Muita gente não sabe, mas quatro pessoas terminaram presas por furtar a carga de uma carreta enquanto o caminhoneiro ainda estava preso às ferragens, em Panelas, município do Agreste de Pernambuco. O saque da mercadoria, realizado por uma multidão que nem se preocupou em ver se a vítima ainda estava viva, revoltou um bombeiro militar.
Indignado, Lindomar Rodrigues, socorrista com 28 anos de profissão, fez um desabafo comovente em vídeo, que teve grande repercussão nas redes sociais. O bombeiro militar se revoltou com a indiferença que a sociedade vem desenvolvendo em relação à vida humana, ainda mais potencializada nos casos de mortes no trânsito - que seguem sendo vistas, em muitos casos, como ‘fatalidades’.
“Isso é roubo. Ladrões somos nós. Vocês não entendem isso não é? Tem um pai de família ali, morto. E vocês não estão nem aí, arrombando a carga", lamentou no vídeo gravado por pessoas que estavam no local.
A indignação do socorrista é demonstrada nos vídeos desta reportagem e deve ser sentida e compartilhada por todos. Sem distinção.
O caso aconteceu na BR-104, a menos de cinco quilômetros da cidade de Panelas. De tão perigoso, o local é conhecido como Curva do Criminoso e, entre os profissionais socorristas, qualquer ocorrência naquela área já é sinônimo de estrago grande, de dor e, quase sempre, de morte.
É tanto que, naquele sinistro de trânsito (não é mais acidente de trânsito que se diz. Entenda), a equipe do 2º Grupamento de Bombeiros de Caruaru, comandada pelo segundo sargento Rodrigues, levou quatro horas para conseguir tirar o corpo do motorista das ferragens.
QUATRO PESSOAS PRESAS E UMA FORAGIDA
Três das quatro pessoas presas pela Polícia Civil de Panelas foram autuadas por furto (Artigo 155 do Código Penal) e uma por receptação de produto de crime (Artigo 180 do Código Penal). Segundo o delegado José Maranduba, que fez as prisões, os quatro irão responder criminalmente e poderão pegar penas de quatro a oito anos de prisão.
Furtar sozinho tem pena prevista de até quatro anos, enquanto que o furto com outras pessoas pode ter uma pena de até oito anos. Uma quinta pessoa, já identificada pela polícia, ficou de se entregar.
Das quatro pessoas, a que foi autuada por receptação teve que pagar fiança no valor de R$ 2 mil para não ficar presa porque, diferentemente das outras, foi presa em flagrante. Já as outras três vão responder a inquérito policial que será remetido à Justiça em até 30 dias.
VÍDEO: bombeiro DESABAFA ao ver SAQUE de mercadorias enquanto MOTORISTA morre em CAPOTAMENTO
“Infelizmente, não conseguimos prender mais pessoas porque, além de termos uma equipe pequena, só começamos as prisões dois dias depois do caso, já que precisávamos apurar as denúncias direito”, explica José Maranduba.
O delegado, que compartilha da indignação do bombeiro militar, chegou a dar entrevistas para blogs da cidade alertando sobre as consequências do crime de saquear cargas e orientando que os ladrões devolvessem o que pegaram que teriam a pena reduzida.
“Mas não adiantou muito. Soubemos que muitas pessoas começaram a fugir com a mercadoria no lugar de devolver o que pegaram. O que é lamentável”, relata. A carga de sapatos, sandálias e bolsas foi avaliada em R$ 700 mil.
PESSOAS ROUBARAM SEM PASSAR NECESSIDADE
Segundo o delegado, que atua em Panelas há aproximadamente um ano, a prática de saques de produtos que se espalham em sinistros de trânsito era comum na região. E não era feito por pessoas necessitadas. Ao contrário.
“Entre as pessoas que prendemos, temos um comerciante da região que vive bem, que não passa necessidade. Furtou por furtar, pela falta de humanidade”, relata o delegado.
José Maranduba conta, ainda, que as pessoas presas se calavam quando questionadas sobre a indiferença com o caminhoneiro ainda preso às ferragens, enquanto a mercadoria era furtada. “Eles se calavam. Olhavam para gente e se calavam, constrangidos com a atitude. Agora, espero que esse episódio reduza essa prática”, afirma.
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