Dignidade devolvida à Avenida Conde da Boa Vista

Publicado em 16/09/2019 às 8:12 | Atualizado em 10/05/2020 às 17:18
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Conclusão das primeiras etapas da requalificação da via regasta a decência necessária a um equipamento urbano público. Fotos: Filipe Jordão/JC Imagem

 

Quero falar com quem pega ônibus na Avenida Conde da Boa Vista, um dos principais eixos do transporte público da Região Metropolitana do Recife. Com as 310 mil pessoas que circulam pelo corredor diariamente e enfrentam as dificuldades do equipamento urbano. Apesar das ausências e da exclusão que o ordenamento vai provocar – como é comum ao processo –, a requalificação da Conde da Boa Vista está valorizando a avenida e devolvendo dignidade urbana ao cidadão. Isso é inegável. Esperar o ônibus no trecho entre a Rua da Aurora e a Rua do Hospício atualmente, pós conclusão da segunda etapa das obras, virou algo revigorante. Mesmo com a pichação dos imóveis e o lixo produzido ao redor. Olhar para os lados e não ver a decadência das antigas estações construídas no local, quase esqueletos do que foram um dia, sujas, sem qualquer iluminação e semi-destruídas, tem sido bom. Perceber que a via está deixando de ser um monstro urbano tem feito bem. Só quem pega ônibus ou costuma caminhar pela via entenderá o que estou dizendo

Confira a série de reportagens A NOVA CONDE DA BOA VISTA

As novas estações transparentes, seus bancos de madeira, os painéis informativos das linhas de ônibus (algo que o passageiro do Grande Recife desconhece há muito, muito tempo) as jardineiras, os coletores de lixo – pequenos e grandes –, as travessias elevadas, as ilhas de proteção para pedestres, esquinas alongadas e a nova iluminação em LED, voltada e específica para o pedestre e, não mais, apenas para o tráfego dos veículos, demonstram cuidado com o equipamento devolvido à população. A iluminação da via, aliás, talvez seja o que melhor há no projeto. É claro que estamos pagando por tudo isso e não é pouco: dessa vez, a requalificação da Conde da Boa Vista custará R$ 15 milhões. Em 2008 foi algo parecido – R$ 14 milhões.

 

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Abrigos de ônibus
2 - Abrigos de ônibus
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Lixeiras
5 - Lixeiras
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Prefeitura do Recife firmou um contrato de adoção com uma empresa privada, que ficará responsável por pequenos consertos e manutenção do primeiro trecho da requalificação, entre a Rua da Aurora e a Rua do Hospício. Fotos: Filipe Jordão/JC Imagem
9 - Prefeitura do Recife firmou um contrato de adoção com uma empresa privada, que ficará responsável por pequenos consertos e manutenção do primeiro trecho da requalificação, entre a Rua da Aurora e a Rua do Hospício. Fotos: Filipe Jordão/JC Imagem

Também é fato que a prefeitura está apenas cumprindo o seu papel de mantenedora dos equipamentos urbanos. Mas o tipo dos equipamentos escolhidos – criticado por alguns por ser refinado e, portanto, frágil demais – dão um ar de modernidade à via. “Estou achando a Conde da Boa Vista muito despojada. Parece que aumentou a circulação de vento, ficou mais bonita, mais arejada. Ficou mais moderna. Faltam várias coisas, mas é uma via com muita circulação de ônibus que fica difícil executar tudo que estava previsto”, defendeu o universitário Arthur Vinícius, flagrado pelo reportagem tirando fotos em plena Conde da Boa Vista.

Não estamos aqui afirmando que o projeto é perfeito e que as ausências não são sentidas. Elas são. Afinal, a Conde da Boa Vista integra o Corredor de BRT Leste-Oeste e tem importante papel para a existência do Recife como cidade. Conecta o todo com o Centro. A capital se encontra na avenida. As cobranças pela redução da quantidade de ônibus convencionais – são 49 linhas, incluindo os BRTs – são justas. Assim como a implantação de uma estrutura para as bicicletas, que até resultou numa ação para suspender as obras, negada pela Justiça. A via também poderia ser mais arborizada, ter menos circulação de veículos e virar uma espécie de boulevard da capital. Sim, poderia. Há quem tema, inclusive, a perda de velocidade dos ônibus ao trazê-los, como no passado, para a faixa direita da via. E há, ainda, o receio da exclusão social que o reordenamento urbano provocará, já que não haverá espaço para acomodar o comércio informal que atualmente sobrevive da avenida – estimado em 300 ambulantes. E até críticas à qualidade do piso intertravado usado nos passeios da avenida.

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Andrea Rego Barros/PCR
11 - Andrea Rego Barros/PCR
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Todas essas cobranças e sugestões já foram feitas e pensadas por arquitetos, urbanistas, passageiros, pedestres e muitos gestores públicos. A Conde da Boa Vista ideal existe na cabeça de muita gente. Mas o que temos é o que está aí. E ele trás ganhos, sim, para a população. É isso que queremos dizer. DESAFIOS ENORMES O desafio será manter a requalificação. Aliás, esse é o grande desafio da prefeitura. Quem tem circulado pela Conde da Boa Vista nesses dias de obras e, principalmente, de finalização de etapas, o que rende boas fotos e capital político para os gestores – não é à toa que o prefeito Geraldo Júlio sempre faz vistorias nessas fases –, tem visto um número anormal de agentes da prefeitura, sejam do controle urbano ou da ordenação do trânsito. Algo que não é comum na via. No começo, tudo é festa. Enquanto as obras estiverem em execução, a prefeitura será obrigada a cuidar. O desafio será depois, quando a cidade se acomodar com a reforma e a avenida voltar a se esquecida pelos gestores.  

 

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Lixeiras coletivas
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Caso a prefeitura não esteja atenta a esse desafio, será como a requalificação do corredor executada pelo PT onze anos atrás: um dia foi bonita e, apesar de polêmica por colocar o embarque e desembarque dos ônibus para o centro da via, também devolveu dignidade à população com equipamentos novos e a ampliação das calçadas. Mas foi abandonada pelas gestões municipais pouco tempo depois de pronta – incluindo uma do próprio PT e cada uma com suas razões –, virando o que todos já conhecem. Que fique a lição.

 

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