Romoaldo de Souza

Há uma certa coincidência entre os beneficiários do Auxílio Brasil e o quebra-quebra de 8 de janeiro

Leia a coluna Política em Brasília

Romoaldo de Souza
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Romoaldo de Souza
Publicado em 17/02/2023 às 22:12 | Atualizado em 17/02/2023 às 22:24
Marcelo Camargo/Agência Brasil
Manifestantes invadem Congresso, STF e Palácio do Planalto. - FOTO: Marcelo Camargo/Agência Brasil

O psiquiatra suíço Carl Jung (1875 - 1961) passou parte do seu tempo de proveitosos estudos, analisando os fenômenos de fatos coincidentes ou simplesmente as coincidência de quantos eventos acontecem por acaso, com ou sem relevância para os envolvidos. Por exemplo: se você vai à uma festa junina no pátio de eventos Luiz Gonzaga, em Caruaru (PE), certamente boa parte, se não a maioria dos frequentadores, vai estar vestida de camisa xadrez, um bigodinho falso, mulheres de tranças. Não chega a ser coincidência. É uma tradição esse tipo de fantasia nos festejos de São João e São Pedro.

Mas, ainda na linha do raciocínio de Jung, se você embarca em um avião e o passageiro ao lado está lendo “Fernando Pessoa - Uma Quase Autobiografia”, do romancista imortal pernambucano, José Paulo Cavalcanti Filho, o mesmo livro que você selecionou para a viagem, pode cumprimentar o vizinho de poltrona que ambos estão vivendo um fato, um momento de [feliz] coincidência, segundo o raciocínio de Jung.

Um documento do Ministério Público Federal (MPF) concluiu que metade dos manifestantes presos pelos atos de violência contra o patrimônio público e a democracia, em 8 de janeiro, estava na lista de beneficiários do Auxílio Brasil. A outra metade, deduzo por aqui, era de agentes públicos instigando a massa, de militares insatisfeitos com a democracia e alguns aventureiros que tinham em mente jogar gasolina e riscar um fósforo ou acender um isqueiro, só para “ver o circo pegar fogo.”

Com base nos documentos do MPF a Polícia Federal faz um “pente fino” no beneficio social do governo federal e as primeiras conclusões são de que há indícios de fraude em 2 milhões de cadastros do Auxílio Brasil. O mesmo benefício sofreu um aumento de 197% no total de adultos morando sozinhos e que passaram a receber R$ 600 mensalmente, depois de mudanças nos critérios de composição familiar do programa. Isso em 2022, ano eleitoral.

Pode ser apenas uma coincidência o fato de que muitos bolsonaristas que partiram para o tudo ou nada em 8 de janeiro, estavam, também, inscritos no programa? Pode. Mas também é preciso ir além dessa análise e recordar que se um dos critérios para se inscrever no programa é não estar trabalhando formalmente [com carteira assinada], não receber benefícios previdenciários ou outro programa de transferência de renda.

É plausível concluir que boa parte dos manifestantes encontrou três importantes justificativas para estar em Brasília no dia dos acontecidos atos antidemocráticos: eles não tinha o que fazer em casa, foram incitados pelo ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) a pregarem um golpe de Estado, acabaram encontrando quem financiasse a viagem a Brasília e de quebra integraram um animado acampamento que de tudo tinha. Foi a coincidência perfeita.

Está mais do que claro que muitos dos que estavam no acampamento na porta do Quartel-General do Exército, em Brasília, bradavam pelo golpe enquanto mamavam nas tetas do Auxílio Brasil. E isso é mais que coincidência. É tramoia.

 

 

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