
A história do Congresso Nacional está repleta de políticos que já enfrentaram ao menos um aperreio em suas viagens pelo interior do país. Uma delas foi contada pelo senador José Maranhão (MDB-PB) que numa tarde de abril de 2018, enquanto sobrevoava o rio São Francisco, na divisa de Petrolina (PE) e Juazeiro (BA), quando, de repente, a hélice esquerda parou de funcionar. Maranhão, exímio piloto, jogou toda a carga para o motor direito a tempo de retornar ao aeroporto Nilo Coelho. No dia seguinte, retomou sua viagem a Brasília. “Naquela hora, eu estava observando as belezas do Velho Chico, quando o motor esquerdo, como a gente diz na aviação, estava “embandeirado”, estava parado. Felizmente aterrissei a tempo em Petrolina”, contou.
Outra, me foi contada pelo jornalista Vagner Caldeira, então diretor de Comunicação do Senado Federal. Corajoso, como todo bom corintiano, Caldeira passou os anos de 2001 a 2003 colado com o presidente do Congresso Nacional. “Para aonde ele ia, eu estava ao lado”.
O senador Ramez Tebet (1936 - 2006) tinha assumido a Presidência do Senado e foi fazer uma viagem oficial em Cuiabá (MT). Chegando no Aeroporto Militar de Brasília, embarcaram Tebet, o senador Jonas Pinheiro, Caldeira, o piloto, o copiloto e um ajudante de ordens militar. Seguiram rumo à capital de Mato Grosso.
“Lá pelas tantas, Ramez Tebet, que dormiu a viagem toda, vira pra mim e diz: ‘Nossa, como Cuiabá está grande. Faz uns 20 minutos que nós estamos sobrevoando a cidade e nada de chegar ao aeroporto!’” contou Caldeira. Inquieto, o senador chama o ajudante de ordens e quis saber o motivo da demora em aterrissar na calorenta Cuiabá.
“Parece que o trem de pouso não abriu, senador. Estamos gastando combustível para o caso de termos que fazer um pouso de emergência, e estamos tentando descobrir o problema”, disse o ajudante de ordens. Todas as instruções de segurança foram dadas pelo copiloto da Força Aérea Brasileira (FAB). “Nós sabemos que o trem de pouso da frente abriu, mas ele parece não estar travado. Então eles encheram a pista de espuma, para segurar o avião. Nós vamos pousar e tentar manter o bico levantado o máximo possível, porque se o trem dianteiro não tiver baixado nós vamos bater com força no chão e há o risco de a fuselagem partir. Quando a gente tocar o chão, vai ter muita fumaça e cheiro de queimado, mas não se preocupem porque é o cheiro da espuma que vai nos segurar. Quando a gente baixar a frente, se o trem de pouso estiver travado, nós paramos, eu abro aqui na frente e vocês descem rapidinho. Deixem tudo no avião porque os bombeiros vão jogar água pra esfriar o avião”, informou.
Naquele momento, Ramez Tebet pega o celular e diz, inquieto: “Eu vou ligar lá em casa, dar um tchau pro pessoal,” disse. “Presidente, olha só a minha situação. Amanhã vai sair no jornal: ‘no avião estavam o senador Jonas Pinheiro, o presidente do Senado, Ramez Tebet, e um assessor’. Não sai nem meu nome no jornal!” brincou Caldeira. “Você ainda brinca numa situação dessas?” ralhou Ramez (ele era meio ranzinza mesmo). O Lear Jet foi descendo, tocou o chão com as duas rodas, “um cheiro de queimado no ar, uma fumaceira subindo, caminhões de bombeiro, ambulâncias, guinchos, parecia filme. Eu estava relativamente tranquilo”, contou Caldeira. Em seguida o trem de pouso dianteiro toca o chão, tudo normal.
Ramez Tebet e comitiva seguiram para o compromisso. O presidente do Senado começa o discurso e, ao final, pede desculpas pelo atraso, narra o episódio do avião da Força Aérea, a perícia do piloto e diz: “No avião estavam o senador Jonas Pinheiro, eu e o meu assessor, o diretor de Comunicação do Senado, Vagner Caldeira. Desce da tribuna, olha pra mim: ‘Viu só? Falei seu nome, pra sair no jornal amanhã’”
O pai da ministra do Planejamento, Simone Tebet, era ranzinza, como conta Vagner Caldeira, mas quando tirava um tempinho para contar casos do Pantanal. O tempo fugia do controle.
Comentários