Enquanto Metrô do Recife sofre com sucateamento, sistema de São Paulo recebe milhões em subsídio
JC apurou que, devido à ausência de trens em condições de operar, a gestão do Metrô do Recife cogitou desativar a operação da Linha Sul
Enquanto o Metrô do Recife está à beira do colapso, inclusive sob risco de desativar uma das duas linhas devido à ausência de trens para a operação, o Metrô de São Paulo ganha um tratamento financeiro compatível com a importância que o transporte público sobre trilhos merece. Em duas ações distintas, o sistema metroferroviário paulista recebeu R$ 276 milhões em créditos suplementares do governo de São Paulo para garantir a operação do sistema.
Em outubro de 2021, foram R$ 178 milhões. E, agora, mais R$ 76 milhões. Os recursos serão destinados ao atendimento de despesas de Capital, que são despesas relacionadas à aquisição de bens (desapropriações, veículos, equipamentos de informática e outros). E vão garantir o equilíbrio financeiro do metrô e da CPTM, que desde o início da pandemia enfrentam queda de receita devido à perda de demanda de passageiros.
Linha Sul sob risco de ter a operação suspensa devido ao sucateamento do Metrô do Recife
Segundo informações do governo de São Paulo, o metrô acumulou um prejuízo de R$ 1,7 bilhão em 2020, potencializada pela crise sanitária. Em 2019 já tinha tido um prejuízo de R$ 599 milhões. E em 2021 a situação abrandou, mas o prejuízo seguiu: apenas no primeiro trimestre deste ano foram R$ 363 milhões negativos.
A SITUAÇÃO DO METRÔ DO RECIFE
A crise e o consequente sucateamento do Metrô do Recife chegaram ao limite. A situação está tão crítica que, assim como aconteceu em 2018 e pelas mesmas razões, o sistema metroferroviário que atende a Região Metropolitana está sob risco de suspender parcialmente a operação. Na prática, a estratégia seria parar a operação da Linha Sul, que liga o Centro da Capital a Cajueiro Seco, bairro de Jaboatão dos Guararapes, para conseguir garantir o funcionamento da Linha Centro - que é o principal eixo do sistema e transporta, em seus dois ramais (Jaboatão e Camaragibe) 70% dos passageiros do sistema. Se o sistema metroferroviário não receber investimentos, a previsão é de que o ramal seja desativado até junho de 2022
Enquanto a Linha Sul está transportando, atualmente, menos de 70 mil pessoas por dia, a Linha Centro garante o deslocamento de 100 mil. Antes da pandemia de covid-19 eram 150 mil passageiros/dia na Linha Sul e 250 mil na Linha Centro - a que teve a maior perda de demanda na crise sanitária. Todo o problema está relacionado à quantidade de trens disponíveis para a operação. Sem recursos suficientes sequer para garantir o custeio do sistema (despesas básicas da operação), o metrô está acumulando trens quebrados e sem peças básicas para reposição no Centro de Manutenção de Cavaleiro (CMC), a grande oficina do sistema. Mais de dez equipamentos estão parados no local, à espera de peças - muitas delas baratas e simples. Enquanto isso, poucas composições estão na operação, o que aumenta absurdamente o intervalo entre os trens. E, para que o leitor entenda, a consequência direta de intervalos longos é a superlotação dos trens e a ausência de conforto para os passageiros.
A situação se tornou ainda mais grave há um mês, aproximadamente, segundo fontes ouvidas pelo JC. E, na semana passada, chegou ao absurdo de a Linha Centro operar com apenas oito trens e a Linha Sul com outros quatro. Quando o mínimo aceitável seriam 12 e oito trens, respectivamente. E, mesmo assim, seria uma quantidade muito baixa porque - de acordo com metroviários ouvidos pelo JC - significa intervalos de 10 minutos no tronco (ao longo da linha) e de 20 minutos nos ramais (nas Estações de Jaboatão e Camaragibe), por exemplo.
E estamos falando dos horários de pico da manhã e da tarde/noite. No chamado horário de vale (fora pico) o intervalo é ainda maior. A gestão do Metrô do Recife nega a crise. Diz que não há estratégia de retirada de trens da Linha Sul para garantir a operação mínima da Linha Centro. Também rebate os horários de intervalo entre as composições, insistindo que o sistema opera com a quantidade de trens que atende à demanda atual de passageiros - que caiu praticamente pela metade com a pandemia de covid-19, saindo de quase 400 mil para aproximadamente 200 mil pessoas/dia. E mais: que há perspectiva de incremento na operação em 2022. Mas não dá detalhes como datas e valores.