O que leva um presidente que se “vendia” como um vencedor, um desbravador que não temia a nada nem a ninguém, nem ao vírus da Covid-19 que já matou mais perto de 700 mil brasileiros, terceirizar a culpa pela apropriação indevida das joias? Enquanto os “patriotas” estavam acompanhados em Brasília, na porta do QG do Exército, com a conivência das autoridades militares, debaixo de tempestades típicas de fim de ano, o presidente tramava um jeito de botar a mão em um colar no valor de R$ 16,5 milhões. Bolsonaro fugiu do país, alegando que não queria ficar para não ter de passar a faixa ao seus sucessor, foi ovacionado por seus seguidores. Mas que nada, ele urdia a fuga enquanto jogava ao mar o seu ministro de Minas e Energia, o almirante Bento Albuquerque.
Agora, três frentes de investigações se abrem para apurar quem sabia e quem estava sendo enganado, nessa novela das joias. O Tribunal de Contas da União (TCU), a Polícia Federal e o Senado Federal. No TCU, o ministro bolsonarista, Augusto Nardes, determinou que o ex-presidente Bolsonaro “preserve intacto, na qualidade de fiel depositário, até ulterior deliberação desta Corte de Contas, abstendo-se de usar, dispor ou alienar, todo o acerto de joias objeto do processo em exame”. Ou seja, as joias foram um presente do governo da Arábia Saudita ao governo do Brasil, e não a Bolsonaro.
Na Polícia Federal as investigações estão bastante avançadas, com o depoimentos do ajudante de ordens, tenente coronel Cid, que foi quem mandou um auxiliar buscar as joias apreendidas no aeroporto de Guarulhos (SP). O ex-ministro Bento Albuquerque também já falou aos policiais sobre sua motivação de ver as joias sendo retiradas da alfândega, mesmo sabendo ele da ilegalidade. Ainda não foram marcados os depoimentos do ex-presidente Jair Bolsonaro e da ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro
Já no Senado Federal, o recém eleito presidente da Comissão de Transparência e Fiscalização, senador Omar Aziz (PSD-AM), disse que não vê a hora “de botar tudo isso em pratos limpos”. “Eu, sinceramente, nunca tinha visto ninguém dar R$ 16 milhões de presente para uma primeira-dama. Isso é a versão do Bento Albuquerque, que será investigada”, promete.
O que Aziz, a PF e o TCU vão priorizar é por que esse valioso colocar fugiu à regra, uma vez que normalmente, o que se passa, quando mimos são doados às autoridades, é que elas posam para as fotos e logo em seguida, o presente vai para o Itamaraty. Lá, a diplomacia cuida da parte legal para transporte dos presentes e o Cerimonial do Planalto faz a catalogação e guarda as pessoas. Bolsonaro, que de bobo não tem nada, deduziu que o presente era para a mulher dele. Como ela estava ausente, ele achou por bem tentar botar a mão no colar. Só que ele não queria deixar suas digitais na trama. Terceirizou ao almirante Bento Albuquerque. Resta saber se o marinheiro vai assumir a culpa sozinho ou se vai “abrir o bico” no momento oportuno.
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