Romoaldo de Souza

Ao faltar posse do TSE, Bolsonaro fez questão de expressar seu desprezo à liturgia do cargo que ocupa

Qualquer cidadão que digitasse o endereço eletrônico do Governo Federal viria que o último compromisso do presidente Jair Bolsonaro foi com o ministro da Cidadania, João Roma, das 17h00 às 17h30. A posse estava marcada para as 19h

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Romoaldo de Souza

Publicado em 23/02/2022 às 8:37
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Corria à boca miúda nos bastidores da política brasileira, que o então ministro da Fazenda, Ernane Galvêas, quando chegava em casa, não atendida mais telefonema de ninguém, nem mesmo do chefe, o general João Figueiredo (1918-1999). Era sabido que Galvêas analisava os números da economia brasileira ouvindo músicas do conterrâneo Roberto Carlos e mantinha sempre o telefone distante da mesinha de trabalho, numa sala perto do refeitório.

Uma noite, o presidente do Banco Central, Affonso Celso Pastore, estava em meio a uma emergência e precisava falar com o ministro. Sem sucesso! Até que Pastores insistiu mais uma vez, quando uma voz infantil disse que o tio mandou avisar que não estava. Ontem, o Palácio do Planalto espalhou lorota semelhante àquela patrocinada por Ernane Galvêas.

Tendo em mãos um convite para a posse do ministro Edson Fachin na Presidência do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) e do ministro Alexandre de Moraes na vice, o Palácio do Planalto saiu-se com essa: “Considerando compromissos preestabelecidos em sua extensa agenda, o senhor Presidente Jair Bolsonaro não poderá participar do referido evento. Assim, agradece a gentileza e envia cumprimentos”, diz o documento do Cerimonial do Planalto. A posse estava marcada para as 19h.

Qualquer cidadão que digitasse o endereço eletrônico do Governo Federal [www.gov.br/planalto] viria que o último compromisso do presidente Jair Bolsonaro foi com o ministro da Cidadania, João Roma, das 17h00 às 17h30. Ou seja, ainda teria tempo suficiente para ir em casa, tomar um banho e esperar o início da sessão de posses no TSE, já que não precisava ir pessoalmente ao tribunal.

Uma vez que queria dar uma desculpa esfarrapada para não acompanhar a posse dos desafetos ministros do TSE, Bolsonaro poderia ter encontrado outro motivo. Mas o presidente fez questão de expressar seu desprezo à liturgia do cargo que ocupa.

Pense nisso!

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