Romoaldo de Souza

Prefeitos se encantam com Lula, mas desconfiam do seu ministro da Fazenda

Lei a coluna Política em Brasília

Romoaldo de Souza
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Romoaldo de Souza
Publicado em 14/03/2023 às 23:41
Lula Marques/Agência Brasil
Ministro da Fazenda, Fernando Haddad durante reunião na Frente Nacional de Prefeitos. Reforma Tributária causou polêmica - FOTO: Lula Marques/Agência Brasil

Lá se foi o tempo em que a máxima era ouvir que índio gosta de espelho ou de apito. Como na marchinha de Carnaval de Haroldo Lobo e Milton de Oliveira. “Índio quer apito. Se não der, pau vai comer!” Hoje eles são indígenas - originários, aqueles que estão ali antes dos outros, muitos já tiveram acesso à tecnologia criada por Steve Jobs (1955 - 2011) e estão em busca da demarcação de suas terras.


Com prefeitos se passa o mesmo. Eles deram um salto significativo e não estão vindo mais a Brasília “de pires na mão”. “Quem vive de promessa é santo”, diz o prefeito do Paulista, Ives Ribeiro (MDB), todo entusiasmado depois de uma foto com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). “Ele foi objetivo. Não enrolou. Nós estamos há mais de cinco anos com a merenda escolar congelada, [Lula] vai aumentar o valor do desembolso do SUS (Sistema Único de Saúde), e o mais importante é que dentro da reforma tributária vai haver a participação dos municípios, coisa que no passado era impossível. A gente só sabia da notícia”, comemora e prefeito paulistense.


O “encantamento” de Ives com Lula foi a tônica da reunião do presidente com dezenas de prefeitos de grandes cidades, incluindo os sete municípios pernambucanos presentes no encontro da Frente Nacional de Prefeitos (FNP) (Recife, Igarassu, Paulista, Caruaru, Serra Talhada, Ipojuca e Petrolina).


“Aprendi a ser político, a gostar de política. Eu prefiro um político competente do que um técnico. Porque o político entende um pouco de tudo e o técnico não sabe de nada”, afirmou o presidente, para completar: “o técnico tem que ter um chefe e esse chefe chama-se político, que tem competência para saber orientar. E é por isso que eu tenho orgulho de dizer para você que eu não nego nunca que eu gosto de política”, analisou. Foi ovacionado.


Em entrevista à reportagem do Jornal do Commercio, o presidente da FNP, Edivaldo Nogueira (PDT), prefeito de Aracaju (SE), disse que o encontro com o presidente Lula, “ajudou a resgatar um tempo perdido. O país perdeu muito tempo com uma conversa que não leva a nada. Aliás, levou sim. Hoje nós (os políticos) passamos por um processo de descrédito porque alguns se apoderaram de valores que construímos, para tirarem proveito próprio”, afirmou.


Ao final da reunião, ouviu-se um certo “Ufa!” É que havia um zun-zun-zum de que Lula seria vaiado. Não foi. Nem quando alfinetou o ex-presidente Bolsonaro. “Se uma vez nós tivemos um presidente que dizia ‘ah, eu não gosto de ser presidente, eu não de deveria estar aqui’, eu quero dizer para vocês: eu gosto de ser presidente e gosto de estar lá para provar que é possível a gente fazer as coisas que têm que fazer”.


Mas se com Lula houve uma certa condescendência de prefeitos, com o ministro da Fazenda a situação foi mais tensa. Fernando Haddad saiu em defesa do IVA (Imposto sobre Valor Agregado) e se perdeu ao tentar convencer os prefeitos de que essa alternativa seria o melhor caminho para os municípios. “O IVA não vai diminuir a arrecadação dos municípios”, prometeu sem muito convencimento.

“O ministro vem com essa conversa, quando a gente sabe que o governo federal cria contribuições e não reparte essas contribuições com estados e municípios. Para nós fica só o bônus”, afirmou o prefeito de Belém (PA), Edmilson Rodrigues (Psol).


Se Lula passou bem no primeiro teste, dificilmente irá ao encontro dos municípios. De 27 a 30 de março ocorre a Marcha dos Prefeitos. O presidente sabe que em um universo de milhares de prefeitos é mais difícil ser convincente e o ambiente é mais hostil. Melhor não ir.

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