Sistema inaugurado em São Paulo permite que o ciclista fique com a bicicleta por 12 horas. Fotos: Divulgação/Itaú
Que os sistemas de compartilhamento de bicicletas públicas são um sucesso, não há mais dúvidas. Agora, o desafio é ampliá-los não só nas áreas de classe média e centrais, mas levá-lo a outras centralidades mais afastadas do Centro das cidades. Fazê-lo sair do mundo da classe A e B e chegar à periferia. E, o que é principal, de forma que a população consiga usar. Fortaleza, no Ceará, que virou case de sucesso da mobilidade urbana, principalmente a ativa, teve essa visão dois anos atrás com o Bicicleta Integrada, que permite ao ciclista permanecer com a bike por 14 horas. Agora, mais um projeto semelhante foi lançado, dessa vez em São Paulo, o Estação Bike, que também estimula a última perna do deslocamento da população: o percurso trabalho-casa. Na Região Metropolitana do Recife, entretanto, nada previsto por enquanto.
É o lado social visto com prioridade. Quando estimulamos a integração entre os modais estamos atendendo a essas pessoas que residem distante do Centro. É a última perna do deslocamento para elas. O bike share, geralmente, é a primeira perna”, Maurício Villar, diretor de operações da Tembici
Os dois sistemas estão instalados em terminais integrados de ônibus, premissa para o caráter social e operacional dos projetos. A ideia é que os ciclistas possam levar as bikes para casa e devolvê-las no outro dia. No modelo tradicional dos sistemas de bike sharing, o prazo de 1h (ou de 2h, no caso do Bike PE aos domingos e feriados) é insuficiente para o deslocamento na periferia e, o que é fundamental, não funciona porque não existem estações para devolução das bicicletas. O Estação Bike, lançado na semana passada em São Paulo com patrocínio do Banco Itaú Unibanco e operado pela Tembici, tem um prazo de permanência com a bicicleta menor do que o de Fortaleza. São 12 horas, duas a menos do que o dos cearenses. Mas, mesmo assim, é um intervalo que permite opções aos trabalhadores. A concepção de descentralizar o compartilhamento das bicicletas públicas se confirma no fato de que o projeto-piloto paulistano foi instalado no Terminal Cidade Tiradentes, localizado no extremo da Zona Leste de São Paulo, a 40 km do Centro.
O bairro de Cidade Tiradentes é caracterizado pelo uso intenso da bicicleta para deslocamentos locais. Além disso, a região é populosa e grande parte de seus moradores utiliza os ônibus que saem do terminal para ir ao trabalho e voltar para casa. “É o lado social visto com prioridade. Quando estimulamos a integração entre os modais estamos atendendo a essas pessoas que residem distante do Centro. É a última perna do deslocamento para elas. O bike sharing, geralmente, é a primeira perna”, explica Maurício Villar, diretor de operações da Tembici. No Terminal Cidade Tiradentes existem 140 vagas para bicicletas: 70 do programa Bike Sampa, na cor laranja, e 70 para ciclistas que já têm sua bike própria.
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O exemplo que vem de Fortaleza
Múltiplos parceiros, além do Itaú, para o Bike PE avançar na Região Metropolitana do Recife
O Estação Bike, assim como o cearense Bicicleta Integrada, fazem parte de licitações públicas. No caso de São Paulo, o modelo integra o projeto Bike Sampa, que assim como em todas as praças operadas pelo Itaú foi reformulado e adotou a tecnologia da canadense PBSC, utilizada em sistemas mundiais. Pelo contrato, São Paulo terá que receber outros quatro Estação Bike em terminais integrados. Em Fortaleza, a prefeitura fez uma licitação à parte do Bicicletar, o sistema oficial de compartilhamento de bicicletas públicas da capital cearense. São dois projetos diferentes.
MAIS DIFERENÇAS Há mais diferenças entre os dois sistemas e nelas o cearense leva vantagem quando a ótica é a do usuário. Enquanto o Estação Bike é pago, seguindo os mesmos valores cobrados nos planos do Bike Sampa, o Bicicleta Integrada é gratuito. Mas é preciso o cadastro e, no caso de descumprimento dos prazos de devolução, o usuário vai sendo bloqueado por períodos e fica impedido de utilizar novamente o sistema. Além disso, o modelo cearense já conseguiu o que o Itaú vem estimulando nos últimos tempos como forma de sobrevivência da cultura da mobilidade ciclável: encontrar novos parceiros para os projetos de compartilhamento de bicicletas públicas. Empresas e marcas que apostem na mobilidade ativa como o Itaú fez seis anos atrás, quando começou com o Bike Rio.
O Bicicleta Integrada tem três parceiros privados e mega estações de 50 bicicletas cada uma, em oito terminais integrados de ônibus de Fortaleza. “Nossa proposta é que os passageiros do transporte público possam utilizá-las para fazer deslocamentos mais longos e, até, levá-las para casa. Também não há multa, já que não é cobrada taxa pelo uso. Quem extrapola o período, tem a utilização bloqueada. Para cada uma hora excedida, o uso fica suspenso por um dia”, explicou Gustavo Pinheiro, engenheiro de transporte da Prefeitura de Fortaleza, em entrevista ao Blog De Olho no Trânsito quando o projeto foi lançado. Maurício Villar, da Tembici pondera, entretanto, que o caráter integrado do Estação Bike com o Bike Sampa é um diferencial que facilita. Em Fortaleza, o usuário precisa ter dois cadastros distintos para usar o Bicicleta Integrada e o Bicicletar. Independentemente das características de cada um dos projetos, os dois promovem a inclusão social na mobilidade e deixam no ar a pergunta: quando a Região Metropolitana do Recife terá um sistema desses?
Fortaleza tem o Bicicleta Integrada há dois anos, não cobra pelo serviço e o prazo de permanência com a bike é de 14h. Foto: Divulgação