TRANSPORTE PÚBLICO

Trabalho remoto é bom para a crise climática, mas prejudicial ao transporte público, confirma estudo

Constatação força as agências de transporte público a se adaptarem operacional e financeiramente ao aumento do trabalho remoto

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Roberta Soares

Publicado em 16/04/2024 às 12:11 | Atualizado em 16/04/2024 às 12:12
Notícia

Um estudo do Instituto de Tecnologia de Massachusetts, da Universidade da Flórida (EUA), e da Universidade de Pequim, na China, constatou o que o setor de transporte público vem sentido na prática desde a explosão da pandemia de covid-19, ainda em 2020. O trabalho remoto poderia reduzir centenas de milhões de toneladas de emissões de carbono provenientes das viagens de automóveis, mas comprometeria diretamente as viagens de transporte público no mundo.

O benefício ambiental seria ao custo de milhares de milhões perdidos em receitas dos sistemas de transporte público, sejam ônibus, metrôs ou trens, de acordo com o estudo. A análise utilizou dados mais recentes sobre o trabalho remoto e o comportamento dos transportes desde que a pandemia alterou as modalidades de trabalho.

Os investigadores descobriram que um aumento de 10% no número de trabalhadores remotos poderia levar a uma queda de 10% nas emissões de carbono do setor dos transportes, ou quase 200 milhões de toneladas de dióxido de carbono por ano nos EUA, graças a menos viagens de carro.

IMPACTO FINANCEIRO DE 27% NA RECEITA DO TRANSPORTE PÚBLICO

Mas a mesma proporção de trabalho remoto reduziria a receita das tarifas de transporte público em 3,7 mil milhões de dólares no País, o que representaria uma queda de receita de 27%.

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A demanda de passageiros do transporte público nunca voltou aos patamares pré-pandemia, pelo menos no Brasil. Em geral, os sistemas seguem com uma perda de até 30% do volume de pessoas transportadas - Guga Matos/JC Imagem

Foi considerado que cerca de 14% da força de trabalho atua exclusivamente a partir de casa, mas seria possível que até metade de todos os trabalhadores pudessem trabalhar remotamente pelo menos parte do tempo. O objetivo era investigar como as cidades poderiam cumprir os seus objectivos de sustentabilidade promovendo o trabalho remoto.

“Por isso, as agências de transporte e trânsito precisam estar muito preocupadas”, alertou Shenhao Wang, Ph.D., professor de planejamento urbano da Universidade da Flórida que supervisionou o novo estudo. “No entanto, no geral, esperaríamos menos consumo de energia devido à redução das viagens de carro. Portanto, o quadro é muito complicado e se os efeitos são positivos ou negativos depende das partes interessadas”, concluiu.

TRABALHO REMOTO COMO SOLUÇÃO PARA CONGESTIONAMENTOS

Os planejadores urbanos há muito consideram o trabalho remoto como uma forma de reduzir o congestionamento do tráfego e as emissões de carbono. Mas antes da pandemia de convid-19, era um desafio analisar os efeitos do trabalho remoto porque poucos funcionários trabalhavam de home office.
O rápido aumento e o investimento contínuo no trabalho remoto provocados pela pandemia permitiram, enfim, que os investigadores tivessem a oportunidade de ver como a tendência afetaria a mobilidade urbana.

O novo estudo cobriu o período de abril de 2020 a outubro de 2022 e incluiu dados do Google sobre padrões de trabalho remoto, juntamente com informações da Administração Rodoviária Federal para viagens de carro e um banco de dados nacional para viagens de transporte público.

Os pesquisadores correlacionaram o comportamento do transporte com o aumento e a queda do trabalho remoto em diferentes estados e áreas metropolitanas dos EUA para descobrir o efeito do aumento do trabalho remoto nas viagens de carro e no transporte público.

QUEDA DE DEMANDA DE PASSAGEIROS NO TRANSPORTE PÚBLICO

Eles descobriram que o número de passageiros no transporte público caiu duas vezes mais rápido do que as viagens de carro, em resposta à mesma queda no número de trabalhadores no local.

“As pessoas dependem principalmente do transporte público para ir trabalhar. Quando as pessoas começam a trabalhar em casa, a necessidade de deslocamento é bastante reduzida. Portanto, uma grande parte do transporte público não era mais necessária”, disse Yunhan Zheng, Ph.D., pesquisador de pós-doutorado no MIT e principal autor do novo artigo. “Por outro lado, muitas pessoas dependem de veículos para outras viagens além do trabalho. Eles vão às compras, frequentam restaurantes e atividades de lazer. Essas atividades podem não desaparecer necessariamente quando as pessoas trabalham em casa.”

IMPACTO FINANCEIRO

Devido às diferenças entre o comportamento de condução e de trânsito, o estudo apontou que as agências de transporte terão um grande desafio em relação à sustentabilidade financeira, exigindo iniciativas para lidar com a situação. E citou, como exemplo, a possibilidade de fornecer mais serviços fora dos horários de pico em áreas residenciais para melhor atender aos trabalhadores remotos.

A demanda de passageiros do transporte público nunca voltou aos patamares pré-pandemia, pelo menos no Brasil. Em geral, os sistemas seguem com uma perda de até 30% do volume de pessoas transportadas.

O estudo foi publicado no dia 9 de abril na Nature Cities. Os investigadores planejam continuar a analisar os efeitos do trabalho remoto na mobilidade urbana à medida que novos dados se tornem disponíveis e as tendências do emprego ultrapassem os efeitos imediatos da pandemia.

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