Prefeitura do Recife promete a rendenção da Avenida Conde da Boa Vista

Publicado em 09/11/2018 às 12:03 | Atualizado em 25/05/2020 às 11:20
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O projeto para a nova Conde da Boa Vista vai custar R$ 15 milhões, um milhão a mais do que foi gasto em 2008, quando a via foi adaptada para virar o chamado Corredor Leste-Oeste. Fotos: Felipe Ribeiro/JC Imagem  

 

As promessas da Prefeitura do Recife são muitas e, pelo que está projetado, a cidade ganhará uma nova Avenida Conde da Boa Vista, no Centro, em dois anos e ao custo de R$ 15 milhões – recursos exclusivamente do município. A degradação física que há mais de quatro anos virou marca do corredor terá fim. Eixo viário fundamental para o transporte público não só da capital, mas de toda a Região Metropolitana, a via passará, a partir de março de 2019, por um grande transformação que elevará o pedestre e o passageiro do ônibus a atores principais.

Haverá o que o município chama de humanização do corredor, por onde passam 300 mil pessoas por dia. As paradas dos ônibus convencionais voltarão para a lateral da avenida, enquanto as estações de BRT serão reduzidas de seis unidades improvisadas para duas definitivas que terão 60 metros de comprimento e ficarão no centro da via. A avenida ganhará um canteiro central verde em quase toda sua extensão, ora intercalado por travessias de pedestres, ora pelas estações de BRT. Haverá ampliação das calçadas e da arborização, além da substituição de toda a iluminação do corredor, que passará a ser central e toda em LED. Para quem já acompanhou as últimas duas requalificações do corredor realizadas por gestões municipais passadas – a de 2008, ainda na gestão do PT, que custou R$ 14 milhões, e outra custeada pelo Estado em 2012/2013 para adaptá-la a receber o BRT, até hoje incompleta – , a euforia da Prefeitura do Recife pode parecer exagerada, mas os técnicos municipais envolvidos no projeto garantem que dessa vez as mudanças serão acertadas. Nas promessas deles, será a redenção do corredor, um dos principais símbolos da cidade e a “avenida de todo mundo”, como a diretora de Manutenção Urbana do Recife, Fernandha Batista, definiu durante a coletiva realizada, ontem, para apresentar as intervenções.

Não é à toa que o projeto está sendo chamado de A Nova Conde da Boa Vista. “O projeto está sustentado em quatro eixos, que são a mobilidade do pedestre, do passageiro do ônibus e do ciclista, vegetação, mobiliário, infraestrutura urbana e a interface arquitetônica. Vamos transformar a Conde da Boa Vista novamente numa avenida acolhedora e arborizada, com conforto e segurança para o pedestre, fluidez para o transporte público, infraestrutura urbana adequada e respeito ao valor histórico da via. Uma avenida que estimule o comércio e a convivência com a cidade”, resumiu a diretora.

A AVENIDA CONDE DA BOA VISTA DOS SONHOS, PROJETADA PELA PREFEITURA DO RECIFE:

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Imagem divulgada pela Prefeitura do Recife de como fciará a Avenida Conde da Boa Vista após a requalificação
6 - Imagem divulgada pela Prefeitura do Recife de como fciará a Avenida Conde da Boa Vista após a requalificação

Os pedestres são a bola da vez. O número de travessias aumentará de cinco para 13, o que representará seis vezes mais oportunidades para cruzar o corredor. Serão implantadas 15 travessias elevadas nas vias transversais à avenida e, segundo a prefeitura, dois mil metros quadrados de novas calçadas. “Haverá uma redução de 50% no tempo de espera do pedestre para fazer a travessia da avenida”, reforça Fernandha Batista. Para o passageiro do transporte público, os planos são de total reconstrução da estrutura existente e totalmente degradada da via. As 14 paradas de ônibus serão trocadas e passarão a ser 20, todas de vidro. A ideia do município é aumentar a capacidade de embarque e desembarque nos coletivos ao retornar as paradas para a calçada – era assim antes da reforma de 2008. A AVENIDA CONDE DA BOA VISTA NA VIDA REAL:

