Fim de semana na Praia de Serrambi, no Litoral Sul de Pernambuco. Duas adolescentes de classe média alta caminham sozinhas à beira-mar. Horas mais tarde, amigos sentem a falta delas na casa de veraneio. Começam as buscas. Dez dias depois, os corpos das garotas são encontrados em avançado estado de decomposição. No terceiro dia da série de reportagens "Investigações sob suspeita", relembre um dos crimes mais emblemáticos do Estado e que, mesmo após 13 anos, e a Justiça ainda não foi feita.
Adolescentes de classe média alta foram encontradas mortas em 2003. Após 13 anos, Caso Serrambi continua cercado de dúvidas. Foto: Arquivo Pessoal
Três de maio de 2003. Após dez dias de buscas, o empresário José Vieira encontra restos mortais aparentemente de duas adolescentes em um canavial em Camela, no distrito de Ipojuca. Era o fim do mistério do desaparecimento da filha, Tarsila Gusmão, e da amiga dela, Maria Eduarda Dourado. Ao mesmo tempo, começaria outro mistério: quem assassinou as duas garotas de 16 anos? Esta resposta, porém, põe a sociedade dividida há mais de uma década. O
Caso Serrambi, como ficou conhecido, permanece sem desfecho.
Por três vezes o inquérito policial que investigou o duplo homicídio foi devolvido. A queda de braço entre Polícia Civil de Pernambuco e Ministério Público foi tamanha que abalou a Secretaria de Defesa Social. Boatos e provas se misturavam a todo momento. O então promotor de Ipojuca, Miguel Sales (falecido em 2014), não concordava com os resultados apresentados pela Polícia Civil.
Desconfianças sobre os rumos das investigações levaram o caso até a ser federalizado. Enquanto a Polícia Civil apontava os irmãos kombeiros Marcelo e Valfrido Lira como os responsáveis pelos assassinatos, divergências na apuração do caso colocavam as provas em xeque.
Mesmo após a Polícia Federal assumir as investigações do Caso Serrambi e concluir que os kombeiros eram os culpados pelas mortes, a sociedade pernambucana continuou dividida. Uma verdadeira briga de classes, definiam quem acompanhou o caso à época.
O julgamento de Marcelo e Valfrido Lira aconteceu em setembro de 2010. Foram cinco dias de júri popular. No final, a sentença foi favorável à absolvição dos réus. Apesar disso, eles continuam sob a expectativa de o caso ser encerrado. Seis anos depois, recursos impetrados por familiares das vítimas ainda estão sob análise. E o desfecho, ao que parece, ainda está distante.
Irmãos kombeiros sempre negaram participação no Caso Serrambi. Eles foram absolvidos em 2010. Foto: JC Imagem/Arquivo
Recursos
No final do ano passado, o Superior Tribunal de Justiça (STJ) começou a analisar o pedido de anulação do júri que absolveu os kombeiros. O ministro Reynaldo Soares da Fonseca foi escolhido como relator do processo, mas ainda não há um prazo definido para o julgamento dele. O recurso especial foi impetrado a pedido da família de Tarsila.
O advogado Bruno Lacerda, responsável pelo pedido de anulação feita ao STJ, argumentou que o júri precisa ser anulado porque, entre outros pontos, uma das juradas supostamente comemorou o resultado da absolvição dos kombeiros. Para ele, essa é uma prova da parcialidade dos jurados responsáveis pela decisão do júri popular do Caso Serrambi.
No pedido de anulação, Lacerda ainda destaca que um advogado que havia atuado na condição de assistente de acusação, passou a ser defensor dos réus.
No iníciode 2015, a 1ª Câmara Criminal do Tribunal de Justiça de Pernambuco (TJPE) analisou pedido da defesa da família das vítimas e decidiu por unanimidade não anular o julgamento, por isso os advogados da família de Tarsila decidiram apelar ao STJ.
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