TRANSPORTE PÚBLICO

INTEGRAÇÃO TEMPORAL: governo de Pernambuco conclui integração temporal "intramuros" e passageiros seguem reclamando dos problemas

Depois de seis anos implementando a tecnologia, integração temporal ficou atrasada para os tempos atuais e dependente dos terminais integrados - o que atrasa o passageiro

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Roberta Soares

Publicado em 21/12/2023 às 16:55 | Atualizado em 21/12/2023 às 17:08
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Quase no fim do mês de novembro de 2023, seis anos depois do início do processo, ainda no Terminal Integrado de Cavaleiro, a integração temporal foi implantada em todos os terminais integrados de ônibus e metrô da Região Metropolitana do Recife.

A última linha a ser incluída no processo foi a 207 – TI Barro/TI Macaxeira (BR-101), no Terminal Integrado da Macaxeira, um dos mais problemáticos do sistema. O avanço da integração temporal - cobrada por muitos anos e que deveria ser comemorada -, entretanto, virou um transtorno para muitos passageiros e mais uma marca que compromete a imagem do transporte público do Grande Recife.

Isso porque o governo do Estado implantou uma integração temporal “intramuros”, ou seja, limitada em quase sua totalidade aos 26 terminais integrados da RMR. Para quem não sabe, a integração temporal é uma tecnologia que permite a circulação com o pagamento de uma única tarifa no intervalo de até 2h por sentido da viagem (ida ou volta).

Muitos passageiros têm se irritado e reclamado da operação alegando ser comum os ônibus ficarem presos em congestionamentos no percurso, expirando o prazo de 2h entre os embarques para validar a integração. Assim, quando chegam nos TIs para pegar o segundo transporte, têm uma segunda tarifa descontada.

FALTA DE PRIORIDADE VIÁRIA AO ÔNIBUS COMPROMETE INTEGRAÇÃO TEMPORAL

BRUNO CAMPOS/JC IMAGEM
Vale destacar que a integração temporal só é válida com a utilização dos cartões VEM. Dinheiro e PIX não dão direito - BRUNO CAMPOS/JC IMAGEM

O prazo de 2h para chegar ao terminal de integração e conseguir pegar o segundo transporte, por exemplo, tem

É o caso, por exemplo, do estudante do Senai Tarcísio Cardoso, que usa o TI Abreu e Lima, na área Norte do Grande Recife e tem sido prejudicado pelas retenções das obras de requalificação da PE-15 e pelo tradicional trânsito da Avenida Cruz Cabugá, no Centro do Recife, e da BR-101 Norte.

“Temos sofrido muito com os engarrafamentos da PE-15 no percurso Recife-TI Abreu e Lima ou do TI Macaxeira para o TI Abreu e Lima. Quando chegamos na integração de Abreu e Lima, muitas vezes já se passaram as duas horas e somos obrigados a pagar uma segunda passagem, mesmo quando a culpa é do trânsito no percurso”, reclama.

Segundo o passageiro, muitas pessoas chegam a ser submetidas a constrangimentos pela fiscalização do sistema quando tentam justificar as razões para o tempo da integração temporal expirar. “Quando justificamos o que ocorreu no segundo embarque, somos constrangidos pelos fiscais e tratados como bandidos. Desligam o ônibus e obrigam o passageiro a descer para não embarcar no segundo trajeto, ou seja, trajeto final. Além disso, o desconto de passagens indevidas prejudica quem trabalha e recebe o valor contado”, argumenta.

APELO AO PODER PÚBLICO

FILIPE JORDÃO/JC IMAGEM
Ao aproximar o cartão do validador no segundo embarque - seja de ônibus ou de metrô - o passageiro deve ficar atento ao visor e conferir se a mensagem "Integração Temporal" aparece - FILIPE JORDÃO/JC IMAGEM

Os passageiros apelam ao poder público para que encontre uma solução para as linhas que todos têm conhecimento que passam por corredores viários importantes da RMR e que enfrentam congestionamentos diários devido à falta de faixas ou corredores exclusivos de circulação.

“Não temos culpa pelos engarrafamentos. Sendo assim, é dever do poder público se responsabilizar pela mobilidade do Estado e proporcionar uma melhor fluidez para o transporte público. Muitas vezes temos os valores descontados do nosso cartão VEM e, mesmo solicitando o ressarcimento, muitas vezes o estorno não é feito. Precisamos que as linhas expressas e semi expressas sejam retomadas”, alega.

O sistema de ônibus do Grande Recife transporta hoje em dia, pós pandemia, 800 mil passageiros catracados (registrados nos bloqueios) e movimenta R$ 1,2 bilhão por ano.

GOVERNO DE PERNAMBUCO PLANEJA AMPLIAR INTEGRAÇÃO PARA FORA DOS TERMINAIS INTEGRADOS

Em conversa com o JC ainda em novembro, o presidente do Grande Recife Consórcio de Transportes Metropolitano (CTM), Matheus Freitas, garantiu estar atento ao problemas de expiração do período de 2h e prometeu que o governo iria alterar o período limite das linhas mais longas e que mais sofrem com a falta de prioridade viária.

E mais: que a meta da gestão é ampliar a integração temporal para fora dos terminais integrados - herança herdada do governo do PSB e que precisava ser finalizada. Matheus Freitas, entretanto, informou que, apesar das reclamações, 90% das reclamações feitas sobre cobrança indevida não foram por extrapolar o horário, mas por uso em linhas que não faziam parte da matriz de integração.

“A integração temporal não foi bem divulgada e explicada para a população. Muitas pessoas não sabem que ela só vale nos terminais, com poucas exceções de outras linhas do sistema. Por falta de informação, o passageiro tenta fazer a integração fora e tem a tarifa descontada. Estamos revendo tudo isso”, afirmou na entrevista.

Algumas linhas terão um intervalo maior, de 3h, para a integração temporal.

ENTENDA PORQUE DUAS HORAS É POUCO TEMPO NO GRANDE RECIFE

RENATO RAMOS / JC IMAGEM
Para quem não sabe, a integração temporal é uma tecnologia utilizada em mais de 30 sistemas de transporte público do País em que o passageiro paga uma única tarifa e pode utilizar diferentes linhas e modais por um determinado período. O tempo e a quantidade de integrações variam de acordo com cada sistema de transporte - RENATO RAMOS / JC IMAGEM

Embora todo mundo sinta a dificuldade que é circular no Grande Recife em muitas áreas e, principalmente, nos horários de pico, existem estudos que comprovam que duas horas de prazo para a integração temporal pode ser muito pouco tempo.

Um relatório global realizado em 2022 pela empresa israelense de mobilidade Moovit analisou o transporte público de grandes metrópoles do mundo e constatou que o Recife é a cidade brasileira com o segundo maior tempo de viagem nos ônibus, com uma média de 64 minutos (incluindo caminhadas, espera e tempo de deslocamento).

A capital pernambucana perde apenas para o Rio de Janeiro, com 67 minutos. No entanto, as viagens no Recife são mais curtas, com um percurso médio de 8,22 quilômetros, enquanto na capital fluminense o trajeto médio é de 11,42 quilômetros. Além disso, o Rio de Janeiro tem mais corredores de BRT e faixas exclusivas.

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