TRÂNSITO

RACHA: avenida onde RACHA provocou COLISÃO tem FISCALIZAÇÃO DE VELOCIDADE, mas Justiça de Pernambuco mandou desligar há 16 anos

CTTU tentou derrubar a proibição, mas não conseguiu, embora os números da gestão municipal mostrem um alto número de mortes e colisões de madrugada

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Roberta Soares

Publicado em 24/02/2023 às 11:48 | Atualizado em 24/02/2023 às 18:00
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O Cais José Estelita, um dos corredores viários mais importantes da cidade e uma das principais ligações da Zona Sul com o Centro do Recife, onde veículos foram flagrados fazendo racha livremente, tem equipamento de controle de velocidade.

O radar não fica na pista oeste do Cais, onde o racha foi filmado, é fato, mas na pista leste, no sentido Zona Sul-Centro. O equipamento, entretanto, é “desligado” à noite por determinação da Justiça de Pernambuco há 16 anos.

Ou seja, os veículos flagrados excedendo a velocidade de 60 km/h da via entre 22h e 5h não são multados. Talvez, se a fiscalização noturna de velocidade fosse ativada, pudesse inibir a prática de rachas por motoristas irresponsáveis.

Veículos são flagrados fazendo racha no Cais José Estelita, no Recife

ENTENDA COMO FOI O DESLIGAMENTO DA FISCALIZAÇÃO DE VELOCIDADE

Apesar dos esforços técnicos da Autarquia de Trânsito e Transporte Urbano do Recife (CTTU), que vem conseguindo reduções de sinistros e vítimas no trânsito, a capital desliga toda a fiscalização eletrônica da cidade à noite há 16 anos. Inclusive os equipamentos de controle de velocidade.

E a responsável é a Justiça de Pernambuco. Desde 2006, quando, por força de decisão judicial provocada pelo Ministério Público de Pernambuco (MPPE), a cidade desligou todo e qualquer equipamento de fiscalização eletrônica de trânsito, sejam os que controlam a velocidade, como os de avanço de semáforo. Não se tem notícia de outra cidade brasileira que faça o mesmo.

Fiscalização de velocidade ainda é desligada à noite no Recife

Confira a série de reportagens Mutilados - As verdadeiras vítimas do trânsito

Na época, o juiz José Marcelon Luiz e Silva, então na 1ª Vara da Fazenda Pública da Capital, determinou o desligamento dos equipamentos das 22h às 5h (em 2006 eram apenas os bandeirões, chamados de lombadas). O magistrado foi favorável a uma ação civil pública do MPPE, que teve como autora a promotora Andréa Nunes.

BOBBY FABISAK/JC IMAGEM
Segundo dia de lockdown em municípios da Região Metropolitana do Recife por conta do coronavírus. - BOBBY FABISAK/JC IMAGEM

26%
dos sinistros de trânsito registrados no Recife em 2020 aconteceram nos períodos da noite (18h à 0h) e da madrugada (0h às 6h). 35% pela manhã, 38% à tarde, 22% à noite e 4% de madrugada

60%
é a redução da frota circulante de veículos nos horários em que os registros de sinistros são maiores, o que é ainda mais alarmante. O mesmo vale para a letalidade das colisões nesses horários

O Recife tinha apenas três equipamentos (na Cabanga, na Avenida Alfredo Lisboa e na Avenida Abdias de Carvalho) e o argumento do MPPE era de que havia um aumento no número de assaltos nessas áreas. Embora os registros não existam, comprovadamente, nos pontos onde havia fiscalização eletrônica. A CTTU recorreu até onde foi possível, mas em 2012 uma apelação foi julgada pela 2ª Câmara de Direito Público do Tribunal de Justiça de Pernambuco (TJPE), que confirmou a sentença de 1º grau.

Até hoje, o município diz estar de mãos “atadas” sobre a questão. “À época da decisão judicial, a CTTU entrou com recurso para tentar revertê-la. Atualmente a determinação da Justiça se encontra transitada em julgado”, informou por nota a autarquia.

NÚMEROS MOSTRAM O PERIGO DO DESLIGAMENTO DA FISCALIZAÇÃO ELETRÔNICA À NOITE

O mais grave é que os números da própria gestão municipal mostram o estrago que esse desligamento promove não só moralmente - porque estimula o desrespeito aos limites por condutores infratores -, mas também na prática.

Dados da autarquia que já foram base de uma reportagem da Coluna Mobilidade mostraram que o horário das 22h às 5h respondia por até 40% de todas as mortes provocadas por colisões e atropelamentos na cidade entre os anos de 2014 e 2016. Para alarmar ainda mais, é importante destacar que os registros foram feitos num período em que a frota circulante de veículos sofre uma redução de 60%.

Os dados comprovam o que estudiosos da segurança viária alardeiam há anos no País: que a fiscalização eletrônica de velocidade e de avanço de semáforos é ainda mais importante à noite porque é nesse turno quando o condutor mais acelera e ainda arrisca misturar bebida e direção.

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Carro capotou em racha que acontecia no Cais José Estelita, no Recife - REPRODUÇÃO
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Racha de veículos no Cais José Estelita, no Recife - REPRODUÇÃO

DADOS RECENTES CONFIRMAM O PERIGO DE DESLIGAR A FISCALIZAÇÃO ELETRÔNICA

O Primeiro Relatório Anual de Segurança Viária da capital, realizado pela CTTU e Iniciativa Bloomberg de Segurança Viária Global, reforça o equívoco que é o desligamento da fiscalização eletrônica à noite.

Em 2020, os períodos da noite (18h à 0h) e da madrugada (0h às 6h) responderam por 26% dos sinistros de trânsito na capital. 35% pela manhã, 38% à tarde, 22% à noite e 4% de madrugada.

E que, quando observada a letalidade dos sinistros, o período da madrugada se destaca. Enquanto pela manhã o percentual de mortes foi 0.049, à tarde de 0.039 e à noite de 0.077, a madrugada foi de 0.214 no ano de 2020.

Mesmo diante desses dados, a capital segue desligando a fiscalização eletrônica à noite.

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