Bikes sem estação e patinetes elétricos da Yellow no Recife

Publicado em 23/12/2018 às 13:08 | Atualizado em 25/05/2020 às 10:23
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Yellow e Prefeitura do Recife têm conversado. Discussão é se o projeto chegará ao Recife apenas como proposta turística ou se terá caráter de transporte. Fotos: Yellow/Divulgação  

 

O compartilhamento de bicicletas dockless (na tradução literal, sem cais. Ou seja, sem estação) e de patinetes elétricos da Yellow vai chegar ao Recife em breve. A expectativa oficial é de que estejam por algumas ruas da cidade até o Carnaval 2019. Conversas oficiais têm sido feitas entre a Prefeitura do Recife e a empresa para definir como e quando o novo serviço poderá ser liberado na cidade. Foram confirmadas pelo secretário de Desenvolvimento Sustentável e Meio Ambiente do Recife, Bruno Schwambach, e pelo diretor de Relações Públicas da Yellow, Ricardo Kaufman. Para quem não conhece, as bicicletas da Yellow são compartilhadas por aplicativos, mas sem estações físicas, como acontece com o Bike PE, sistema de bike sharing em operação há cinco anos na cidade e com números extremamente positivos. Ou seja, o usuário pega e deixa os equipamentos na rua, sobre as calçadas, bloqueando-os após o uso.

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Numa nova utilização, o futuro usuário faz o desbloqueio lendo o QRCode existente em cada bike. Os patinetes elétricos é que, por enquanto, ainda funcionam com estações. Inicialmente, a Yellow estaria presente no Centro do Recife e em Boa Viagem, na Zona Sul. Ainda não se sabe em qual quantidade. A Yellow é uma startup criada por gente do ramo da mobilidade: ex-CEO da Caloi e fundadores do app de transporte privado de passageiros 99, que posteriormente foi vendido para a chinesa Didi Chuxing. Já está presente em São Paulo, Rio de Janeiro, São José dos Campos (SP) e Florianópolis (SC) e chegará, em breve, a outras seis cidades brasileiras – Brasília (DF), Campinas (SP), Curitiba (PR), Vitória (ES), Porto Alegre (RS) e Belo Horizonte (MG) – e cinco da América Latina – Buenos Aires (Argentina), Bogotá (Colômbia), Santiago (Chile), Cidade do México (México) e Montevidéu (Uruguai). Como as conversas sobre a chegada da Yellow no Recife ainda estão sendo feitas, não se sabe qual o valor que será cobrado. Mas deverá ser barato, até porque as bicicletas não têm a robustes do sistema de compartilhamento operado pelo Itaú e a Tembici, empresa paulista que também começou a investir no aluguel de patinetes, iniciando pelo Rio de Janeiro numa parceria com Petrobrás. A expectativa é de que siga o padrão de outras cidades brasileiras onde a Yellow já opera, como São Paulo. No caso da bicicleta é cobrado R$ 1 para cada 15 minutos de uso e o usuário pode comprar créditos nos valores de R$ 5, R$ 10, R$ 20 e R$ 40. Se o valor não for totalmente usado fica como saldo. No caso dos patinetes, o custo é um pouco mais alto: R$ 3 para liberá-lo e R$ 0,50 por minuto de uso.

 

COMO FUNCIONA A utilização é semelhante a outros sistemas de compartilhamento, com a diferença de que existe um QRCode que permite o desbloqueio dos equipamentos. Após instalar o app e criar uma conta, é preciso saber quais as áreas da cidade que foram delimitadas para oferecer as bicicletas. Estando nelas, é só utilizar o mapa para localizar a bike mais próxima e comprar os créditos pelo app, que podem ser pagos com cartão de crédito ou no sistema Yellow pay, que ainda está sendo lançado pela empresa e aceitará dinheiro. Assim que encontrar a bicicleta clique em “iniciar viagem” dentro do app para escanear o QRCode e destravar a Yellow. Para finalizar a corrida basta fechar o cadeado manualmente. Os patinetes ainda funcionam com estações de devolução. Segundo a Yellow, em breve eles também serão dockless. O procedimento é o mesmo das bicicletas. A diferença é na finalização da viagem, feita diretamente no app e, não, manualmente.

