Tragédias como a de Petrópolis não são evitadas porque o poder público tem tesoura afiada para cortar verbas
Quase sempre nós nos esquecemos que os orçamentos da União, de estados e municípios estão abarrotados de verbas que deveriam ser usadas na prevenção a desastres
Eu recorro à poesia do cantor e compositor Leonard Cohen [1934 - 2016] para comentar o desastre que se abateu em Petrópolis, na região serrana do Rio de Janeiro. Em “Everybody Knows”, o poeta canadense diz que “Todo mundo sabe que o barco está furado/Todo mundo sabe que o capitão mentiu/Todo mundo tem esse sentimento ruim/Como se seu pai ou seu cão tivesse acabado de morrer”.
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É preciso ser profundamente niilista, não ter sentimento de compaixão e terceirizar para a natureza, os deslizamentos, as enxurradas, a morte de mais de 180 pessoas e milhares de desabrigados.
As cidades brasileiras, em geral, são uma arapuca pronta para emboscar os mais desassistidos. Seja agora em Petrópolis ou em Franco da Rocha (SP), no início do mês. Aliás, é bom recordar que na periferia de São Paulo, o presidente Jair Bolsonaro (PL) esboçou culpar os moradores das áreas de riso. "A visão [da catástrofe] é algo que nos marca. Muitas áreas onde foram construídas residências, faltou obviamente alguma visão de futuro por parte de quem construiu.” Agindo assim, sua excelência é capaz de culpar o dia nublado só porque o galo não cantou na madrugada.
Quase sempre nós nos esquecemos que os orçamentos da União, de estados e municípios estão abarrotados de verbas que deveriam ser usadas na prevenção a desastres, mas sabemos, também, que as tragédias não são evitadas porque o poder público - que faz vista grossa para a construção de cubículos precários - tem a tesoura afiada para contingenciar, para cortar verbas que estavam destinadas a enfrentar essa realidade, da maioria das cidades.
“Todo mundo sabe que os dados estão viciados/Todo mundo caminha com os dedos cruzados/Todo mundo sabe, os bons perderam.”
“Everybody Knows”, como dizia Leonard Cohen.
Pense nisso!