Romoaldo de Souza

No Dia Internacional da Mulher, deputado mais votado do país coloca uma peruca na cabeça, faz pronunciamento preconceituoso e poderá ser investigado no Conselho de Ética

Leia a coluna Política em Brasília

Romoaldo de Souza
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Romoaldo de Souza
Publicado em 08/03/2023 às 23:15
TV Câmara dos Deputados
Deputado bolsonarista Nikolas Ferreira usou a tribuna no Dia Internacional da Mulher, para atacar mulheres transgênero - FOTO: TV Câmara dos Deputados

Eu gostaria de compartilhar uma inquietação, até aqui, sem juízo de valor para um fato, uma gaiatice, por assim dizer, cometida no plenário da Câmara dos Deputados. Casa cheia, sessão transmitida no rádio e na TV, em comemoração o Dia Internacional da Mulher. Alguns parlamentares se revezando em seus enfadonhos e previsíveis discursos, outros colocando o dedo na ferida para os constantes desrespeitos às mulheres quando, assim sem mais nem menos, o deputado Nikolas Ferreira (PL-MG) sobe à tribuna usando um terno azul, põe uma peruca loura e se apresenta como "deputada Nikole,” dizendo que o movimento de direitos das mulheres deve priorizar a defesa de que “retomem a feminilidade, casando-se e concebendo filhos”.

"Hoje, o Dia Internacional das mulheres, a esquerda disse que eu não poderia falar porque eu não estava no meu local de fala, então eu solucionei esse problema aqui. Hoje, eu me sinto mulher, deputada Nikole”. Nikolas (26), que chegou ao Parlamento referendado por 1,47 milhão de votos - a maior do país, criticou o feminismo, dizendo que o movimento "exalta mulheres que não fizeram nada pelas mulheres" e que as mulheres, retomem a sua feminilidade, tenham filhos, amem a maternidade. Formem a sua família, porque é dessa forma, vocês colocarão luz no mundo e serão, com certeza, mulheres valorosas”.


O bafafá já esperado, ultrapassou as fronteiras do plenário da Casa, ganhou as redes sociais e pode esbarrar no Conselho de Ética e até no Supremo Tribunal Federal (STF). O Ministério Público Federal (MPF) entrou com uma representação junto à Câmara, pedindo que a Mesa Diretora apure a conduta do deputado. A petição assinada pela procuradora Luciana Loureiro solicitou que sejam apuradas as violações éticas do parlamentar mineiro. Em entrevista à reportagem da Rádio Jornal, a deputada Tábata Amaral (PSB-SP) acusou Nikolas Ferreira de ter sido preconceituoso e de ter cometido crime de transfobia.

“Por mais ridículo que possa parecer, ele fez uma fala transfóbica e cheia de discriminação. É muito importante por um basta nesse tipo de comportamento. É fundamental delimitar que a imunidade parlamentar não significa que o deputado está imune para responder na Justiça, pelos crimes que comete”, disse, Tábata Amaral relembrou “a vocação do Brasil para ser um dos países que mais comete crimes de assassinato contra pessoas trans em todo o mundo. Ou seja, uma fala violenta e cheia de ódio como essa, repercute na ponta, com assassinatos e crimes de ódio”, concluiu.

Nas redes sociais, o presidente da Câmara, deputado Arthur Lira (PP-AL), deixou claro que Nikolas Ferreira ultrapassou todos os limites do bom senso. "O Plenário da Câmara dos Deputados não é palco para exibicionismo e muito menos discursos preconceituosos. Não admitirei o desrespeito contra ninguém. O deputado Nikolas Ferreira merece minha reprimenda pública por sua atitude no dia de hoje”, escreveu.

Uma representação foi assinada por Tábata Amaral e outras parlamentares como Erika Hilton (PSOL-SP) e Duda Salabert (PDT-MG) as primeiras deputadas federais transexuais da história do Brasil. O processo vai primeiro à Mesa Diretora da Casa. Sendo acatada a representação é encaminhada ao Conselho de Ética, sem prazo para ser analisado, mas esse tipo medonho de comportamento precisa ser banido do Parlamento brasileiro, qualquer que seja a decisão da Câmara

 

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