Esquerda brasileira faz vista grossa para os desmandos sanitários em Cuba
A esquerda brasileira, como diz o ditado popular, vive de ver a banda passar enquanto garimpa um governo autoritário para chamá-lo de seu. Leia a opinião de Romoaldo de Souza
Na capa de um LP (long play), o cantor Chico Buarque aparece com duas caras. A primeira, à esquerda, ele está sorridente. Na segunda imagem Chico está de cara amuada. Amarrada. Essas fotos do disco gravado em 1966 são usadas constantemente nos memes da turma que não chegou a conhecer um disco de vinil.
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Agora, com a revolta tomando as ruas de Havana, em Cuba, a capa do disco de Chico Buarque voltou a ser usada, desta vez para dizer como a esquerda brasileira se comporta diante das notícias nada alvissareiras na ilha de Fidel. A primeira imagem, de Chico Buarque sorrindo tem a legenda: Oba, vem revolução por aí. Em seguida o texto afirma: é em Cuba e Chico fecha a cara.
É nesse cenário que a esquerda, que sempre flertou com a ditadura, vem tratando os protestos dos últimos dias em Cuba. O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) minimizou os protestos dizendo que tudo leva a crer que são apenas passeatas, e jogou a culpa no embargo econômico dos Estados Unidos.
Mas ouvindo especialistas e isentos analistas é possível chegar à conclusão que os protestos de Cuba são por pão, salário, emprego, liberdade, internet e vacina. Em meio à pandemia, o governo cubano rejeitou as ofertas de vacinas do consórcio Covax Facility, coordenado para Organização Mundial de Saúde (OMS). Sabe qual foi a alegação do governo cubano? Que o país já estava desenvolvendo seu próprio imunizante, a Soberana 2 e a Abdala, que estão sendo aplicados sem que os testes estejam concluídos.
Enquanto no Brasil a esquerda cobrou, e com razão, a lentidão do governo Bolsonaro em comprar as vacinas, a mesma esquerda faz vista grossa para os desmandos sanitários em Cuba.
Voltando ao disco de Chico Buarque em que ele aparece com duas caras, uma das músicas do lado A [Sim, antigamente discos tinham lado A e B]. Pois uma dessas músicas é “A Banda”. “Mas para meu desencanto, o que era doce acabou. Tudo tomou seu lugar, depois que a banda passou”. A esquerda brasileira, como diz o ditado popular, vive de ver a banda passar enquanto garimpa um governo autoritário para chamá-lo de seu.
Pense nisso!