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Fotos: Filipe Ribeiro/JC Imagem
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A largura das estações, inclusive, é hoje a principal reclamação dos passageiros. Outra mudança é em relação ao BRT, que terá apenas duas estações centrais, refrigeradas, com quatro metros de largura e 60 metros de comprimento. Ficarão situadas na altura das Ruas da Soledade e Gervásio Pires. “Embora a quantidade tenha sido reduzida de seis para duas, serão estações com capacidade para o embarque e desembarque de dois BRTs ao mesmo tempo. Os locais foram escolhidos fundamentados nas pesquisas de origem e destino realizadas anteriormente.

Houve um momento em que se cogitou tirar os ônibus convencionais do corredor, mas são 49 linhas que saem de toda a Região Metropolitana. Seria impossível”, explicou a arquiteta Maria Eduarda Campos, coordenadora do projeto. Na prática, apesar do valor de R$ 15 milhões, serão feitas poucas obras físicas no corredor. As principais serão as estações do BRT, projeto que ainda será detalhado. Haverá investimento também na iluminação, toda em LED, na implantação de equipamentos urbanos, como lixeiras e bicicletários, em 700 metros de uma nova rede de drenagem, em sete circuitos interligados de rede semafórica e na arborização da via, que ganhará 99 novas árvores, além de um canteiro central ajardinado com 2.361 metros quadrados. “A requalificação da Avenida Conde da Boa Vista já está sendo licitada. Duas licitações foram publicadas no Diário Oficial do Município, nos dias 1º e 6 de novembro, referentes aos passeios públicos e à iluminação, respectivamente. A previsão é de que os trabalhos comecem em março de 2019, após o Carnaval, e durem 18 meses”, disse o secretário de Infraestrutura do Recife, Roberto Gusmão.

A conclusão estimada, se tudo der certo, é para setembro de 2020. O estudo que viabilizou o projeto foi financiado pelo Sindicato das Empresas de Transporte de Passageiros de Pernambuco (Urbana-PE). “Todo mundo diz ser impossível andar na Conde da Boa Vista, que a via perdeu seu charme, com o comércio e prédios fechados. Cobravam uma reação eficaz da prefeitura e ela agora está sendo feita. A Conde da Boa Vista é um grande terminal de ônibus e continuará sendo. Mas requalificada, com conforto e segurança para o pedestre e o passageiro. Vamos mudar a cara da Boa Vista”, garantiu o secretário de Mobilidade do Recife, João Braga.

 

 

   

 

MAIS RESTRIÇÃO PARA O CARRO O transporte individual, que já não tem muita vez na Avenida Conde da Boa Vista, perderá ainda mais espaço com o projeto de requalificação da via apresentado pela Prefeitura do Recife. A proposta é restringir mais a circulação dos veículos particulares ao longo do corredor para forçá-los a utilizar outras vias do bairro da Boa Vista. A principal mudança acontecerá no tráfego que sai do subúrbio para o Centro do Recife. Vale ressaltar que os carros representam menos de 10% da circulação da via, enquanto 50% está nos ônibus e 40% são pedestres. Nesse sentido, os carros serão obrigados a trafegar na Conde da Boa Vista apenas para acesso local dos prédios e comércios. Será possível chegar até a Rua do Hospício, como é atualmente, mas terão que circular por apenas uma quadra, tendo que entrar à direita em seguida para não serem multados. Quatro novos equipamentos de fiscalização eletrônica serão instalados no trecho. No sentido cidade–subúrbio não haverá restrição de circulação. Continuará valendo as regras atuais, com os veículos particulares podendo circular apenas a partir da Rua do Hospício.

