Romoaldo de Souza

No acampamento bolsonarista teve de tudo, até a chegada de um manifestante que veio de disco voador

Leia a coluna Política em Brasília

Romoaldo de Souza
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Romoaldo de Souza
Publicado em 16/03/2023 às 22:19
Marcelo Camargo/Agência Brasil
Manifestantes invadem Congresso, STF e Palácio do Planalto - FOTO: Marcelo Camargo/Agência Brasil

Apagão na Polícia Militar do Distrito Federal, “ET da Democracia”, “máfia do Pix”, Bandeira do Brasil com mais estrelas do que o oficial, enfim, em que universo paralelo viviam os manifestantes bolsonaristas acampados na porta do Quartel General do Exército? No mundo da Lua, certamente! “Lua bonita, me faz aborrecimento, ver São Jorge no jumento, pisando no teu clarão. Pra que cassaste com um homem tão sisudo, que come dorme faz tudo, dentro do seu coração? (Zé do Norte - Zé Martins)

Quem tiver tempo de se debruçar nos relatos oficiais, sejam no Tribunal de Contas da União (TCU), na Polícia Federal ou acompanhando a distância, os depoimentos na CPI do 8 de Janeiro, na Câmara Legislativa do Distrito Federal, é de morrer de rir, com os absurdos que vai ler e ouvir.

Quando desembarcou da Land Rover preta, blindada, na porta do Palácio do Buriti, na manhã desta quinta-feira, o governador do Distrito Federal, Ibaneis Rocha (MDB), não conteve as lágrimas. Ele tinha passado “longos e meditativos” 66 dias afastado do comando da Capital Federal por decisão do ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF). “Foram dias muito difíceis, mas esse afastamento que tivemos [percebam o plural majestoso], ao longo desse período, foi necessário. A invasão dos prédios do Congresso, do STF e Palácio do Planalto foram significativos para a história desse país”, disse ao reassumir o governo do Distrito Federal. Questionado onde estavam as autoridades policiais nas manifestações de 8 de janeiro, Ibaneis foi taxativo. “Houve um ‘apagão’” no comando militar. “Esse apagão certamente não foi de graça, alguma coisa aconteceu para que esse apagão ocorresse. Houve apagão na Polícia Militar do Distrito Federal, no Palácio do Planalto que tem um batalhão do Exército para defender que não estava lá presente, houve apagão em várias áreas da segurança do DF” afirmou.

Enquanto Ibaneis reassumia o GDF, no extremo-oeste da praça do Buriti, o coronel Jorge Eduardo Naime, ex-comandante de Operações da Polícia Militar do Distrito Federal (PMDF), afirmava que no acampamento instalado à frente do QG do Exército “tinha de tudo que se possa imaginar”. O mais contundente depoimento na CPI apontou a existência de uma “máfia do Pix.” “Mas também recebemos denúncias que ainda estão sendo apuradas de tráfico de drogas, prostituição, comércio ilegal”. Segundo o oficial, a PM tinha recebido informações “sobre o comércio de tendas, em que a pessoa alugava até por R$ 600 para o ambulante vender ali. Tínhamos conhecimento da ‘máfia do Pix’, de lideranças que ficavam ali. Não temos nomes, mas elas ficavam no acampamento pedindo para que as pessoas fizessem Pix para manter o acampamento”, contou.

O coronel Jaime relatou à CPI que esteve várias vezes no acampamento que ele chamou de “epicentro do que aconteceu tanto no dia 12 de dezembro [data da diplomação do presidente eleito, Luiz Inácio Lula da Silva (PT), quando houve quebra-quebra, no centro de Brasília], como em 8 de janeiro deste ano. Eles viviam em uma bolha, não viam o que estava acontecendo fora dali. Parecia uma seita” afirmou.

Além desses relatos, o coronel jura ter ouvido de um manifestante que havia chegado ao acampamento, tendo sido transportado por um disco voador. “Teve uma pessoa que me abordou um dia e falou para mim que era um extraterrestre, que estava ali infiltrado e, assim que o Exército tomasse, os extraterrestres iam ajudar a tomar o poder." Distante de Brasília, 240km, a cidade de Alto Paraíso (GO) é um dos mais destacados centros esotéricos, e por lá, muita gente afirma já ter visto, ao menos uma vez, a aterrissagem de disco voador. Ou seja, mais lunático, impossível.

No mesmo acampamento, ainda segundo relatos dos depoimentos, aparece a releitura da Bandeira do Brasil, um dos símbolos da República, data de 19 de novembro de 1899. Um detalhe importante, na sua apresentação, tem a ver com o que se passou no “acampamento dos lunáticos”. Segundo o decreto de criação do símbolo republicano, as estrelas representam cada uma das unidades da Federação, e sua disposição foi desenhada a partir da visão do céu da cidade do Rio de Janeiro, então capital do país, na noite daquele 19 de novembro. “A única estrela a figurar acima do lema Ordem e Progresso representa o estado do Pará. Isso por que em 1889, o Pará era o estado com cuja capital estava mais ao norte do país”, acima da Linha do Equador.

Pois uma das bandeiras hasteadas em um trailer que servia cachorro quente “hot-dog-bad”, algo como cachorro doido e quente, segundo a propaganda, continha 33 estrelas “para representar a idade de Cristo”, contou uma manifestante que insistia em defender que “acima do nosso lema” teria de ter três, em vez de uma estrela. “Quando tomarmos o poder vamos anexar uns territórios ali de cima”, argumentava.

O coronel Naime Barreto foi preso em fevereiro, por determinação do STF, suspeita de omissão antes e durante as invasões às sedes dos Três Poderes. Relatório assinado pelo interventor da Segurança Pública, Ricardo Cappelli, indica que coronel retardou propositalmente a linha de contenção da PM. “Vi com meus próprios olhos" os comandados por Naime Barreto avançando lentamente contra os golpistas.”

Um dia, possivelmente, em breve, o Brasil será estudado pela Nasa (agência espacial americana), a ONU (Organização das Nações Unidas) ou pela Associação dos Observadores de Disco-Voador de Alta Paraíso. É muita “viagem”.

 

 

 

 

 

 

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