POR ROBERTA SOARES, DA COLUNA MOBILIDADE
Todos estão sofrendo. A pandemia do coronavírus segue fazendo estragos gigantescos na mobilidade urbana do País. Em todos os setores dela. O transporte público coletivo, sem dúvida, é o mais impactado. Por ônibus, metrô, trem ou VLT, o prejuízo é geral, provocado pela perda de passageiros que já ultrapassou os 70% na maioria das cidades e chegou a mais de 90% em muitas outras. E, o que é pior: a estimativa de técnicos é de que ela seja ampliada em alguns sistemas e se mantenha alta durante toda a pandemia. Ou seja, um mês, dois ou até três meses nessa situação.
Queremos o mesmo tratamento das companhias aéreas. Prestamos um serviço essencial que não é tratado da mesma forma. Estamos no fundo do poço e a perspectiva é a pior possívelJoubert Flores, da ANPTrilhos
No sistema sobre trilhos, o cenário é péssimo. E olhe que o setor não costuma gritar por qualquer crise, já que metade dos 19 sistemas em operação no País são públicos e a outra metade tem a operação concedida à iniciativa privada. Levantamento feito pela Associação Nacional dos Transportadores de Passageiros sobre Trilhos (ANPTrilhos), entidade que representa as empresas operadoras de transporte de passageiros sobre trilhos no Brasil, indicou que a perda de arrecadação - apenas com bilheteria - já chegou a R$ 271 milhões em nove dias de pandemia. E a perspectiva é ainda pior: se a situação se prolongar por mais sete dias, a perda será de mais R$ 261 milhões.
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A queda de demanda de passageiros transportados já está, em média, de 82%. Mas há sistemas que chegaram a uma perda de 96% dos passageiros, com o agravamento da situação a cada dia. Por isso, operadores temem a paralisação do serviço por completo se o governo federal não ajudar, seja com a aprovação de projetos ou com linhas de financiamento. Assim como o setor de ônibus, o transporte sobre trilhos se ressente da falta de medidas para tratar a crise econômica semelhante às dadas rapidamente às companhias aéreas. Uma lista com pedidos está sendo apresentada ao governo federal.
"Queremos o mesmo tratamento. Prestamos um serviço essencial que não é tratado da mesma forma. Estamos no fundo do poço e a perspectiva é a pior possível. Sistemas metroviários como o de Nova York e o de Paris, por exemplo, chegaram a perdas de 90% a 93%. E a previsão caso esse cenário dure por mais tempo é ainda mais preocupante. Seja para os sistemas públicos, seja para os operados pela iniciativa privada. No primeiro caso, a necessidade de investimento será ainda maior. E, no segundo caso, terá que haver o equilíbrio econômico-financeiro dos contratos. Ou seja, é difícil para todos", argumenta Joubert Flores, presidente do conselho da ANPTrilhos.
ÔNIBUS PODEM PARAR
O transporte por ônibus está ainda mais desesperado que o sobre trilhos porque o setor conta com pouco subsídio público. Com poucas exceções, os sistemas são bancados pela passagem paga pela população. Por isso, já adverte que o serviço poderá ser paralisado no dia 5 de abril por falta de recursos para a folha de pagamento dos colaboradores. "O setor não vai tomar a decisão de parar. Temos responsabilidade social e sabemos da relevância desse serviço essencial. Mas infelizmente, na maior parte do Brasil, as empresas não conseguem mais bancar os custos dessa atividade", desabafa Otávio Cunha, presidente executivo da Associação Nacional das Empresas de Transporte Urbanos (NTU). Os prejuízos diários com a perda da demanda e a manutenção do funcionamento do serviço em muitas cidades ultrapassa R$ 1 bilhão por dia - considerando a redução de demanda e a manutenção da operação.
Infelizmente, na maior parte do Brasil, as empresas não conseguem mais bancar os custos e pagar os funcionários. Por isso, o serviço poderá ser paralisado no dia 5 de abrilOtávio Cunha, da NTU
Segundo levantamento da entidade, 227 sistemas de transporte por ônibus tiveram redução da frota ou suspensão total do serviço. Desse total, 182 paralisaram totalmente o serviço. Entre os casos mais críticos, estão as reduções da ordem de 85% em Goiânia (GO), 75% nas cidades do interior de São Paulo, 79% em Porto Alegre (RS), 75% em Salvador (BA) e 70% no Grande Recife e na Região Metropolitana de Belo Horizonte (MG). A NTU estima que, para manter 70% da frota rodando com uma queda de demanda de 50% dos passageiros, seria necessário um aporte de R$ 2,8 bilhões por mês. “É preciso que o governo entenda que, sem o transporte coletivo urbano, os profissionais dessas áreas que não podem paralisar as atividades não terão acesso ao trabalho, assim como pessoas que precisam sair de casa para comprar comida, fazer tratamento de saúde e até mesmo para se vacinar contra a gripe. E que lembre que o transporte público é um direito social e um serviço de natureza essencial”, reforça Otávio Vieira da Cunha.
PASSAGEIRO SOFRE HOJE E VAI PAGAR A CONTA AMANHÃ
Embora esteja sofrendo menos, já que o isolamento social tem sido cumprido pela grande maioria das pessoas, o passageiro que precisa sair de casa enfrenta intervalos infinitamente maiores por causa da redução do serviço e já começou a ter benefícios suspensos. Na Região Metropolitana do Recife, o Passe Livre foi cancelado para 120 mil estudantes da rede pública de ensino enquanto durar a pandemia. No Recife, será a partir de abril. Além da economia que representam para o poder público nesse momento de crise - o Passe Livre é subsidiado pelo Estado e prefeitura -, a medida tem como objetivo estimular ainda mais a permanência das pessoas em casa. Em algumas cidades do País já está sendo suspensa a gratuidade dos idosos, como em Teresina, no Piauí, que identificou três mil idosos circulando nos ônibus num único dia.
RODOVIÁRIOS E O MEDO DA DEMISSÃO
Os dados não são oficiais, mas a especulação é de que os empresários de ônibus da Região Metropolitana do Recife programam a redução de 60% do quadro de motoristas, cobradores e fiscais, caso a pandemia do coronavírus se prolongue e a perda de passageiros fique em 70% ou seja ampliada. A denúncia foi feita pelo Sindicato dos Rodoviários de Pernambuco após reunião com o setor empresarial na semana passada e significaria a demissão de mais de sete mil profissionais. Por isso, os rodoviários estão tentando envolver o governo de Pernambuco no processo. Embora seja o gestor do sistema de transporte por ônibus da RMR, o Estado sempre assiste sentado às batalhas travadas entre patrões e empregados. Os motoristas apostam que, quem sabe agora, com a pandemia, o governo estadual convença os empresários de alguma forma a desistir da demissão em massa. Como já dissemos, a Urbana-PE não quis se posicionar sobre o assunto.
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Infelizmente, na maior parte do Brasil, as empresas não conseguem mais bancar os custos e pagar os funcionários. Por isso, o serviço poderá ser paralisado no dia 5 de abril
Otávio Cunha, da NTU
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