  “De fato, queremos uma Avenida Conde da Boa Vista voltada para o pedestre e o transporte público. Nem há espaço para dividi-lo com os veículos particulares em geral. Essa medida vai permitir a redistribuição do espaço público: pedestres vão ter mais espaço nas calçadas, os abrigos de ônibus e estações de BRT serão mais confortáveis e o importante corredor de transporte público será fortalecido, com mais efetividade na operação dos ônibus e BRT”, explicou a presidente da CTTU, Taciana Ferreira. O desestímulo à circulação de veículos particulares na Avenida Conde da Boa Vista já foi uma das marcas do projeto de requalificação de 2008. Com a transferência das paradas de ônibus para o centro da via, já que o corredor de transporte também foi centralizado, os automóveis, caminhões e motos ficaram com uma única faixa à direita da avenida, nos dois sentidos.

COMÉRCIO INFORMAL Outra promessa da Prefeitura do Recife é que, casado com a requalificação da Conde da Boa Vista, será feito o ordenamento do comércio informal, hoje o principal problema do corredor. Segundo o secretário de Mobilidade do Recife, João Braga, apenas 40 fiteiros serão instalados ao longo da avenida. “Os ambulantes cadastrados na prefeitura serão alocados nesses fiteiros e o restante será transferido para os dois imóveis que o município já adquiriu e que funcionará como uma centro de vendas”, explicou, mas sem dar uma data certa. “Tudo acontecerá em paralelo”, garantiu.

CICLISTAS GANHARÃO ROTAS CICLÁVEIS NO ENTORNO Os ciclistas não foram diretamente privilegiados no projeto da nova Avenida Conde da Boa Vista. Embora o Plano Diretor Cicloviário (PDC) da Região Metropolitana do Recife – pronto desde 2013 – tenha previsto uma ciclovia no corredor, a dificuldade em garantir a segurança do tráfego de bicicletas, segundo o corpo técnico municipal, impossibilitou a implantação da estrutura na via. Para compensar, entretanto, o projeto prevê uma malha ciclável entre 12 e 14 quilômetros de ciclofaixas (quando a segregação do tráfego não é total, sendo feita com tachões) a ser construída em vias do entorno e que se interligará com a Conde da Boa Vista.

“Tentamos, mas não foi possível. Não tínhamos calha na via para acomodar uma ciclovia sem comprometer a circulação dos ônibus e a segurança de ciclistas e pedestres. Colocar um equipamento compartilhado na calçada também seria impossível. Estamos falando da circulação de 310 mil pessoas, sendo que menos de 1% são ciclistas. Por isso, estruturamos uma rota no entorno que cortará a avenida por quatro vias, permitindo todo o acesso de quem pedala ao corredor”, explicou Maria Eduarda Campos, coordenadora do projeto.

 

Os ciclistas poderão acessar a Avenida Conde da Boa Vista através da Rua da Aurora, do Beco do Estudante e das Ruas Gonçalves Maia e José de Alencar, que ganharão ciclofaixas. O percurso em paralelo com a Avenida Conde da Boa Vista será realizado através da Rua João Fernandes Vieira, Avenida Oliveira Lima e Rua do Riachuelo (chegando até a Rua da Aurora).

Através desta última, será realizada a conexão com o Eixo Estruturador Camilo Simões. Além da integração em rota paralela com a Avenida Conde da Boa Vista, a nova rota permitirá a conexão com o Eixo Estruturador Camilo Simões, inaugurado em abril de 2017. Também haverá ligação pela Rua Bispo Cardoso Ayres com a ciclovia permanente da Avenida Mário Melo, prometida pela CTTU há quase dois anos. Também faz parte da malha proposta uma nova estrutura cicloviária ao longo da Rua José de Alencar até a Praça Miguel de Cervantes, que atenderá ao bairro dos Coelhos e da Ilha do Leite. Seis novos bicicletários serão construídos no corredor.

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