Metrô, transporte público, Recife

Relatório sobre acidente entre trens do Metrô do Recife constata sucateamento do sistema

A falha humana da maquinista que conduzia o trem que colidiu em outra composição parada também foi confirmada. Mas investigação confirma as denúncias de constantes falhas no sistema de sinalização do metrô

Roberta Soares Roberta Soares
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Publicado em 12/05/2020 às 12:48 | Atualizado em 12/05/2020 às 14:37
FILIPE JORDÃO/JC IMAGEM
Pelo que já foi acordado, o governo de Pernambuco será o gestor do futuro contrato de concessão pública do Metrô do Recife, previsto para 30 anos - FOTO: FILIPE JORDÃO/JC IMAGEM

POR ROBERTA SOARES, DA COLUNA MOBILIDADE

A Companhia Brasileira de Trens Urbanos no Recife (CBTU) divulgou nesta segunda (11/5) o relatório técnico com as primeiras investigações sobre o acidente entre dois trens do Metrô do Recife, que deixou 70 pessoas feridas em março de 2020, na Estação Ipiranga da Linha Centro. O relatório, de fato, conclui que a colisão foi provocada por falha humana de uma das maquinistas, que aparentemente estava desatenta com a presença de um segunda profissional na cabine. Mas o documento também evidencia as constantes falhas no sistema de sinalização do metrô - controle eletrônico, instalado nos trilhos e que garante que os trens não se choquem -, confirmando as denúncias formalizadas por maquinistas desde o ano passado de que, de tão frequentes, os problemas já estão incorporados ao dia a dia da operação - algo que não poderia acontecer num sistema metroferroviário, que tem na tecnologia a sua principal regra de segurança.

Nas páginas 11, 12 e 13 do relatório é possível verificar o alerta feito pela Comissão Permanente de Análise de Acidente de Tráfego (CPAAT) em relação às frequentes falhas não só relatadas, mas documentadas. Embora o mesmo documento destaque que, no momento exato do acidente - por volta das 5h30 do dia 18 de março - o sistema de sinalização não apresentava nenhuma falsa ocupação entre as estações Ipiranga e Mangueira, ele faz referência a uma série de relatórios emitidos a partir do Centro de Controle Operacional (CCO), que apontam para frequentes falhas de falsa ocupação em todo o sistema. E, especificamente, para o trecho entre as Estações Ipiranga e Mangueira, onde aconteceu o acidente. A falsa ocupação é quando, por falha no sistema de sinalização, o CCO acredita haver um trem ou qualquer outro obstáculo num determinado ponto da via. 

Foto: Wellington Lima/JC Imagem
Acidente aconteceu na Linha Centro do metrô e deixou cerca de 70 pessoas feridas no dia 18 de março de 2020 - Foto: Wellington Lima/JC Imagem

São pelo menos nove falhas registradas entre dezembro de 2018 e fevereiro de 2020, que têm causas variadas, entre elas o furto de cabos e até equívocos das equipes responsáveis pelos reparos. E não para por aí. O relatório também indica que seis dessas falhas de falsa comunicação foram registradas nos três meses anteriores ao acidente. Todas no mesmo trecho do acidente. E faz críticas ao fato de as falhas serem cada vez mais frequentes no sistema. “O by-pass ao sistema, que, segundo RDO (relatório de ocorrência) apresentado pelo controlador, era constante, é uma condição indesejada e que deve ser solucionada o mais breve possível”. O by-pass a que se refere é quando, devido à falsa comunicação, o CCO - por não conseguir ver o que de fato acontece na linha - dá autonomia ao maquinista para que ele opere manualmente o trem seguindo padrões de velocidade pré-estabelecidos.

CONFIRA O RELATÓRIO NA ÍNTEGRA

No fim do relatório, de fato, a investigação aponta que a maquinista demorou a frear a composição e que, naquele momento, tinha uma visão razoável da Estação Ipiranga, onde um segundo trem estava parado aguardando a liberação - exatamente por outra falha do sistema. A investigação aponta que, mesmo assim, a maquinista só acionou o freio quatro segundos antes da colisão. Indica, ainda, que os trens se chocaram a uma velocidade de 19,8 km/h, o que foi fundamental para reduzir os danos aos passageiros, evitando ferimentos graves e até mortes.

Foto: Bruno Campos/JC Imagem
Dois trens colidiram em fevereiro de 2020 e deixaram 70 pessoas feridas. Por sorte, não houve mortes. Foi o primeiro acidente do tipo em 35 anos de Metrô do Recife - Foto: Bruno Campos/JC Imagem

Diz, ainda, que a maquinista do trem 30 - que colidiu no trem 27, parado na Estação Ipiranga - fez uso da velocidade restrita sem solicitação ao CCO, descumprindo as normas. E que a segunda falha que permitiu a ocorrência do acidente foi a falta da plena atenção durante o uso da velocidade restrita, porque se distraiu com alguém na cabine. E que, por isso, embora pudesse ter visualizado o trem parado na Estação Ipiranga a uma distância de 200 metros, a frenagem só foi acionada a cerca de 34 metros. 

A Superintendência de Transportes Urbanos (STU) no Recife não comentou o relatório. Disse estar impedida de comentá-lo pelas regras internas da companhia e que irá instaurar um Processo Administrativo disciplinar (PAD) para que todos os envolvidos no acidente possam ser ouvidos. Sobre as falhas relatadas e as recomendações de melhorias feitas no relatório, a CBTU informou que irá avaliá-las para fazer os ajustes que achar relevantes no sistema.

Foto: Bruno Campos/JC Imagem
São pelo menos nove falhas registradas entre dezembro de 2018 e fevereiro de 2020 - Foto: Bruno Campos/JC Imagem


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