Brasil ainda dá vexame na infraestrutura para o caminhar

Publicado em 07/10/2019 às 8:03 | Atualizado em 23/10/2020 às 20:55
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Pesquisa teve como recorte o entorno de edificações públicas. E, mesmo assim, notas foram baixas. Foto: Diego Nigro/Acervo JCImagem  

 

A mobilidade a pé segue sem prioridade no País e também no Recife. Nenhuma das 27 capitais brasileiras apresentou condições adequadas para o caminhar nas calçadas, ruas e faixas de travessia de pedestres, segundo o estudo Calçadas do Brasil 2019, realizado de forma colaborativa pelo Mobilize Brasil, portal nacional de mobilidade urbana. A média nacional das calçadas do País foi 5,71, considerada baixa já que o estudo estabeleceu que o mínimo aceitável seria a nota 8, numa escala de 0 a 10. A capital brasileira mais bem analisada nesses critérios foi São Paulo (SP), que ficou com a nota 6,93, seguida por Belo Horizonte (MG), com 6,84, e Florianópolis (SC), com 6,73. Já Belém (PA) foi a capital com a pior classificação – nota 4,52 –, seguida por Fortaleza (CE), com 4,53, e Cuiabá (MT), com 4,79. O Recife ficou na 12ª posição, com nota 5,92. Ou seja, o Brasil ainda apresenta baixa caminhabilidade, passo fundamental para tornar as cidades mais humanas e menos motorizadas.

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Na segunda edição do estudo – a primeira foi em 2012/2013 – foram avaliadas 835 áreas localizadas no entorno de edificações públicas. O recorte da pesquisa já foi proposital por entender que os gestores, nas suas mais diferentes esferas, deveriam ter um maior cuidado com as áreas próximas aos imóveis que abrigam serviços públicos. “Optamos por avaliar somente edifícios e instalações mantidas diretamente pelo poder público. Achamos que as prefeituras e demais níveis de governo deveriam dar o exemplo na manutenção das calçadas e outros equipamentos de apoio ao pedestre”, explica Marcos de Sousa, um dos coordenadores do estudo. Mas, mesmo assim, o resultado foi ruim. O estudo considerou as condições das calçadas, da sinalização voltada para os pedestres, o conforto e a segurança para quem caminha. E revelou um cenário ruim, com calçadas estreitas, desniveladas, com buracos, degraus e postes, faixas de travessia apagadas, semáforos ausentes ou deficientes, ambientes agressivos e poluídos.

 

   

 

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E mais: os resultados mostraram que escolas, hospitais e centros de saúde públicos – onde a presença de idosos, crianças e pessoas humildes é maior – são os piores lugares para caminhar. Outro lado perverso da pesquisa. “As sedes das Câmaras Municipais, dos Tribunais de Justiça, das prefeituras ou dos edifícios onde está o centro do poder, são bem tratados. Já os hospitais, creches, escolas e centros de saúde são os locais que apresentaram as piores condições para o caminhar. São degradantes, o que obriga as pessoas a andar na rua”, reforça Marcos de Sousa.

 

A média nacional das calçadas do País foi 5,71, considerada baixa já que o estudo estabeleceu que o mínimo aceitável seria a nota 8, numa escala de 0 a 10. Foto: Sérgio Bernardo/Acervo JC Imagem

 

A Calçadas do Brasil é uma campanha criada para estimular a mobilidade urbana sustentável. A lógica dos criadores é que, se as pessoas tiverem melhores condições para a circulação de pedestres, sejam jovens, crianças, idosos ou cadeirantes, as cidades poderão ter menos carros em circulação. “Boa parte dos deslocamentos diários feitos de carro percorrem distâncias muito curtas. Em São Paulo, por exemplo, segundo a pesquisa Origem e Destino do metrô, 40% das saídas de carro percorrem até 2,5 km. E 60% delas percorrem menos de 5 km (ida e volta). São distâncias curtas, que poderiam ser feitas como um passeio se as calçadas, sinalização e equipamentos de conforto e segurança priorizassem os caminhantes. Teríamos pessoas (e cidades) mais saudáveis”, lembra Sousa. A cidade perde em integração e diversidade quando deixa de apresentar calçadas adequadas para sua população. O estudo foi feito por uma rede de colaboradores nas 27 capitais, que saíram às ruas entre os meses de março e julho para fazer o levantamento nas proximidades de locais com grande circulação de pessoas a pé, como hospitais, escolas, mercados, terminais de transportes, edifícios da administração pública, praças e parques.

 

 

 

Os avaliadores visitaram, fotografaram, tomaram medições e atribuíram notas de zero a dez para cada um dos 13 itens considerados na pesquisa: regularidade do piso, largura da calçada, inclinação transversal da calçada, existência de barreiras e obstáculos, condições de rampas de acessibilidade, faixas de pedestres, semáforos de pedestres, mapas e placas de orientação, arborização e paisagismo, mobiliário urbano, poluição atmosférica, ruído urbano e segurança.

 

RECIFE COMEÇA A ESBOÇAR REAÇÃO

Apesar de ocupar o 12º lugar na pesquisa nacional que avaliou as calçadas do País e, de fato, acumular problemas na infraestrutura para o caminhar, o Recife parece estar no caminho certo. E começa a esboçar reação diante de anos e anos de inércia em relação à mobilidade a pé. O fôlego veio com o programa Calçada Legal, relançada em 2017 pela prefeitura depois de dificuldades administrativas para fazê-lo vingar.

A pretensão do projeto é requalificar 134 quilômetros de passeios públicos na cidade até o fim de 2020 e ao custo de R$ 105 milhões. Além das calçadas, serão requalificados 56.300 m² de largos, totalizando 114 ruas e 12 largos beneficiados. A iniciativa beneficia os principais corredores viários da cidade, com destaque para os de transporte público, e atende vias em todas as Regiões Políticas Administrativas (RPA’s).

 

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Por enquanto, estão sendo beneficiadas vias como as Ruas Barão de Souza Leão (Boa Viagem), Maria Irene (Jordão), Rui Barbosa e Amélia (Graças), João de Barros, do Príncipe e Carlos Chagas (Santo Amaro), Gervásio Pires, Princesa Isabel e Riachuelo (Boa Vista), Arquiteto Luiz Nunes (Imbiribeira), Augusto Calheiros, Quitério Inácio de Melo e Santos Araújo (Afogados), Avenida do Forte e Carlos Gomes (Cordeiro), Coelhos (Coelhos), João Lira e Mário Melo (Santo Amaro) e Oliveira Lima (Soledade).

Pesquisa Origem e Destino Metropolitana 2018, realizada pelo Instituto da Cidade Pelópidas Silveira e o Grande Recife Consórcio de Transporte (GRCT), mostrou que 78% das pessoas que trabalham no Recife fazem o percurso a pé, de ônibus ou de bicicleta. Por isso, quanto mais infraestrutura para o caminhar melhor.

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