Além da escuridão O vergonhoso corte de luz do TI CDU

Publicado em 10/09/2019 às 13:46 | Atualizado em 13/02/2023 às 9:11
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TI CDU na escuridão: O Estado de costas para o transporte público. Foto: Morgana Manoela/Cortesia

O corte de energia por falta de pagamento do Terminal Integrado CDU, na Várzea, Zona Oeste do Recife, vai além da energia. É um tapa na cara do transporte coletivo de massa. Um soco na barriga do passageiro que utiliza a unidade e de todos que dependem ou lutam por um transporte público de qualidade. Que tentam combater a imagem de precariedade impregnada ao sistema. A defesa da mobilidade urbana sustentável e o estímulo para que as pessoas deixem o carro em casa e utilizem o ônibus está no discurso dos gestores e políticos – inclusive do governador Paulo Câmara e de Geraldo Júlio, prefeito da cidade onde o TI está construído e para onde 90% do transporte público da Região Metropolita quer ir ou passa. Mas não é executada na prática. Embora não o utilizem, recomendam o uso do ônibus e do metrô. Por isso, o mínimo que deveriam é garantir o pagamento da energia do terminal. Principalmente diante do valor: o que são R$ 80 mil para a gestão de um Estado como Pernambuco?

Além do vexame de estar na mídia, o Estado sofre ainda mais pelo fato de o corte ter sido no terminal que foi. O TI CDU, batizado oficialmente de Severino Luiz Nunes Pereira, tem uma simbologia especial para o STPP (Sistema de Transporte Público de Passageiros da Região Metropolitana do Recife). Foi projetado e construído como um dos principais equipamentos do sistema BRT, vitrine política da gestão PSB no passado. Deveria ser o principal terminal do Corredor Leste–Oeste. Antes chamado de TI da IV Perimetral, por estar no entroncamento da BR-101 (a quarta perimetral do Recife) com a Avenida Caxangá, principal conexão de transporte por ônibus da Zona Oeste com o Centro do Recife, o terminal era uma das obras que deveria ter sido concluída ainda para a Copa do Mundo de 2014. Só ficou pronto quatro anos depois e com um custo adicional de quase R$ 5 milhões pelo abandono da obra.

 

Estudante entram sem pagar no TI Pelópidas. Fotos: Conorte/Cortesia
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Não é uma unidade de peso na operação do sistema – inclusive há quem avalie que seria desnecessário nos tempos atuais porque o ramal de BRT da BR-101 foi engavetado –, mas tem muito peso pelo valor de execução, demora na construção e custo operacional. Deveria atender muito mais e melhor a Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), por exemplo, o que ainda não acontece. Foram sete anos e meio de construção, quatro anos e meio de atraso nas obras, R$ 11 milhões de investimento (R$ 4,5 milhões somente de remanescente) e, mesmo assim, o terminal entrou em operação subutilizado. Também é uma construção gigante. E cara. É uma estrutura que ocupa um terreno de 15 mil metros quadrados, sendo mais de quatro mil metros quadrados de área construída, e que custa mais de R$ 200 mil de manutenção mensal aos cofres públicos – quase R$ 3 milhões por ano. Deveria transportar 50 mil passageiros/dia, mas a demanda está longe de ser a prometida e que justificaria o investimento de recursos públicos na unidade. Atualmente, transporta 10 mil passageiros/dia. São oito linhas alimentadoras em operação, além de duas do sistema BRT, que levam para a região central do Recife.

ATRASO NO VEM PASSE LIVRE DOS ESTUDANTES

O corte de energia do TI CDU foi um exemplo real, concreto, de que o Estado ainda dá as costas ao transporte público da RMR. Hoje, foi o terminal mais importante do corredor Leste-Oeste. Ontem, assim como tem ocorrido nos últimos meses, foi o atraso no repasse dos créditos do VEM Passe Livre, programa social que subsidia a meia passagem de estudantes da rede pública de ensino. Em quase toda virada de mês, é comum a invasão de terminais integrados e estações de BRT da Zona Norte da RMR – como o TI Pelópidas Silveira – por estudantes que não têm como pagar a passagem porque os créditos não foram repassados. E que têm o direito de acessar o sistema, já que o Estado garantiu isso a eles, faturou e fatura politicamente com o programa.

Mais um exemplo de que o transporte coletivo para todos existe no discurso e não na prática. É preciso olhar de frente para o transporte coletivo. Elegê-lo como prioridade para as cidades. A sociedade sabe da dificuldade financeira enfrentada pelo governo, mas sem o transporte público as pessoas não estudam, não vão ao médico nem têm lazer. É preciso exercer o discurso na prática.

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