CONFIRA O ESPECIAL #O EXEMPLODEFORTALEZA Ricardo Kaufman diz que o Yellow pay vai popularizar ainda mais o sistema porque permitirá o acesso das pessoas que não têm cartão de crédito. “Com o Yellow pay o usuário não precisará ter um cartão de crédito. Vamos credenciar comerciantes instalados na área de abrangência das bicicletas para que vendam os créditos para as pessoas que querem pagar em dinheiro. O comerciante é quem incluirá o crédito no app e o disponibilizará para os usuários. Assim não haverá a barreira do cartão de crédito. É um sistema que estamos testando e será utilizado em todas as cidades onde atuamos”, diz.

 

 

Patinetes elétricos teriam que ser usados em ciclofaixas ou nas calçadas, o que gera polêmica POLÊMICA A Yellow, entretanto, chega com polêmica porque os equipamentos têm gerado pequenos conflitos com os pedestres devido ao uso das calçadas.  No caso das bikes a questão é a forma como elas estão sendo “estacionadas” pelos usuários. Em muitos casos, são deixadas de qualquer jeito, atrapalhando a passagem das pessoas que estão caminhando. Como as bicicletas são distribuídas pelo método dockless, ficarão espalhadas pela cidade em locais variados, como calçadas, parques e áreas próximas de ciclovias. A orientação do app é para que os usuários as deixem em locais públicos que permitem o estacionamento de veículos em geral e não atrapalhem o tráfego de pedestres. Mas nem sempre isso é obedecido.

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Em relação aos patinetes, a polêmica envolve a velocidade desenvolvida e o uso, mais uma vez, sobre as calçadas. Até porque, diferentemente das bicicletas, os patinetes não podem circular na rua. Devem ser usados em ciclovias ou ciclofaixas e nos passeios públicos. A velocidade recomendada é de 6 km/h, mas para quem vive a mobilidade a pé é uma velocidade alta. “Os usuários de patinetes normalmente acabam optando majoritariamente por usar a calçada na total extensão do seu trajeto, transformando-se em mais uma classe de usuários das calçada, que já são poucas e ruins. Além disso, eles têm um padrão de velocidade muito mais alto em relação à velocidade do caminhar: aplicativos recomendam que os usuários de patinetes andem a 6 km/h ao utilizar calçadas, enquanto a velocidade média do pedestre está em torno de 4,5 km/h e a do idoso 3 km/h. O conflito é certo. Não somo contra a chegada desses equipamentos, ao contrário, porque é mais opção de mobilidade para todos. Mas é preciso criar regras”, pontua Meli Malatesta, especialista em mobilidade a pé e coordenadora da comissão de mobilidade a pé da Associação Nacional de Transportes Públicos (ANTP). Para a especialista, empresas como Yellow têm a missão de se engajar, juntamente com a sociedade civil, na reivindicação por mais espaços públicos de mobilidade. “Além da pressão política, as empresas poderão contribuir, através do potencial de recursos gerados pelos seus serviços para estabelecer parcerias com o poder público e apoiar a expansão e manutenção das infraestruturas que compõem as redes de mobilidade utilizada pelos seus clientes. Esta ação é boa como marketing pela adoção dos trechos da rede de calçadas, ciclovias ou ciclofaixas mais utilizadas nos percursos de seus veículos”, reforça.

 

O secretário de Desenvolvimento Sustentável e Meio Ambiente do Recife, Bruno Schwambach, responsável pelos primeiros contatos feitos com a Yellow, diz que o município está atento às regras que precisam ser estabelecidas para que a empresa opere na cidade. “Temos essas mesmas preocupações e por isso estamos conversando com a empresa. Análises estão sendo feitas dos cenários para podermos definir, inclusive, quais as áreas para atuação do serviço. Sabemos que temos limitações de calçadas e, por isso, tanto cuidado. Acredito que teremos os patinetes como algo mais turístico e as bicicletas como opção de transporte. Por tudo isso deveremos dar uma autorização temporária para que a Yellow entre em operação, enquanto analisamos os resultados e impactos”, afirma. Segundo o secretário, a prefeitura está atenta à necessidade de ampliar a rede ciclável da cidade, principalmente com a chegada de mais uma empresa de compartilhamento de bicicletas. “Nossa estratégia é retirar vagas de estacionamento para ampliar a malha.

