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CRISE METRÔ DO RECIFE: futuro do Metrô do Recife depende da postura do GOVERNO de PERNAMBUCO

Debate realizado na Rádio Jornal com especialistas do setor apontou que prefeitos da Região Metropolitana do Recife podem ajudar politicamente, mas decisão sobre futuro do sistema passa pelo Estado

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Roberta Soares

Publicado em 29/08/2023 às 18:27
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O futuro do Metrô do Recife - que sofre com um sucateamento predatório e um déficit de custeio anual de R$ 300 milhões - passa, antes de mais nada, pelas mãos do governo de Pernambuco. Mesmo que os prefeitos da Região Metropolitana do Recife queiram colaborar com a recuperação do sistema terão que estar sempre à espera da decisão política do governo do Estado.

Essa foi a principal conclusão a que chegaram os especialistas que participaram de um debate na Rádio Jornal, nesta terça-feira (29/8), para discutir o papel das prefeituras do Grande Recife na crise enfrentada pelo metrô. Participaram o engenheiro civil, professor da UFPE e Unicap, e integrante do Comitê Tecnológico Permanente do Crea-PE, Maurício Pina, e o engenheiro civil, especialista em mobilidade urbana, e presidente do Instituto de Trânsito e Mobilidade Sustentável (ITMS), Ivan Cunha.

“De fato, em primeiro lugar é fundamental e essencial que o governo de Pernambuco decida se quer ou não receber o Metrô do Recife das mãos do governo federal. Em quais condições e o que será feito com o sistema em seguida são questões que, sem dúvida, precisam ser discutidas. Mas, o primeiro passo é o Estado aceitar ou não o metrô. Sem essa definição, o sistema seguirá sob gestão do governo federal”, alertou Maurício Pina.

“É com muita tristeza que vemos a situação em que se encontra o Metrô do Recife, que há 38 anos, quando criado, foi referência de operação e limpeza no País, e agora está na iminência de enfrentar uma paralisação técnica. Nosso temor é ver uma tragédia acontecer devido à situação, sucateado e sendo canibalizado, que é o que vem acontecendo com os trens que não conseguem mais operar e têm peças retiradas para serem usadas nos que ainda rodam”, disse Maurício Pina.

FELIPE JORDÃO/JC IMAGEM
Maurício Pina, especialista em transporte e professor da UFPE e Unicap - FELIPE JORDÃO/JC IMAGEM

Ivan Cunha seguiu a mesma lógica, destacando ser impossível conceber o transporte público do Grande Recife sem o metrô. “Embora o sistema seja muito periférico e não corte a RMR porque foi uma adaptação das linhas férreas existentes, o que exigiu uma alimentação dos ônibus, é impossível pensar o SEI (Sistema Estrutural Integrado) sem o metrô. Por isso a vontade política de recuperar e ampliar o sistema é o primeiro passo”, afirmou.

METRÔ DEVERIA TER A MESMA MOBILIZAÇÃO FEITA PELA TRANSNORDESTINA

Na avaliação de Maurício Pina, o Metrô do Recife deveria ter a mesma mobilização política, administrativa e social que foi feita com a Transnordestina para retomar o trecho que atende ao Porto de Suape, no Grande Recife. “O sistema metropolitano é ainda mais importante para o transporte da RMR, na minha opinião. E todos deveriam se unir a favor dele. Agora, é fundamental que toda a discussão tenha o passageiro como principal ponto. A política partidária precisa ser deixada de lado e os prefeitos da capital e da Região Metropolitana se unirem ao Estado nessa discussão”, defendeu.

METRÔ ATENDE A TODAS AS CIDADES DO GRANDE RECIFE DIRETA OU INDIRETAMENTE

Divulgação/CREA-PE
Ivan Carlos Cunha, engenheiro civil - Divulgação/CREA-PE

O Metrô do Recife é metropolitano e os quase 200 mil passageiros que os utilizam diariamente são moradores da capital e do Grande Recife. Principalmente da capital pernambucana, para onde mais de 80% dos deslocamentos urbanos da região se dirigem.

O metrô atende diretamente quatro cidades - Recife, Jaboatão dos Guararapes, Cabo de Santo Agostinho e Camaragibe -, mas, com a integração com os ônibus, todas as cidades acabam sendo atendidas.

CONFIRA ALGUNS DADOS QUE MOSTRAM A DIMENSÃO E A CRISE ENFRENTADA PELO METRÔ DO RECIFE

ALEXANDRE GONDIM/JC IMAGEM
Sistema sofre com sucateamento e está na iminência de uma paralisação técnica - ALEXANDRE GONDIM/JC IMAGEM

*Apenas as quatro cidades atendidas diretamente pelo Metrô do Recife representam 67,8% da população da RMR.
* O Metrô do Recife vem recebendo, desde a gestão do ex-presidente Michel Temer, entre 30% e 50% do orçamento necessário apenas para custeio da operação.
* O déficit operacional do metrô é de R$ 300 milhões por ano.
* O sistema precisaria, segundo estudos da própria CBTU Recife, de pelo menos R$ 2 bilhões para se reerguer e voltar a ter a operação que tinha há dez anos.
* O sistema está operando atualmente com apenas 17 trens nos horários de pico (10 trens na Linha Centro e 7 na Linha sul) e 13 no fora pico, chamado vale (8 trens na Linha Centro e 5 na Linha Sul).
* Transporta apenas 176 mil passageiros por dia. Já foram 25 trens em operação e quase 400 mil pessoas transportadas diariamente.
* A falta de infraestrutura faz com que os intervalos do sistema cheguem a 15 minutos mesmo nos horários de pico.

O valor de quase R$ 2 bilhões seria para aquisição de 20 novos trens, recuperação das composições que ainda operam (atualmente são apenas 17 veículos), requalificação da rede férrea onde rodam os trens e da estrutura física do sistema (estações de passageiros e subestações de energia).

Somente a aquisição de novos trens custaria R$ 900 milhões. O restante do valor, que totalizam R$ 866 milhões, seria para as outras intervenções.

CONFIRA OS VALORES POR EQUIPAMENTO:

Total necessário: R$ 1,8 bilhão

Aquisição de 20 novos trens: R$ 900 milhões
Recuperação da via permanente (rede férrea onde circulam os trens): R$ 245 milhões
Recuperação do material rodante (trens e veículos de manutenção): R$ 304 milhões
Recuperação e requalificação das edificações do sistema (estações): R$ 51 milhões
Recuperação e requalificação dos sistemas físicos (subestações de energia): 260 milhões

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