Crise provocada pela covid-19 faz comando do transporte público do Grande Recife mudar de novo
Mudanças são reflexo da crise do setor de transporte, que vê o passageiro fugir do sistema. Sem recursos e perspectiva de melhoria, gestores não suportam a pressão e desistem
Pouco mais de dois meses após a mudança do comando da pasta que coordena o Sistema de Transporte Público da Região Metropolitana do Recife, mais uma alteração é promovida pelo governador Paulo Câmara, num claro reflexo da confusão consequente das dificuldades enfrentadas pelo setor. O Grande Recife Consórcio de Transporte Metropolitano (CTM), braço do Estado no controle e gestão da operação do sistema de ônibus, mudou de comando. Em maio, tinha sido o da Secretaria de Desenvolvimento Urbano e Habitação (Seduh).
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Entra o advogado e engenheiro mecânico Flávio Sotero e sai o também advogado Erivaldo Coutinho - o presidente do CTM mais discreto da história do órgão. Não gostava de dar entrevistas e evitava a imprensa. Os diretores do órgão sempre assumiram o papel de falar com a sociedade. Nos bastidores, era avaliado como um gestor fraco, sem pulso. Muito educado e gentil, mas sem pulso. Flávio Sotero chega após a Seduh passar a ser comandada pelo advogado Tomé Franca.
O novo presidente do CTM, assim como seu antecessor, não é do setor de transporte. Está na gestão Paulo Câmara desde o começo, mas em áreas bem distintas: gerente de fiscalização do Procon-PE, e desde 2016 atuava como vice-presidente da Junta Comercial de Pernambuco (Jucepe). É claro que a conotação política pesa e o novo presidente entra na cota do partido Solidariedade - ligado ao deputado federal Augusto coutinho -, mas sem dúvida é uma nova tentativa do Estado de superar a crise e as dificuldades do transporte público da RMR. Tomé Franca é ligado ao deputado Sílvio Costa Filho, do Republicanos.
CRISE GRAVE
A pandemia deixou e deixará reflexos econômicos - além de sociais, é claro - profundos para todos, mas o transporte público coletivo é um dos setores mais impactados por ela. Não há como negar. E é em todo País. Nacionalmente, a fuga dos passageiros do transporte coletivo já provocou um prejuízo superior a R$ 25 bilhões (somando transporte por ônibus e sobre trilhos). Em Pernambuco, essa mesma crise tirou do cargo o ex-secretário Marcelo Bruto, que chegou ao comando da Seduh com muitas expectativas e a missão de modernizar a gestão do transporte público. Conseguiu iniciar algumas delas, mas foi pego pela pandemia de covid-19. Ficou menos de dois anos no cargo.
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Até junho, segundo dados oficiais da Seduh, os ônibus estavam operando com 65% da demanda de passageiros e 88% da frota programada em circulação. O transporte da RMR segue capenga. Muitas linhas desativadas ou sem operar aos domingos. Como é o caso dos Corredores de BRT Norte-Sul e Leste-Oeste. Intervalos ainda mais longos e lotação nos horários de pico. Para se ter ideia dos números, em junho de 2021 a média diária foi de 2.134 veículos transportando 850 mil passageiros. Em março de 2021 tinha sido 2.415 veículos transportando 1,2 milhão de passageiros. Antes da pandemia eram, aproximadamente, 2 milhões de passageiros.
NOVO PRESIDENTE
Formado em Engenharia Mecânica pela Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) e em Direito pela Universidade Católica de Pernambuco (Unicap), Flávio Sotero foi gerente de fiscalização do Procon-PE, e desde 2016 atuava como vice-presidente da Junta Comercial de Pernambuco (Jucepe).