Desestímulo ao carro na Avenida Conde da Boa Vista

Publicado em 19/12/2018 às 8:00 | Atualizado em 25/05/2020 às 10:34
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Estratégia da prefeitura é desativar diversos estacionamentos gratuitos existentes nas ruas do entorno da Conde da Boa Vista, como a Rua do Progresso. Fotos: Guga Matos/JC Imagem.  

A abordagem do terceiro dia da série A Nova Conde da Boa Vista mostra que os planos da Prefeitura do Recife são de dificultar o acesso do transporte individual ao corredor central. As restrições de circulação e a fiscalização aumentarão.

  Pelo menos nos planos da Prefeitura do Recife, os veículos particulares terão cada vez mais dificuldades para circular pela Avenida Conde da Boa Vista, um dos eixos principais para o sistema de transporte público não só do Recife, mas de toda a Região Metropolitana. A ideia da gestão municipal, dentro do projeto de requalificação da avenida – chamado de Nova Conde da Boa Vista –, é criar entraves para que não compense ao motorista utilizar a via. Para que ele se sinta desmotivado e a utilize apenas se for acessar o comércio ou as residências do corredor. Entre os entraves para o carro, o reforço da fiscalização eletrônica restringindo a circulação e o aumento do tempo e da quantidade de travessias, inclusive elevadas, para os pedestres.

A possibilidade de proibir o tráfego de veículos particulares na Avenida Conde da Boa Vista foi descartada novamente – no projeto de 2008, quando a via ganhou o corredor de ônibus com as paradas centrais, também chegou a ser cogitado – porque existem 370 estabelecimentos comerciais e 1.500 unidades habitacionais instaladas na avenida. Um volume de pessoas que precisa chegar e sair, embora o transporte individual represente apenas 10% da circulação diária do corredor. Na verdade, segundo os estudos da gestão municipal, as pessoas chegam e saem da avenida é no transporte público (50%) e a pé (40%).

 

No sentido Centro-subúrbio, a restrição ao transporte individual continuará a mesma. Os veículos particulares poderão acessar o corredor a partir da Rua do Hospício e seguir nele até a Agamenon Magalhães ou a Rua Dom Bosco, por exemplo. As principais mudanças acontecerão no sentido subúrbio-Centro. Será nele que a restrição será maior. No lugar de seguirem em frente até a Rua do Hospício, como acontece hoje, os carros só poderão circular por uma quadra, sendo obrigados a entrar à direita. A prefeitura diz que vai instalar radares para autuar os condutores que desrespeitarem as regras de giro de quadra e insistirem em percorrer duas ou mais quadras, por exemplo.

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“Nós vamos, de fato, desestimular a presença de veículos particulares na Conde da Boa Vista. Queremos que as pessoas cheguem e saiam do corredor no transporte público ou a pé. Queremos que o acesso no transporte individual, por exemplo, seja apenas para quem precisa acessar os lotes da via. Gente que precisa ir aos estabelecimentos comerciais ou às moradias existentes. Não queremos o tráfego de passagem para entrar ou sair do Centro. Esse tráfego, de certa forma, já foi restringido com o projeto da antiga gestão. Mas agora queremos restringir ainda mais”, avisa a presidente da Autarquia de Trânsito e Transporte Urbano do Recife (CTTU), Taciana Ferreira.

 

 

IMPACTO DO ÔNIBUS

Além da indução forçada pela fiscalização eletrônica, os motoristas de veículos particulares ainda terão outro fator desestimulante para utilizar a Avenida Conde da Boa Vista como via de passagem. Como as paradas dos ônibus convencionais serão transferidas de volta para as calçadas, à direita do corredor, os carros terão que disputar espaço.

Para dificultar ainda mais a circulação do transporte individual, os BRTs estarão trafegando nas pistas centrais da avenida, já que as estações de embarque e desembarque serão construídas no canteiro central da via. “De fato, queremos uma Avenida Conde da Boa Vista voltada para o pedestre e o transporte público. Nem há espaço para dividi-lo com os veículos particulares em geral. Essa medida vai permitir a redistribuição do espaço público: pedestres vão ter mais espaço nas calçadas, os abrigos de ônibus e estações de BRT serão mais confortáveis e o importante corredor de transporte público será fortalecido, com mais efetividade na operação dos ônibus e BRT”, reforça Taciana Ferreira.

Rua da Soledade é outra via citada pela CTTU que poderá perder estacionamentos gratuitos Nas ruas, as pessoas que usam o carro para chegar e sair da região da Conde da Boa Vista são só apreensão. Principalmente pelo fato de que vagas de estacionamento serão suprimidas. “Eles vão acabar de vez com o comércio da avenida.

E se tiraram as vagas de estacionamento da Rua do Progresso (na Boa Vista), por exemplo, ainda vão prejudicar as pessoas, muitas delas do interior, que vêm ao Centro em busca de médicos. Que pelo menos tirem as vagas de um único lado”, critica o flanelinha José Fábio de Santana. O taxista Bruno de Carvalho, que costuma ficar no ponto da Rua do Progresso também é contra. “O que a prefeitura precisa é usar um sistema de semáforos inteligentes. Esse é o problema dessa região. É preciso investimento em tecnologia, coisa que eles não fazem. Também é preciso rever o sentido de algumas vias, que poderiam funcionar como retorno”, sugere. A CTTU diz que está previsto nos R$ 15 milhões do projeto de requalificação da Conde da Boa Vista a instalação de sete circuitos interligados de rede semafórica, o que fará a diferença na região, principalmente para os veículos que utilizarão as vias que cortam o corredor. Hoje, são circuitos isolados, sem comunicação entre si.

 

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