante a secretária. Não há, entretanto, previsão de expansão do projeto por enquanto.

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