Acessos às praias de Porto de Galinhas e Tamandaré vão do céu ao inferno: para chegar bem, só pagando; veja que caminho seguir e fuja das ciladas
O JC fez um mapeamento da infraestrutura do Litoral de Pernambuco e alerta: já estivemos piores, é fato, mas há ciladas e perigos por toda parte nas rotas que levam às praias. Reportagens seguirão até domingo (5/9), na web e no JC Digital
Apesar de um inverno mais intenso e prolongado - algo a que o pernambucano não está acostumado -, o verão está chegando e, com ele, a tradicional invasão das praias do Estado. Pensando em antecipar o que o visitante irá encontrar, o JC fez uma mapeamento da infraestrutura do Litoral de Pernambuco e alerta: já estivemos piores, é fato, mas há ciladas e perigos por toda parte nas rotas que levam às praias. É preciso estar atento e planejado. A rápida verticalização do Litoral Sul assusta e a já histórica favelização do Litoral Norte segue entristecendo. E, para piorar, a pandemia de covid-19 - reduzindo e centralizando na saúde e na assistência social os investimentos - potencializou os problemas e as ausências.
LITORAL SUL: VERTICALIZAÇÃO SEM CONTROLE E INFRAESTRUTURA A DESEJAR
Por sorte, o Litoral Sul de Pernambuco é belo. Não é à toa que a Praia de Porto de Galinhas é o principal destino turístico do Estado e um dos maiores também do Brasil. Mas, mesmo com tanta beleza, é impossível manter o turista e o frequentador olhando apenas para o Leste - na direção do mar. Para chegar, frequentar e curtir as praias, é preciso encarar a infraestrutura oferecida, que não está boa. Já foi muito pior, mas segue com problemas por toda parte entre o Recife e os destinos do balneário. A verticalização em Porto de Galinhas, quase à beira mar, deu um salto a olhos vistos e impressiona. Para o veranista, o turista e o frequentador mais atentos, não há como esconder.
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De fato, a BR-101 Sul já esteve muito pior, mas a ausência de sinalização horizontal e vertical é algo permanente na rodovia, principalmente no trecho entre a Região Metropolitana do Recife e a PE-60. Aliás, na grande maioria das estradas que dão acesso ao litoral a sinalização é coisa rara. É quase privilégio. Há tão pouca, que o cidadão menos atento nem percebe mais, passando a ter a qualidade do pavimento - se tem ou não buracos - como requisito quase único de avaliação. Faltam sinalização e cuidados de todo tipo, como a capinação das rodovias. Não há sequer acostamento na maioria delas. “A qualidade das nossas estradas para o litoral é muito ruim. O acesso a praias como Gaibu e Calhetas, por exemplo, está péssimo. Nunca foi bom, mas agora está muito, muito pior”, atesta o guia turístico Tony José Barbosa.
A PE-60 é um exemplo de todas essas ausências. Embora tenha seis quilômetros duplicados, a rodovia segue sentido duplo por uma longa extensão, cortando áreas urbanas complicadas e que geram muitos conflitos - como o trecho da cidade de Ipojuca -, até a divisa com o estado de Alagoas. Vale lembrar que o governo de Pernambuco está estudando a possível concessão da rodovia à operação privada juntamente com a PE-90, que liga Toritama, no Agreste, ao município de Carpina, na Zona da Mata Norte; e a PE-50, que liga Limoeiro à BR-232, também no Agreste pernambucano. A PE-60 entrou no pacote exatamente pelo alto volume de veículos - 12 mil por dia - e pela necessidade de manutenção permanente.
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Quem se dirige a praias como Carneiros, Tamandaré e A Ver o Mar (em Sirinhaém) sofre muito. O acesso pelo município de Rio Formoso à Praia dos Carneiros, uma das mais famosas do Estado, exemplifica bem essa dificuldade. Sem qualquer sinalização e extremamente perigoso pela falta de manutenção da via, é comum os turistas passarem direto por ele, deixando de economizar mais de 30 quilômetros no percurso. A rota alternativa é feita pela PE-72 e foi possível a partir de 2012, quando após mais de uma década em construção, a ponte sobre o Rio Ariquindá, com menos de 300 metros, foi concluída pelo governo de Pernambuco. A falta de sinalização provoca sinistros de trânsito com frequência no local.
“O acesso está abandonado há muitos anos. Só entra quem conhece. As colisões são quase diárias. É inacreditável que uma rota dessas, que leva à Praia dos Carneiros, esteja assim”, critica Elizabeth Lopes, frentista de um posto de gasolina na esquina da bifurcação da PE-60 com a PE-72.
VERTICALIZAÇÃO E DIFÍCIL ACESSO À PRAIA
Em Porto de Galinhas, a verticalização chama a atenção. São muitos pequenos edifícios sendo erguidos nas ruas próximas à praia. Alguns quase à beira-mar. De um lado, moradores e veranistas reclamam da ausência de controle do poder público. Do outro, a rede hoteleira alerta que a infraestrutura não irá suportar esse aumento da oferta de unidades. A verticalização nas praias do Cupe e Borete também chama atenção. Como se não bastasse, Porto de Galinhas sofre cada vez mais com a favelização de áreas próximas à beira-mar, como a margem Sul da PE-51, estrada que faz ligação com a Praia de Serrambi e a rodovia PE-60. A PE-51, aliás, está deplorável, apesar de ter sido pavimentada entre 2013 e 2015, após anos e anos intrafegável.
Brenda Silveira, diretora executiva do Porto de Galinhas Convention & Visitors Bureau, entidade que atua na defesa do desenvolvimento turístico da região com ações de incentivo, marketing e turismo de eventos, faz alertas sobre o impacto do crescimento desordenado nos 18 km do litoral. “A rede hoteleira da região dispõe de 13.500 leitos, mas as praias chegam a ofertar 60 mil unidades quando somamos os flats e as casas de veraneio. E ainda há uma expectativa de que dois mil novos leitos sejam ofertados pelas plataformas digitais em 2022. Ou seja, a região não tem capacidade para toda essa carga. Os turistas dos hotéis, que são todos de fora do Estado, não sentem tanto os problemas porque ficam isolados e contratam serviços de receptivo, por exemplo. Mas os visitantes e veranistas sofrem. Por isso os investimentos em infraestrutura são sempre necessários”, alerta.
O acesso à Praia de Muro Alto é outro exemplo da situação precária em que se encontra a infraestrutura do Litoral Sul. Depois de encarar uma comprometida PE-09 - rodovia de acesso à Porto de Galinhas -, alcançar as Praias de Muro Alto e Camboa é um verdadeiro rali. A situação da estrada é péssima, sendo trafegável em alguns trechos apenas com buggies. O limitado acesso à faixa de areia da praia - isolada pelos resorts e hotéis erguidos sem exigência de alamedas para passagem de pedestres - potencializam os problemas.
Como esperado, os turistas nacionais reclamam. “É muito ruim a falta de acesso e ver que a praia está sendo privatizada. Não deveria ser assim. Um lugar tão bonito sem acesso para as pessoas. A Estrada de Muro Alto também impressiona pelo abandono”, lamenta a secretária Thássia Barbosa, natural de Manaus (AM), e que visitava Porto de Galinhas e Muro Alto com o namorado, o motorista de aplicativo Flávio Antônio.