Com chegada do verão, problemas ficam mais evidentes nas praias do Litoral Sul de Pernambuco
Pandemia levou a esperança de quem depende da praia para viver. Aposta está sendo feita na retomada do verão, mas a infraestrutura precária preocupa. Reportagens seguirão até domingo (5/9), na web e no JC Digital
A preocupação de quem vive do Litoral Sul de Pernambuco é potencializada pela alta da demanda com o verão. Davi Oliveira, proprietário da Pousada Praia dos Carneiros, no município de Tamandaré, desabafa diante dos problemas. “Estamos com previsão de aproximadamente 80% de ocupação de setembro a dezembro deste ano. Sabemos que o turismo vai voltar super forte com a sequência da vacinação e o controle da pandemia. Por isso temos que nos preocupar em melhorar e recompor algumas coisas: os acessos pelas rodovias precisam ser melhorados, com o fechamento dos buracos e a capinação dos acostamentos. Também é importante refazer a sinalização”, enumera o empresário.
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Saindo das estradas e chegando à infraestrutura das praias, Davi Oliveira também alerta para a necessidade de melhorar o controle dos esgotos da cidade e dos ambulantes e prestadores de serviços à beira-mar. “No caso de Carneiros, estamos na APA Costa dos Corais (Área de Proteção Ambiental). Precisamos ter muito cuidado e controle para que os pontos turísticos sejam preservados (recife de corais, piscinas naturais, Igrejinha dos Carneiros). Ter controle do tráfego marítimo com fiscalização das embarcações e locais de atracação”, segue alertando.
ROTAS PEDAGIADAS SÃO A MELHOR OPÇÃO
O céu e o inferno. Quem quiser evitar sustos e reduzir problemas, o Litoral Sul tem a opção das rodovias pedagiadas, que funcionam muito bem principalmente para praias como Porto de Galinhas e Muro Alto porque têm acesso direto. As Concessionárias Rota dos Coqueiros (CRC) - que conecta Jaboatão dos Guararapes ao Cabo de Santo Agostinho pela Reserva do Paiva - e Rota do Atlântico (CRA) - ligação pelo Porto de Suape - salvam a vida do condutor porque oferecem um sistema viário bem cuidado, duplicado, com sinalização horizontal e vertical em toda a extensão, além de suportes mecânico e médico. Mas há um custo para isso e ele não é barato para quem usa com frequência - em média R$ 30 para ir e voltar pelos dois pedágios. A diferença entre usá-las ou seguir pelas rodovias públicas, no entanto, é gritante sob o aspecto da segurança viária.
RODOVIA PE-28 É PURO PERIGO
A rodovia PE-28, que dá acesso à Praia de Gaibu e Calhetas, no Cabo de Santo Agostinho, a partir da PE-60, é um desafio à parte. É uma das rotas mais abandonadas no acesso ao Litoral Sul do Estado. Além de sinuosa e ainda com sentido duplo, parece ter sido esquecida pelo poder público. Buracos estão por toda parte, e a ausência de sinalização e capinação predomina ao longo dela, entre Gaibu e a PE-60. A má conservação da PE-28 compromete, inclusive, a infraestrutura pedagiada porque ela é a rodovia que liga a Rota dos Coqueiros à Rota do Atlântico.
É uma ligação esquecida porque a maioria das pessoas que se dirigem às praias de Porto de Galinhas e de Muro Alto, no município de Ipojuca, optam por usar a BR-101 Sul e o pedágio da Rota do Atlântico, evitando a Reserva do Paiva. O abandono da PE-28, no entanto, afeta não só quem quer chegar à Gaibu e Calhetas, por exemplo, mas também o transporte público, já que 22 linhas de ônibus usam a rodovia mesmo degradada, transportando 700 mil passageiros por mês.
À BEIRA-MAR, MUITAS DIFICULDADES. PANDEMIA PIOROU SITUAÇÃO
Além de ser difícil chegar, estar nas praias do Litoral Sul também pode significar problemas. Principalmente em algumas delas. Com exceção de Porto de Galinhas e Muro Alto - que conseguem oferecer infraestrutura de alto nível nos resorts e hotéis e mediana no comércio informal -, o serviço à disposição do praieiro caiu muito com a crise provocada pela pandemia de covid-19. A precarização de antes da crise sanitária acentuou-se. Principalmente em algumas praias.
É o caso da Praia de Tamandaré. Com a queda do movimento que alcançou patamares superiores a 80%, os comerciantes da orla ficaram sem condições e sem apoio para fazer investimentos. Os que ainda tiveram algum tipo de ajuda do poder público, usaram o que receberam para sobreviver junto a seus familiares. O resultado é uma infraestrutura de bares e quiosques duvidosa e à espera de requalificação urgente.
“Seguimos aguardando o projeto da Prefeitura de Tamandaré de requalificação dos 22 quiosques da beira-mar. A reforma ia começar antes da pandemia e até agora nada. Tivemos uma queda no movimento superior a 70%, o que piorou tudo. Agora, mesmo sem a requalificação, estamos apostando no verão. Torcemos para que o movimento retorne”, afirma o comerciante Fábio Ordonio da Silva, que começou na praia como ambulante, virou garçom e hoje gerencia o Boteco Beach.
A Praia de A Ver o Mar, no município de Sirinhaém, também sofre com o abandono. O antigo Píer de Guadalupe, que permitia a realização de passeios para a Praia de Carneiros, está completamente destruído há anos e sem qualquer perspectiva de requalificação. A PE-009, continuação da PE-61 e que no acesso à praia é chamada Rodovia Costa Dourada, está destruída e quase intrafegável. “A situação de acesso é muito ruim por aqui. Vocês viram as condições da estrada. Nem uma simples operação tapa-buraco é feita. É muito abandono com uma das poucas áreas de praia ainda tão preservada”, critica o engenheiro Gilmar Lira, veranista de A Ver o Mar.