Com a regulamentação dos apps de transporte privado de passageiros tivemos um avanço porque é mais uma opção de deslocamento para a população. É mais um argumento para que possamos tirar estacionamentos nas ruas para implantar ciclofaixas e ciclovias”, diz. O sistema de bikes docless e patinetes, entretanto, tem feito sucesso. Os números de São Paulo, por exemplo, mostram isso. Segundo a Yellow, já são um milhão de viagens na capital desde o início da operação, em agosto. E os maiores picos são semelhantes aos da mobilidade urbana em geral. Os períodos da manhã, entre 9h e 11h, e os da tarde, entre 17h e 19h, são os de maior uso das magrelas, o que coincide com os períodos de maior deslocamento na cidade. No horário de almoço, das 12h às 14h, a adesão também é intensa. Outra dado que confirma o potencial do serviço: quase 70% das pessoas que usam pela primeira vez tornam-se usuárias frequentes.

IMPACTO NO BIKE PE

Outra preocupação que tem cercado a vinda da Yellow para o Recife é um possível impacto sobre o sistema de compartilhamento de bicicletas públicas Bike PE, que está em negociação para ser expandido na cidade – são 80 estações desde que entrou em operação, ainda com a pernambucana Serttel.

Apesar do bom desempenho do sistema – desde setembro de 2017, quando teve a tecnologia totalmente substituída –, o temor é que as viagens sejam afetadas e, assim, o Itaú, a Tembici e os possíveis novos patrocinadores desistam da ampliação das estações.

Foto: Guga Matos/JC Imagem

 

“Não existe nenhuma aprovação oficial da prefeitura em relação ao projeto da Yellow. Há um forte interesse da empresa em entrar na cidade, demonstrado em uma reunião recente realizada com a Secretaria de Mobilidade e de Desenvolvimento Sustentável. Achamos a solução muito interessante, porem o Recife não tem infraestrutura para receber essa solução. Por isso é necessário ser feito um estudo de grande porte para identificar a capacidade de atendimento do projeto para que ele não seja algo limitado ao Bairro do Recife e ao calçadão de Boa Viagem. Porque se for para ser uma solução de mobilidade, é preciso atender a variadas áreas da cidade, como o Bike PE atende”, ponderou o gerente de ciclomobilidade de Pernambuco, Jason Torres.

O SUCESSO DO BIKE PE, MESMO SEM EXPANSÃO Segundo números divulgados pelo Itaú Unibanco, patrocinador do Bike PE, o pernambucano rodou muito em duas rodas em 2018. Foram mais de 2,1 milhões de quilômetros pedalados, o que daria para ir à lua mais de 5 vezes. Uma média de 48 quilômetros por usuário que em 265 mil horas geraram uma economia de mais de 1,8 milhão de quilos em emissões de CO2.

Por curiosidade, 265 mil horas é o equivalente a 30,25 anos. E os números só cresceram mês a mês. Se em 2019 o ritmo for o mesmo, o pernambucano poderia, literalmente, chegar ao sol. Os maiores picos de uso são em dias úteis, entre 7h30 e 10h, 12h e 15h e das 17h às 20h, mostrando que grande parte das pessoas usa o modal para ir e voltar diariamente do trabalho. Já nos fins de semana o pico da manhã é das 10h às 12h e à tarde das 16h30 às 18h30. O tempo médio de viagem também varia. Durante a semana é de 18 minutos e nos fins de semana é de 35 minutos em média. As três estações mais usadas são as da Riachuelo, do Boulevard Rio Branco e do Restaurante Universitário UFPE.

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