Romoaldo de Souza

Governo Lula contabiliza 4 milhões de brasileiros vivendo em áreas de risco de deslizamento de terras

Leia a coluna Política em Brasília

Romoaldo de Souza
Cadastrado por
Romoaldo de Souza
Publicado em 22/02/2023 às 22:04
Divulgação/Ricardo Stuckert
Tarcísio de Freitas (Republicanos), Lula (PT) e o prefeito Felipe Augusto (PSDB) tratam a catástrofe de São Sebastião (SP) como causas naturais - FOTO: Divulgação/Ricardo Stuckert

Em meio à dor de famílias que perderam tudo numa catástrofe como a que se abate por esses dias em São Sebastião, no litoral norte de São Paulo, é comum autoridades do Executivo, seja municipal, estadual ou o presidente da República, chamarem aquele tipo de episódio de catástrofe natural. Mas será que não há um certo eufemismo nessas considerações?

O poeta pernambucano Manuel Bandeira (1886 - 1968) usava, com corriqueira frequência, essa figura de linguagem - o eufemismo - para suavizar seus argumentos quando fazia referência à morte:
“Quando a Indesejada das gentes chegar
(Não sei se dura ou caroável),
talvez eu tenha medo.
Talvez sorria, ou diga:
- Alô, iniludível!
O meu dia foi bom, pode a noite descer.
(A noite com os seus sortilégios.)
Encontrará lavrado o campo, a casa limpa,
A mesa posta,
Com cada coisa em seu lugar.”

Percebemos que a linguagem atenuante, usada pelas autoridades, tem um quê de falso. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), o governador de São Paulo, Tarcisio de Freitas (Republicanos) e o prefeitos de São Sebastião (SP), Felipe Augusto (PSDB) podem até estar em pólos opostos na políticas - e por vezes estarão - mas em um ponto eles têm algo em comum. O resultado das chuvas que deixaram centenas de famílias desabrigadas e 49 vítimas fatais, está sendo tratado como uma catástrofe natural. E não é somente isso.

O governo anterior - de Jair Bolsonaro (PL) - deixou no orçamento da União para o atual governo, míseros R$ 25 mil reais para serem empregados em situações como a que vivem os moradores de São Sebastião. “Nos temos hoje, no Brasil, 14 mil pontos mapeados pelo governo federal, onde moram mais de 4 milhões de pessoas nesses pontos. Então, foi providencial a retomada do [programa] Minha Casa Minha Vida, dos R$ 10 bilhões liberados pelo presidente [Lula] e da orientação dele que propõe priorizar habitações de demandas dirigidas para diminuir as possibilidades de risco de moradia das pessoas,” disse Waldez Góes, ministro da Integração e Desenvolvimento Regional.

Mas a negligência não é exclusividade do Executivo, não. O Poder Legislativo também se fez de sonso e tão pouco quis enfrentar essa situação de falta de recursos. Projeto do deputado Reginaldo Lopes (PT-MG) está sonolente em um das gavetas do presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP-AL). A medida proposta pelo parlamentar mineiro destina 0,5% do Orçamento da União, algo em torno de R$ 25 bilhões, para a criação do Fundo Nacional de Apoio a situações de Desastre, Calamidade e Emergência (Fundec), cujo objetivo seria evitar esse tipo de catástrofe e agir, na hora da emergência. “Agora, é hora de retomar aquele projeto, não somente por causa de São Sebastião, mas também de outras regiões como o meu estado e o sul da Bahia, que dois anos atrás sofreram com as consequências das chuvas e ainda estão se recuperando”, disse Reginaldo Lopes.

Voltando a São Sebastião, há uma inegável agravante que foi a quantidade de chuvas que caíram no litoral norte de São Paulo, 600mm em apenas três dias. É muito, segundo meteorologistas ouvidos pelo Jornal do Commercio, mas naquelas condições sociais, as famílias atingidas pela enchente e os desmoronamentos sofreriam os mesmo devastadores efeitos, ainda que não houvesse tanta intensidade das chuvas. Logo, é preciso, também, que os olhos do poder estejam voltados para enfrentar as desigualdades sociais.

 

 

Comentários

Últimas notícias