Engana-se quem acreditava que o presidente Jair Bolsonaro tinha dado um guinada, uma “queda de asa”, como a gente costuma ouvir no interior de Pernambuco, para se transformar no Jair paz e amor.
Ledo engano. Bolsonaro só baixa o tom do discurso quando ele está acossado. Ou como dizia o boxeador Éder Jofre, três vezes campeão do mundo: “nas cordas, meu amigo, quando você está nas cordas do ringue até o mais astuto dos valentes, pensa duas vezes antes de atacar, para não correr o risco de perder o equilíbrio”.
- Parlamentares criticam fala de Bolsonaro sobre encher jornalista de porrada
- Senador diz que vai denunciar Bolsonaro na OEA por ataque a jornalista; relembre outras ameaças à categoria
- Maia, após Bolsonaro falar em 'porrada': reação desproporcional, não ajuda o País
- Após agressão de Bolsonaro, Maia e Gilmar Mendes defendem liberdade de imprensa
- Doria a Bolsonaro: 'Nem o senhor nem ninguém vai ameaçar a democracia do Brasil'
- Datena responde ataques de Bolsonaro a jornalistas: "Bundão é o senhor"
Quando o presidente estava ameaçado de sofrer impeachment, quando se viu emparedado pelo Judiciário, quando sentiu que as investigações estavam chegando perto do senador Flávio Bolsonaro (Republicanos-RJ) e o fiel escudeiro do filho, Fabrício Queiroz, aí Bolsonaro baixou o tom. Virou, como dizem por aqui, o Jair maracugina. Uma seda.
Bastou o presidente fechar acordo com o “centrão” [ajuntamento de partidos fisiológicos que não dão um bom dia sem exigir algo em troca] aí Bolsonaro voltou a ser o Bolsonaro de sempre.
E pelo andar da carruagem, pelo resultado das pesquisas de opinião, pelo acordo que está fechando para prorrogar o auxílio emergencial e bater recordes de popularidade, não esperem do presidente gestos simpáticos.
Os dois episódios do domingo e na segunda-feira, mostram que Bolsonaro está disposto a jogar para a platéia de seguidores e partir para o ataque, contra a imprensa livre.
Primeiro ameaçou dar uma porrada no jornalista que só queria saber os motivos que levaram Fabrício Queiroz e a mulher Márcia Aguiar a repassarem R$ 89 mil para a primeira-dama Michelle Bolsonaro.
Já ontem, numa solenidade grotesca, a pretexto de comemorar os feitos do governo no enfrentamento da covid-19, Bolsonaro se superou. O presidente disse “Sempre fui atleta das Forças Armadas. Aquela história de atleta, né, que o pessoal da imprensa vai para o deboche, mas quando pega [covid-19] num bundão de vocês, a chance de sobreviver é bem menor”.
Bolsonaro não disse uma palavra de conforto. Uma sequer para os familiares dos 115.309 brasileiros que perderam a vida para o coronavírus.
Esse é o Bolsonaro real. Gostem ou não. Mas é esse que está em campanha pela reeleição. Aquele Bolsonaro calmo, tranquilão, paz e amor é jogada de marketing.
Pense nisso!
Comentários