POR ROBERTA SOARES, DA COLUNA MOBILIDADE
Como será o amanhã? Embora o futuro ainda seja incerto – já que o pico da pandemia do coronavírus sequer chegou –, é fato que muitas mudanças acontecerão e, na mobilidade urbana, elas prometem deixar marcas. Espera-se que mais positivas do que negativas. Temos vivido dias bem mais brandos, não só pela redução no atendimento das vítimas do trânsito nas unidades de saúde – como mostramos na Coluna Mobilidade do domingo (5/4) –, mas pela menor presença de veículos circulando nas ruas, o que tem reduzido drasticamente as infrações de trânsito, baixado o preço da gasolina (de R$ 5 baixou para menos de R$ 4 em muitos postos) e aliviado um pouco a poluição nas cidades. Mas, na visão de quem analisa a mobilidade urbana, as principais mudanças ainda estão por vir e elas estarão atreladas aos nossos hábitos de deslocamento. Nesse contexto, a adesão ao home office será decisiva.
30% é o crescimento esperado do home office no País depois da pandemia do coronavírus
70% foi a redução de algumas multas de trânsito registradas pelo Detran-PE nos 15 primeiros dias de isolamento social
25% foi a redução de emissões de CO2 em apenas duas semanas na China, epicentro da pandemia do coronavírus
O home office já se mostrou efetivo. As pessoas já percebem. Aliada à situação, a possibilidade de reduzir custos pessoais com os deslocamentos e dispor de mais tempo para outras atividades além do trabalho. Assim, iremos tirar carros da rua, desafogar o transporte público, movimentar a economia de outra forma. E, no caso das empresas, sem redução das entregas e do faturamento. Ao contrário, com um custo menorAndré Miceli, da FGV e Infobase
Estima-se, inclusive, que a opção pelo trabalho em casa, remoto, cresça 30% pós-pandemia. O estudo “Tendências de Marketing e Tecnologia 2020: Humanidade redefinida e os novos negócios”, coordenado por André Miceli, coordenador do MBA em Marketing e Inteligência de Negócios Digitais da Fundação Getulio Vargas (FGV) e diretor-executivo da Infobase, chegou a essa conclusão e faz uma relação direta com a mobilidade urbana. André Miceli destaca que a adoção emergencial do home office foi a principal das mudanças e, assim, as culturas organizacionais e estruturais tendem a mudar. É um caminho sem volta.
O impacto nas formas de deslocamento da população é certo e certeiro. Só nos resta analisar, a partir do momento em que a vida voltar ao normal, se ele será maior no transporte individual ou no coletivo. Essa é a grande dúvidaMarcus Quintella, da FGV Transportes
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“E o impacto na mobilidade urbana será bem diferente, por exemplo, do que se viveu com a H1N1, que também repercutiu no transporte coletivo. Naquela época, o trabalho remoto não contava com a tecnologia e a legalidade que existe hoje. Agora, os tempos são outros. O home office já se mostrou efetivo. As pessoas já percebem. Aliada à situação, a possibilidade de reduzir custos pessoais com os deslocamentos e dispor de mais tempo para outras atividades além do trabalho. Assim, iremos tirar carros da rua, desafogar o transporte público, movimentar a economia de outra forma. E, no caso das empresas, sem redução das entregas e do faturamento. Ao contrário, com um custo menor”, diz.
A grande dúvida, entretanto, é se as mudanças na mobilidade urbana significarão uma menor dependência do automóvel ou se afastarão ainda mais o passageiro do transporte público (metrô e ônibus) – que já amargam perdas de demanda históricas. Essa é a observação feita pelo engenheiro de transportes Marcus Quintella, coordenador da FGV Transportes, centro de estudos em transportes, logística e mobilidade urbana da Faculdade Getúlio Vargas.
“O impacto nas formas de deslocamento da população é certo e certeiro. Vivemos uma mudança forçada. E, para o transporte nas cidades, será uma quebra de paradigmas. Só nos resta analisar, a partir do momento em que a vida voltar ao normal, se ele será maior no transporte individual ou no coletivo. Essa é a grande dúvida. E se for no coletivo, será muito ruim. Exigirá um replanejamento das cidades. Ainda mais para os sistemas por ônibus, que têm na tarifa a sua principal receita. Os metrôs e trens já são, em sua maioria, mantidos por subsídios públicos e, por isso, sentirão menos”, alerta.
Na opinião de André Medici, o transporte público é quem mais sofrerá, pelo menos nos primeiros meses após o fim da pandemia. “As pessoas vão evitar o transporte coletivo. Quem tiver que se deslocar, o fará cada vez mais dando prioridade aos modos individuais, com medo de contaminações. Isso é preocupante”, diz.
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O home office já se mostrou efetivo. As pessoas já percebem. Aliada à situação, a possibilidade de reduzir custos pessoais com os deslocamentos e dispor de mais tempo para outras atividades além do trabalho. Assim
André Miceli, da FGV e InfobaseCitação
O impacto nas formas de deslocamento da população é certo e certeiro. Só nos resta analisar, a partir do momento em que a vida voltar ao normal, se ele será maior no transporte individual ou no coletivo. Essa é a
Marcus Quintella, da FGV Transportes
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