Promessa de que a mobilidade a pé terá destaque na nova Conde da Boa Vista. Mas e os camelôs?

Publicado em 20/12/2018 às 8:00 | Atualizado em 25/05/2020 às 10:28
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Prefeitura jura que os pedestres terão vez no corredor, mas atualmente a dificuldade de caminhar é grande devido à granda quantidade de camelôs em trechos da via. Fotos: Guga Matos/JC Imagem  

 

No último dia da série de reportagens sobre A Nova Conde da Boa Vista o olhar é sobre o pedestre, considerado a grande estrela do projeto. Mas como dar vez ao caminhar com a desordem urbana que domina o corredor?  

A mobilidade a pé será, pelo menos no discurso da Prefeitura do Recife, a grande estrela do projeto de requalificação da Avenida Conde da Boa Vista, no Centro da capital, que está sendo chamado de A Nova Conde da Boa Vista. A promessa é de que as pessoas que caminham serão elevadas a protagonistas no corredor. Que os 130 mil caminhantes diários da via – o que representa 40% de todo o movimento da avenida – contarão com quase três vezes mais pontos de travessia, irão esperar metade do tempo para atravessar a Conde da Boa Vista, também terão mais segurança viária, arborização, iluminação e infraestrutura, como fiteiros e lixeiras, no corredor. E que o comércio informal – hoje o principal obstáculo ao caminhar na via – será ordenado e retirado da avenida. Ou seja, haverá a humanização do corredor.

 

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As promessas são de que o número de travessias ao longo da avenida aumentará de cinco para 13, o que representará seis vezes mais oportunidades para cruzar o corredor. Que serão implantadas 15 travessias elevadas nas vias transversais à via e, segundo a prefeitura, dois mil metros quadrados de novas calçadas. Também serão implantados 13 sinais sonoros. Atualmente a via conta com quatro. “Com as mudanças que iremos promover haverá, de fato, uma redução de 50% no tempo de espera do pedestre para fazer a travessia da avenida. Iremos promover a humanização do corredor, por onde passam 300 mil pessoas por dia. Mesmo as pessoas que estão nos ônibus em algum momento são pedestres. Por isso eles são o nosso principal foco”, garante a diretora de Manutenção Urbana do Recife, Fernandha Batista.

 

 

Só o fato de as paradas das linhas de ônibus convencionais retornaram para as calçadas já proporcionará, na visão da gestão municipal, mais segurança aos pedestres que buscam os ônibus. Além disso, a avenida ganhará um canteiro central verde em quase toda sua extensão, ora intercalado por travessias de pedestres, ora pelas duas estações de embarque e desembarque projetadas para o BRT.

Haverá, ainda, a ampliação da arborização, além da substituição de toda a iluminação do corredor, que passará a ser central e toda em LED. “Essa iluminação, inclusive, terá o foco no pedestre e não apenas na via. Será semelhante ao que implantamos nas Avenidas Agamenon Magalhães, Norte e Recife, por exemplo. O pedestre, de fato, terá destaque. Tudo pensado para ele”, explica a diretora.

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Fotos: Felipe Ribeiro/JC Imagem
ped5 - Fotos: Felipe Ribeiro/JC Imagem

A arborização, outro aspecto fundamental para o caminhar – além das calçadas, da travessia e da iluminação –, também está entre as promessas da prefeitura. O projeto A Nova Conde da Boa Vista prevê o plantio de 90 novas árvores (espécies, entretanto, não foram detalhadas), o que proporcionaria 18 vezes mais áreas verdes no corredor. Além do canteiro central ajardinado, 135 floreiras seriam instaladas nas calçadas.

COMÉRCIO INFORMAL

O principal desafio para o caminhar na Avenida Conde da Boa Vista, entretanto, será o comércio informal. Hoje, ser pedestre na via é desafiar os ambulantes continuadamente, principalmente em alguns trechos, como os quarteirões próximos ao Shopping Boa Vista, entre as Ruas José de Alencar e Hospício. Mas o secretário de Mobilidade Urbana do Recife, João Braga, garante que apenas 40 ambulantes permanecerão na avenida e que o município não abrirá mão dessa decisão. Pelas contas de Braga, o município vai se guiar pelo cadastramento oficial dos comerciantes informais. “Quem não estiver cadastrado ficará de fora. Temos 94 profissionais cadastrados.

Quarenta deles ficarão nos fiteiros projetados para a Conde da Boa Vista. E os outros 54 serão realocados para ruas transversais. Esse foi o nosso compromisso. Mas o restante não terá vez. Isso é certo”, garantiu o secretário. Os ambulantes, inclusive, terão que atuar com mercadorias que possam ser comercializadas nos fiteiros. Ou seja, frutas, verduras e alimentação em geral não serão autorizadas.

“O pessoal cadastrado que atua com o comércio de alimentos será acomodado no imóvel que iremos retomar a construção na esquina da Rua da Saudade com a Rua do Riachuelo. Isso já é fato e deveremos começar no primeiro semestre do próximo ano. A transferência dos camelôs cadastrados e o ordenamento da Conde da Boa Vista acontecerá em paralelo com as obras e ações de requalificação, no decorrer do próximo ano”, garantiu Braga. Os camelôs, no entanto, já deram o recado: “A guerra está declarada. Se tentarem tirar os trabalhadores sem dar alternativa iremos tocar fogo na cidade. O comércio informal está em todo canto e temos força e união. Somos quase 500 ambulantes só nesse trecho. Você duvida que temos força para parar essa cidade?”, questiona Edvaldo Gomes, presidente do Sindicato do Comércio informal do Recife (Sintraci).

AÇÃO JUDICIAL

O descontrole do comércio informal na Avenida Conde da Boa Vista é tão prejudicial para o pedestre que, para garantir o ir e vir dos moradores, um condomínio acionou a Prefeitura do Recife judicialmente. O Edifício Rostand, quase na esquina da avenida com a Rua do Hospício, conseguiu, por decisão da Justiça, que fiscais permaneçam em frente ao imóvel para impedir que ambulantes se instalem no loca. “Brigamos por três anos e desde novembro de 2017 conseguimos a decisão favorável. Estava impraticável. Havia dias que não podíamos sair de casa. Eram mais de 30 instalados somente aqui, com carroças e todo tipo de produtos, principalmente frutas e verduras. Tivemos que agir. Lembrar o quanto pagamos de impostos”, conta Wanderley Costa, síndico do Rostand, edifício com 15 andares e 64 apartamentos.

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