Urbanismo tático é uma solução rápida, barata e, da forma correta, eficiente. Evidencia e protege a mobilidade ativa nas cidades, mas é provisório. Deve ser o primeiro passo para intervenções permanentes. Foto: Filipe Jordão/JC Imagem
Muita gente já deve ter reparado que algumas áreas do Recife estão com uma nova pintura no chão, de cores variadas e ativas, que têm chamado a atenção de motoristas, pedestres e ciclistas. Para quem não sabe, são exemplos do urbanismo tático, um tipo de intervenção que busca humanizar as cidades permitindo a reapropriação e a reocupação do espaço urbano pela população. O princípio do tactical urbanism – a definição em inglês – é a ampliação do protagonismo do pedestre e de outros modais ativos (não-motorizados) nos espaços urbanos. E o que é melhor: tudo isso a baixo custo e com aplicação rápida. O urbanismo tático é ferramenta fundamental para as ruas completas, conceito que distribui o espaço urbano de maneira mais democrática, beneficiando todos os modais e, não apenas, os motorizados.
O urbanismo tático é eficiente, barato e de fácil aplicação. São três atrativos que, de fato, agradam aos gestores públicos – no caso os prefeitos. Mas é preciso entender que é uma fase. Que é uma intervenção intermediária, provisória, criada exatamente para testar se aquela solução pensada para um determinado conflito deve virar permanente”, Paula Santos, da WRI Brasil
Somente no segundo semestre deste ano, o Recife adotou o urbanismo tático em pelo menos cinco áreas da cidade: Ilha do Leite, Santo Amaro (área central) e Largo da Paz (Afogados), além de pontos na Avenida Conde da Boa Vista (Boa Vista) e na Avenida Cruz Cabugá (Santo Amaro). São basicamente prolongamentos de calçadas e áreas de refúgio para pedestres e ciclistas se protegerem nas travessias, geralmente sinalizados e identificados por mini-blocos de concreto e balizadores. “Fizemos e vamos fazer mais área desse tipo pela cidade. É uma solução provisória que tem resultados positivos. Tem baixo custo e, por isso, nos permite aplicá-la com rapidez. Outro aspecto é que o uso do urbanismo tático reflete diretamente na velocidade dos veículos. Viram áreas de tráfego calmo. Em algumas vias, reduzimos o número de faixas de tráfego, o que força, naturalmente, os carros a andarem mais devagar”, destaca a presidente da Autarquia de Trânsito e Transporte Urbano do Recife (CTTU), Taciana Ferreira.
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A provisoriedade a que se refere a presidente da CTTU, de fato, é premissa do urbanismo tático. A técnica é apontada como uma solução provisória e, não, permanente. Após a implantação, o recomendado é que deverá ter os resultados analisados e, se promover efeitos positivos, ser substituída por uma solução definitiva, que quase sempre implica em obra física. “O urbanismo tático é eficiente, barato e de fácil aplicação. São três atrativos que, de fato, agradam aos gestores públicos – no caso os prefeitos. Mas é preciso entender que é uma fase. Que é uma intervenção intermediária, provisória, criada exatamente para testar se aquela solução pensada para um determinado conflito deve virar permanente”, explica Paula Santos, gerente de Mobilidade Ativa da WRI Brasil, entidade internacional que estuda e orienta a mobilidade urbana sustentável nas cidades.
Temos pelo menos dois projetos de urbanismo tático no Brasil que deverão virar permanentes. Os resultados foram analisados e se constatou que são positivos. É o caso da Rua Joel Carlos Borges (no Brooklin, Zona Sul de São Paulo) e da Rua João Alfredo (na Cidade Baixa, em Porto Alegre), que estão com os projetos sendo concluídos para que as intervenções sejam efetivadas”, exemplifica Paula Santos
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Exemplo de rua completa em São Paulo. Foto: Pedro Mascaro/WRI Brasil
Para a WRI Brasil, o tempo máximo de permanência das intervenções de urbanismo tático deve ser de dois anos. No Recife, entretanto, a intenção da CTTU é restringir esse período de análise para três ou quatro meses. Se o plano vingar, a capital pernambucana poderá se destacar no cenário nacional porque, no Brasil, o que se tem visto é o poder público utilizando o urbanismo tático como algo permanente. Os gestores adotam, sinalizam as ruas e esquecem o projeto. Por envolver basicamente a sinalização horizontal e, pontualmente, um ou outro balizador ou mini-bloco, é uma intervenção que precisa de manutenção permanente.
Segundo a WRI, das 19 cidades que fazem parte do projeto de ruas completas, pelo menos cinco já adotaram o urbanismo tático: Recife, Fortaleza (CE), São Paulo (SP), Porto Alegre (RS) e Juiz de Fora (MG). “Temos pelo menos dois projetos de urbanismo tático no Brasil que deverão virar permanentes. Os resultados foram analisados e se constatou que são positivos. É o caso da Rua Joel Carlos Borges (no Brooklin, Zona Sul de São Paulo) e da Rua João Alfredo (na Cidade Baixa, em Porto Alegre), que estão com os projetos sendo concluídos para que as intervenções sejam efetivadas”, exemplifica Paula Santos. Lembrando que, no caso de São Paulo, a intervenção foi feita em 2017. A de Porto Alegre é de abril de 2019.
Fizemos e vamos fazer mais área desse tipo pela cidade. É uma solução provisória que tem resultados positivos. Tem baixo custo e, por isso, nos permite aplicá-la com rapidez. Outro aspecto é que o uso do urbanismo tático reflete diretamente na velocidade dos veículos. Viram áreas de tráfego calmo. Em algumas vias, reduzimos o número de faixas de tráfego, o que força, naturalmente, os carros a andarem mais devagar”, Taciana Ferreira, da CTTU
COLORIDO
As cores utilizadas no urbanismo tático também ajudam. Criam empatia com a população. A beleza das áreas e, em muitos casos, o uso de mobiliários, colaboram com esse sentimento. “Os pedestres e ciclistas, por exemplo, se identificam com as cores, sentem segurança”, reforça a gerente de Mobilidade Ativa da WRI. Como dito anteriormente, o custo de implantação das soluções de urbanismo tático é mesmo baixo. Não ultrapassam R$ 100 mil. Toda a intervenção da Rua Joel Carlos Borges, em São Paulo, por exemplo, custou R$ 80 mil. As áreas criadas pela CTTU até agora no Recife custaram R$ 65 mil. Investimento feito na implantação de faixas e refúgios de pedestres, com uso de tintas, tachões, segregadores e balizadores.