Quase palpável nos últimos dias, a redução do serviço de transporte público por ônibus na Região Metropolitana do Recife foi confirmada nesta sexta-feira (20/3) pelo governo de Pernambuco. A oferta de ônibus teve uma redução de 25%, medida que será observada diariamente e deverá ser mantida nos próximos dias, inclusive com possibilidade de ampliação, como já aconteceu em diversas capitais brasileiras. A diminuição do serviço é uma estratégia para tentar compensar a queda vertiginosa de passageiros provocada pela pandemia do coronavírus, que no Grande Recife chegou a 45% na quarta-feira (18/3). Nos primeiros dias da semana a queda era de 28%. No País, a redução de passageiros já alcançou os 50% em muitas cidades e capitais. Já o Metrô do Recife passará a operar, a partir deste sábado (21/3), apenas nos horários de pico (das 6h às 9h e das 16h30 às 20h).
A Secretaria de Desenvolvimento Urbano e Habitação (Seduh), gestora do Sistema de Transporte Público de Passageiros da RMR (STPP), argumentou que a medida foi necessária diante das determinações feitas pelo Estado para evitar a proliferação do coronavírus em Pernambuco. A confirmação da redução, entretanto, só foi dada pelo Estado depois de muita cobrança por parte da imprensa. Na entrevista coletiva virtual que o governo estadual realizou no fim da tarde de quinta-feira (19/3), por exemplo, o procurador-geral do Estado de Pernambuco, Ernani Medicis, garantiu que o serviço de transporte público da RMR estava funcionando normalmente. Mas ela já acontecia nas ruas. Na verdade, o setor empresarial reduziu o serviço e o governo de Pernambuco não quis informar isso oficialmente. Os ajustes, inclusive, vinham sendo discutidos durante toda a semana entre operadores, a Seduh e o Grande Recife Consórcio de Transporte.
HISTÓRICO DE PERDA DE PASSAGEIROS DO TRANSPORTE POR ÔNIBUS NA RMR
2014 = 393.622.109
2015 = 375.146.513
2016 = 350.402.678
2017 = 310.574.294
2018 = 306.247.654
2019 = 291.019.423
A dificuldade em tratar do tema – o JC tenta obter a informação dos planos desde a terça-feira (17/3) – é compreensível, já que, com certeza, a redução do serviço de transporte pode ser vista por muitos como um risco à propagação do coronavírus. Infectologistas, por exemplo, defendem que seja alterado o horário de entrada e saída dos trabalhadores como forma de evitar o rush nos ônibus e metrôs, mas não a redução de frota. Segundo a médica-infectologista Raquel Stucchi, da Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI) e que atua em São Paulo, o risco de, com a redução de ônibus e metrôs, haver uma maior concentração de passageiros, é alto. “Isso seria pior. O momento é de colocar os trabalhadores, dentro do possível, em home office, e escalonar os horários de entrada e de saída daqueles que precisam estar presentes. O transporte público é quase um depositório de vírus e não sabemos a real eficiência desse processo de higienização que está sendo feito devido à quantidade de pessoas que entram e se seguram nas estruturas dos coletivos, por exemplo”, pontua.
Mas os impactos econômicos provocados pela perda de passageiros é um fardo assustador de carregar e eles falaram mais alto. Nacionalmente, o transporte público no Brasil teve uma perda de 50% da demanda de passageiros, redução que deverá ser mantida nesse patamar ou até ser ampliada nos próximos meses de pandemia do coronavírus. O cenário preliminar é projetado pela Associação Nacional das Empresas de Transportes Urbanos (NTU) com base na redução de demanda registrada em algumas capitais apenas esta semana, quando as determinações de suspensão das aulas públicas e privadas, fechamento de estabelecimentos e proibição de aglomerações e atividades econômicas ganharam efetividade. Os ônibus respondem por 86% das viagens realizadas em modos de transportes coletivos urbanos em todo o País e transportam 43 milhões de pessoas diariamente. Na RMR, são 402 linhas em operação, frota de 2.700 ônibus e 1,8 milhão de passageiros por dia.
METRÔ
O Metrô do Recife também sentiu o baque na demanda de passageiros. A queda chegou a ultrapassar 50%. Por isso, a CBTU Recife informou que, a partir deste sábado (21/3), o sistema estará operando apenas nos horários de pico: das 6h às 9h e das 16h30 às 20h. A Linha Diesel (VLT) será suspensa. A medida é por prazo indeterminado e será monitorada diariamente, podendo ser feita mudanças de horário.
Em relação ao dia 9 de março, quando o coronavírus ainda não estava tão presente, até esta quinta, 19, a demanda total da CBTU já diminuiu em 37,2% na linha elétrica, sendo 46,1% na Linha Sul e 34,1% na Linha Centro. Esse percentual inclui a demanda total de passageiros (pagantes e não pagantes - integrados do SEI e gratuidades). Já em relação aos passageiros que pagam diretamente nas bilheterias das estações, o percentual é de 48,9% na linha elétrica, sendo 50,2% na Linha Centro e 46% na Linha Sul.
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