Metrô do Recife - Operação ineficiente e problemas de sobra

Publicado em 22/10/2019 às 18:10 | Atualizado em 05/08/2020 às 18:45
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Metrô do Recife sofre com desordem de ambulantes e falta de investimentos. Opera no limite. Fotos: Filipe Jordão/JC Imagem

 

O Metrô do Recife é um dos cinco sistemas públicos geridos pela Companhia Brasileira de Trens Urbanos (CBTU) que enfrentam dificuldades em esboçar reação e se tornarem eficientes. Tem uma operação cara – precisa de, no mínimo, R$ 120 milhões só para o custeio anual –, sem considerar os investimentos fundamentais para a expansão e prestação de um serviço melhor. Transporta, em média, 400 mil passageiros por dia e não teve um único quilômetro de trilhos expandido desde 2009, quando a Linha Sul – que liga o Centro do Recife ao Sul da Região Metropolitana pelo litoral – entrou totalmente em operação. É um sistema que parou no tempo.

Dos R$ 845 milhões repassados anualmente pelo governo federal à CBTU para custeio, R$ 454 milhões são para o sistema pernambucano. E, mesmo assim, os recursos são insuficientes. O Metrô do Recife vive com o pires na mão. Embora o sistema precise, apenas para garantir a boa operação, de mais de R$ 100 milhões – sem considerar investimentos –, o orçamento aprovado para 2019 foi de R$ 98 milhões. E, mesmo assim, foi reduzido posteriormente para R$ 56 milhões. Como se não bastasse, a receita tarifária cobre menos de 20% do custo do sistema. O resto é subsidiado pela União.  

 

  “Nós temos uma característica operacional que prejudica a saúde financeira do metrô e que precisa ser considerada. Transportamos 100 milhões de passageiros por ano, mas não recebemos por esse total. A tarifa de 56% dos passageiros transportados é paga nos ônibus que fazem integração com o metrô. Temos ainda 3% de gratuidade. No fim, somente 33% do que arrecadamos é a tarifa efetiva do metrô. Quando a passagem chegar a R$ 4 (em março de 2020), por exemplo, nós iremos ficar com apenas R$ 1,32. Não tem sistema que consiga um equilíbrio financeiro assim”, argumenta Leonardo Villar Beltrão, que até a semana passada era o superintendente da CBTU no Recife.

O sucateamento do Metrô do Recife é gritante. Em oito meses, foram 80 panes que paralisaram as Linhas Sul e Centro – a maior de todas, respondendo pelo transporte de 250 mil pessoas/dia. As falhas, inclusive, aumentaram quase 30% em relação a 2018. No total, o Metrô do Recife tem 40 trens, mas conta com apenas 26 porque 14 estão quebrados desde 2016, na oficina operacional, sem previsão de conserto. Há, ainda, os ambulantes, que dominaram o sistema e atuam não só nas plataformas, mas também no interior dos trens sem qualquer constrangimento. Devido à incapacidade da gestão em coibir a farra do comércio informal, os vendedores viraram símbolo negativo do sistema e motivo de brincadeiras nas redes sociais pela variedade de produtos que oferecem. Esqueça a oferta de itens eletrônicos, como capas e cabos para celular, por exemplo. A desordem dos ambulantes no sistema vai muito além disso. É possível encontrar de salame a empanado, passando por caranguejo – vivo, vale ressaltar –, até consolos sexuais.

 

 

AS MAZELAS DO METRÔ DO RECIFE  

Esperança e expectativa de funcionários e passageiros é que a PM consiga organizar o metrô, dominado pelos ambulantes. Foto: Brenda Alcântara/JC Imagem
17 - Esperança e expectativa de funcionários e passageiros é que a PM consiga organizar o metrô, dominado pelos ambulantes. Foto: Brenda Alcântara/JC Imagem
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Ambulantes dominaram o sistema

Atualmente, o maior de todos os problemas do Metrô do Recife é o comércio informal. Os ambulantes estão por toda parte do sistema, dentro dos trens e nas plataformas. Nem mesmo a lotação das composições intimida as vendas, feitas aos gritos e com muita desordem. Diante da impotência da gestão, os vendedores oferecem o que querem, na hora que querem e onde querem. O comércio informal é, inclusive, a origem de outros desafios do sistema metropolitano, como a sujeira e os assaltos.

 

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Fotos: Filipe Jordão/JC Imagem
16 - Fotos: Filipe Jordão/JC Imagem

Sujeira por todo lado

O Metrô do Recife em quase nada lembra o sistema eleito, há mais de 20 anos, como o mais limpo do País. Em alguns momentos e estações, o transporte sobre trilhos poderia ser chamado de transporte sobre lixo, de tanta sujeira encontrada na linha, produzida pelos passageiros que consomem os produtos dos ambulantes e, sem educação, descartam na própria rede.

Degradação isola estações

O Metrô do Recife ainda não conseguiu se integrar à cidade. Com pouquíssimas exceções, as estações do sistema são isoladas do cotidiano urbano dos quatro municípios cortados por ele (Recife, Jaboatão dos Guararapes, Camaragibe e Cabo de Santo Agostinho). São equipamentos que têm acesso difícil, com caminhos escuros, sujos, degradados e perigosos.  

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